2012-02-23

YEMANJÁ, A MÃE DOS ORIXÁS








Sem sombra de dúvida, Yemanjá é o orixá mais popular no Brasil e talvez isso valha também para outros países costeiros, ou a beira mar, como Cuba, onde esta é considerada a rainha da ilha pelos santeiros.

Como outros ancestrais nagôs, o culto a tal orixá realizado na cidade de Abeokutá e no rio Ogun sofreu um processo significativo de reinterpretação simbólica no Novo Mundo.

O exemplo mais ilustrativo disso, é a perda de características guerreiras em detrimento da exacerbação de elementos como virgindade, pureza e docilidade, ideais por excelência da figura da Virgem Maria que desde cedo recebeu atributos das deusas africanas, a exemplo de Isis, de quem herdou o título de Mater Dei e de outras deusas gregas e romanas.

Diferente da ideia de humildade e submissão, características esperadas das mulheres pelos gregos como a terra que sustenta o céu, Yemanjá está no começo da criação do Mundo.

Acredita-se que ela forma um par criativo com Oxalá. Isso explica a sua profunda relação com o elemento água, cheio de significados na maioria das civilizações.

Por exemplo, algumas mulheres indígenas do litoral se lavavam na praia, pois acreditavam que a espuma do mar as tornava férteis.

Yemanjá é o princípio criativo da fertilidade. Ela está na terra, nos grãos, nos rios, nos mares, em todas as mulheres e em todos os seus filhos, que coparticipam desse poder graças à força conferida pelas Grandes Mães.

As representações desse Orixá, que desde cedo foi associado às sereias, ao longo da história recebeu elementos que lhe afastam da representação africana.

Em algumas dessas, para se falar da noção de beleza, se fez uso de características não negras.

Desta maneira, a representação da mulher com seios volumosos e formas arredondadas cedeu lugar para a imagem de uma mulher branca, cabelos lisos e corpo magro e esguio.

Não estamos com isso contestando a capacidade de o devoto fazer a sua experiência religiosa nessas representações, mas chamando a atenção para o fato de que as imagens do sagrado vinculam visões de mundo e expressam valores da sociedade que lhe está produzindo o tempo todo. O problema está quando não nos damos conta disso.

Sobre isso, as mulheres do movimento negro iniciaram já há alguns anos uma crítica e tem se avançado muito.

E a sereia? Sempre disse que é o contrário do princípio da Grande Mãe, por tratar-se de seres que carregam a “maldição” de não poderem ter filhos, o contrário de Yemanjá, mãe dos Orixás, a menos daqueles ligados à dinastia de Oyó, como Ogun, Odé, Xangô e Oxun.

Da sereia grega, o símbolo que estabelece melhor diálogo com Yemanjá é a imagem do peixe que como o pássaro, o leque e as águas são considerados “princípios femininos” que não podem ser compreendidos em contraposição a outros.

Dessa maneira, o atributo por excelência da Grande Mãe é a guerra. Segundo um de seus mitos, ela teria ensinado Ogun a forjar as “pencas”, depois transformadas nos famosos balangandãs que, mais do que enfeites, cumprem funções de proteção; depois a espada para defender o seu reino.

Outra história conta como Yemanjá venceu alguns inimigos que marchavam em direção ao seu reino. Ela teria se enfeitado e levantado o seu leque que, em contato com o sol, multiplicou o seu exército.

Sobre a origem dos presentes oferecidos às águas, já explicamos no texto sobre as oferendas. Trata-se de uma prática antiga que pode ser encontrada em várias civilizações.

A sua origem está na concepção do valor da troca de presentes com os ancestrais verdadeiros responsáveis pela manutenção das comunidades.

Nos últimos anos grupos ambientalistas têm aberto a discussão sobre o nível de poluição representado pelos presentes a base de produtos não degradáveis, como plásticos, vidros e outros.

Claro que o povo de Candomblé não pode ser responsabilizado pela poluição dos mares, talvez isso valha para as indústrias e empreendimentos imobiliários que poluem as águas todos os dias a toda hora.

Temos, todavia, que estarmos atentos àquilo que oferecemos. Afinal, nossos antepassados não conheceram alguns presentes que hoje teimamos em colocar nas águas, e se tivessem conhecido, sem sombra de dúvida não colocariam, pois sabiam que o maior presente são os grãos, as flores e a nossa vida.

Nos terreiros de tradição nagô, diz-se que ela cuida de nossas cabeças e de tudo que se relaciona ao equilíbrio. Nas tradições angola-congo, este princípio é evocado com o nome de Kaia, mas há também tradições que o chamam de Aziri Tobossi, como a jeje.

Mais do que a designação, cada comunidade possui estórias próprias para falar desse ancestral da fertilidade que não pode ser encerrado na concepção da maternidade, afinal, há várias maneiras de conceber.

Vale mesmo não se afastar da ideia de que cada ser vivo que nasce é um ancestral que se faz presente através da constituição de longas famílias. Assim, Yemanjá, Kaya, Aziri Tobossi e mesmo Yara estão em tudo.

Talvez no início tal princípio tenha sido associado às águas graças à importância que estas cumpriam nas civilizações responsáveis por tal representação.

O principio de fertilidade está, na verdade, em tudo.

Ele garante o equilíbrio das coisas, as mantendo entrelaçadas como escamas, nos fazendo peixes filhos de uma mãe cujo filhos são peixes. Ye/ Omo/ Ejá.

texto de VILSON CAETANO DE SOUSA JUNIOR






YEMANJÁ – AFINAL QUE O DIA DELA CHEGOU





Foto de LUNAÉ PARRACHO |
 Agência A Tarde - 2.2.2010


Veja esta galeria de fotos arrasadoras, extraídas do site do jornal A Tarde (www.atarde.com.br), de autoria do fantástico repórter fotográfico LUNAÉ PARRACHO, da Agência A Tarde. Lunaé saiu em campo às 4 da manhã de hoje para fazer esta reportagem na Praia da Paciência, bairro do Rio Vermelho, em Salvador, no dia consagrado a Yemanjá, Dois de Fevereiro:





A mesma moça da primeira foto no momento anterior ao lançamento da oferenda. Foto de LUNAÉ PARRACHO | Agência A Tarde - 2.2.2010





Ao amanhecer, barco leva passageiro com seus presentes para a Rainha do Mar. Foto de LUNAÉ PARRACHO | Agência A Tarde - 2.2.2010








Fotos de LUNAÉ PARRACHO |
 Agência A Tarde - 2.2.2010



Foto de LUNAÉ PARRACHO |

 Agência A Tarde - 2.2.2010



Foto de LUNAÉ PARRACHO |
 Agência A Tarde - 2.2.2010


Publicado em Baianidade, Jeito baiano de ser




Ilustração de SIMANCA


FESTA PARA A RAINHA DO MAR


Hoje, todos os caminhos na capital da Bahia levam até Iemanjá, chamada de “a mãe cujos filhos são peixes” e também conhecida como aquela que fez brotar dos seus seios generosos as outras divindades.


Iemanjá costuma sempre ser muito festejada por seus devotos e filhos. É saudada como generosa e protetora, características próprias da maternidade que é uma das suas referências mais conhecidas.


Curioso que é a única das divindades das religiões de matrizes africanas que ganhou uma festa própria sem nenhum tipo de associação com santos católicos.


A festa nasceu de uma devoção dos pescadores da colônia de pesca Z-1, localizada no Rio Vermelho e resiste ano após anos. Se o primeiro presente foi levado numa caixa de sapato, o de agora segue em um barco, acompanhado por uma procissão de outras embarcações.


O agradecimento e pedidos de um grupo de pescadores, portanto, acabou se transformando em apelos coletivos. E Iemanjá parece ouvir e atender, afinal, ano após anos, são mais e mais balaios para receber os presentes dos outros devotos que enfrentam filas quilômetricas para colocar seu agrado desde as primeiras horas da manhã.


E a festa não começa ali. No ínício da madrugada, a zelosa Mãe Aíce, que orienta todo o ritual religioso, vai até o Dique do Tororó levar a oferta de Oxum, senhora das águas doces, que não pode e realmente não fica esquecida.


O ritual às margens do Dique é tranquilo, emocionante e completamente silencioso. O por quê? Como várias coisas em candomblé, a resposta é para quem está autorizado e precisa escutá-la. Aos demais fica a lição que se observa e entende aquilo que está ao seu alcance.


Após o agrado a Oxum é hora de levar a oferenda principal para o Rio Vermelho, que fica guardada na chamada Casa do Peso até o meio da tarde quando parte até o local onde deve ser depositado como agradecimento e prece para que o ano seja farto.


E os pescadores, ano após ano, mostram que estão satisfeitos com a sua rainha e a proteção que ela oferece a quem vive parte significativa da vida em seus domínios.


Missão religiosa cumprida, é hora de aproveitar as várias festividades no entorno da praia que não tem o nome específico, mas é conhecida como “aquela do presente de Iemanjá”. As feijoadas são as concentrações mais procuradas.


Tem desde as oferecidas na simplicidade das barraquinhas até as servidas nos hotéis luxuosos do Rio Vermelho, sem falar nas chamadas “festas de camisa”, aquelas em que precisa adquirir este tipo de vestimenta para participar.


Com sua leveza e zelando pelo equilíbrio, afinal é a protetora da cabeça, Iemanjá do povo ketu, Mamento Dadá, Dandalunda ou Kayala, divindades com características semelhantes nas nações da família bantu, ganhou na Bahia o domínio das águas salgadas.


Portanto, como majestade que é, recebe honrarias especiais dos seus súditos e filhos. Axé!


texto de CLEIDIANA RAMOS
(extraído do blog Mundo Afro)


Publicado em Baianidade
PRA SALVAR YEMANJÁ – BAIANICES




Casa de Yemanjá, no Rio Vermelho, Salvador (BA).
 Foto de IRACEMA CHEQUER | Agência A Tarde 
- 1.2.2010. Seleção de fotos deste post 
por CRISTIANO PARAGUASSU


É dois de fevereiro


Dia de festa no mar


texto de zedejesusbarreto


Escreveu, musicou e cantou o mestre Dorival Caymmi, amado e amante dos mistérios femininos do mar da Bahia (os franceses chamam de La Mer, já que o mar é fêmea):


(Vídeo do YouTube produzido especialmente para o blog SALVADOR NA SOLA DO PÉ – http://salvadornasoladope.blogspot.com/)


Dia Dois de Fevereiro


Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
pra salvar Yemanjá
Escrevi um bilhete pra ela
pedindo pra ela me ajudá
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar
O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas, vingou.
Chegou! Chegou! Chegou!
Afinal que o dia dela chegou.




Presentes para Yemanjá 
depositados no Barracão 
ao lado da Casa do Peso, 
no Rio Vermelho.
Foto de FERNANDO AMORIM
 Agência A Tarde - 2.2.2009


Contam os mais velhos que a festa do dia 2 de fevereiro, nos mares da Bahia, teve origem na segunda década do século passado, após um período de pouco peixe nas águas e nas linhas e redes de pesca dos homens do mar.


Daí, pescadores da Colônia do Rio Vermelho, ligados ao culto afrobaiano fizeram promessas à Deusa das Águas, bateram atabaques, dançaram, cantaram e arriaram presentes no mar pedindo proteção e fartura.


Dali em diante, a pesca foi farta e a festa virou tradição, com o povo em romaria fazendo seus pedidos, agradecendo e deixando seus presentes nos balaios para que os pescadores levassem ao alto mar, em homenagem a ela, Iemanjá, Janaína, Princesa de Aiocá…


A Rainha do Mar de tantos nomes cultuada em várias partes do planeta desde as antiguidades.


Minha Sereia, Rainha do Mar


Pierre Fatumbi Verger, em seu livro ‘Orixás’, necessária abordagem sobre a religiosidade afrobaiana, ensina que o nome Yemanjá deriva de Yèyé omo ejá (‘Mãe cujos filhos são peixes’), orixá ou divindade dos Egbá, uma nação de língua iorubá que viveu na região entre Ifé e Ibadan onde fica o rio Yemoja – África sub-saariana, atual Nigéria.


Mas, no início do século XIX, as constantes guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá, cidade onde há um templo dedicado a Iemanjá, divindade cultuada no Brasil e em Cuba.


‘Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, de azul claro’.


Manifestada em suas iaôs, Iemanjá dança imitando as ondas do mar e é saudada aos gritos de ‘Odò Iyá!’. No Brasil é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição.







Integrantes do afoxé Filhos de Gandhy 
levam os presentes para os barcos. 
Foto de FERNANDO AMORIM |
 Agência A Tarde - 2.2.2009


Festa de Pescador


Sobre a festa popular do Rio Vermelho, Pierre Verger a fotografou nos anos 1950 e também a descreveu, assim:


‘A festa do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano, atraindo à praia do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de admiradores da Mãe das Águas.


Iemanjá é frequentemente representada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. Chamam-na, também, Dona Janaína ou, mesmo, Princesa ou Rainha do Mar.


Neste dia, longas filas se formam diante da porta da pequena casa construída sobre um promontório, dominando a praia, no local onde, nos outros dias do ano, os pescadores vêm pesar os peixes apanhados durante o dia.


Uma cesta imensa (balaio) foi instalada de manhã, logo cedo, e começa então um longo desfile de pessoas de todas as origens e de todos os meios socais, trazendo ramos de flores frescas ou artificiais, pratos de comida feitas com capricho, frascos de perfumes, sabonetes embrulhados em papel transparente, bonecas, cortes de tecidos e outros presentes agradáveis a uma mulher bonita e vaidosa.


Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro, assim como colares e pulseiras.


Tudo é arrumado dentro da cesta, até que, no final da tarde, ela está totalmente cheia com as oferendas, as flores colocadas por cima.


O presente para Iemanjá, transformado numa imensa corbelha florida, é retirado com esforço da pequena casa e levado, em alegre procissão, até a praia, onde é colocado num saveiro.


O entusiasmo da multidão chega ao seu máximo; não se escutam senão gritos alegres, saudações a Iemanjá e votos de prosperidade futura.


Uma parte da assistência embarca a bordo dos saveiros, barcos e lanchas a motor. A flotilha dirige-se para o alto-mar, onde as cestas são depositadas sobre as ondas.


Segundo a tradição, para que as oferendas sejam aceitas, elas devem mergulhar até o fundo, sinal de aprovação de Iemanjá. Se elas boiarem e forem devolvidas à praia, é sinal de recusa, para grande tristeza e decepção dos admiradores da divindade’


*
A tradição popular baiana, com todas as manifestações de fé, continuam preservadas, a despeito dos interesses turísticos e das velozes transformações desses tempos digitais.


Muitos terreiros de candomblé fazem alvorada de fogos, cumprem rituais, arriam oferendas para Oxum nas águas doces e, depois, os adeptos vão às praias em romaria para entregar seus presentes e pedidos a entidade que habita as águas do mar.


Na colônia de pescadores do Rio Vermelho os atabaques batem desde o amanhecer. São entoados cantos em iorubá, banto e ijexá, os iniciados dançam e alguns incorporam o Orixá.


Nesse dia de verão, Salvador praticamente para. A multidão, cada ano maior, faz festança nas ruas do bairro repletas de barracas, varando a madrugada.


É festa de rua da Bahia.





Foto de FERNANDO AMORIM |
 Agência A Tarde - 2.2.2009


Re-ouvindo Caymmi:


Minha sereia, rainha do Mar
O canto dela faz admirar
Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar aonde ela habita
(Oh! Tem dó de ver o meu penar)
- Minha Sereia!
- Rainha do Mar …


Os nomes de Iemanjá


No extraordinário romance ‘Mar Morto’, Jorge Amado assim escreveu:


‘Iemanjá, que é dona do cais, dos saveiros, da vida deles todos, tem cinco nomes.


Cinco nomes doces que todo mundo sabe. Ela se chama Iemanjá, sempre foi chamada assim e esse é seu verdadeiro nome, de dona das águas, de senhora dos oceanos.


No entanto os canoeiros amam chamá-la de Dona Janaína, e os pretos, que são seus filhos mais diletos, que dançam para ela e mais que todos a temem, a chamam de Inaê, com devoção, ou fazem suas súplicas à Princesa de Aiocá, rainha dessas terras misteriosas que se escondem na linha azul que as separa de outras terras.


Porém, as mulheres do cais, que são simples e valentes… as mulheres da vida, as mulheres casadas, as moças que esperam noivos, a tratam de Dona Maria, que Maria é um nome bonito, é mesmo o mais bonito de todos, o mais venerado, e assim dão a Iemanjá como um presente, como se lhe levassem uma caixa de sabonetes à sua pedra no Dique.


Ela é sereia, é a mãe-d’água, a dona do mar, Iemanjá, Dona Janaína, Dona Maria, Inaê, Princesa de Aiocá. Ela domina esses mares, ela adora a lua, que vem ver nas noites sem nuvens, ela ama as músicas dos negros’…



Foto de FERNANDO AMORIM |
 Agência A Tarde - 2.2.2009


Caminhos do Mar


(Essa canção que segue foi tema da novela ‘Porto dos Milagres’, da Tv Globo, inspirada em Mar Morto, romance de Jorge Amado; é uma composição de Dorival Caymmi, de seu filho Danilo e de Dudu Falcão):


Rainha do Mar

Yemanjá, Odoiá,
Odoiá, rainha do mar
Iemanjá, Odoiá
Odoiá, rainha do mar
O canto vinha de longe
De lá do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar
O corpo todo estremece
Muda a cor do céu, do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar
Iemanjá, odoiá, odoiá, rainha do mar
Iemanjá, odioá, odoiá, rainha do mar
Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar
O pescador que conhece
As histórias do lugar
Morre de medo e vontade
De encontrar Iemanjá





Foto de FERNANDO AMORIM |

 Agência A Tarde - 2.2.2009


zedejesusbarreto, jornalista e escrevinhador (autor dos textos dos livros ‘Carybé & Verger – Gente da Bahia’ e do seguinte ‘Carybé, Verger & Caymmi – Mar da Bahia’, da trilogia ‘Entre Amigos’, criada pela Fundação Pierre Varger e pela Solisluna Design Editora, lançados em 2008 e 2009.)
30jan/2010.
http://jeitobaiano.wordpress.com/tag/yemanja/








Iemanjá: de Lenda para entidade venerada em todo o mundo


No dia 02 de fevereiro é comemorado o dia de Iemanjá, figura presente em diversas músicas, telenovelas, livros e cantigas populares. Você sabe, afinal, quem é Iemanjá? Preparamos um especial sobre esse tema. Boa leitura!


Os nomes são diversos, mas referem-se à mesma entidade: Yemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja, Yemoja ou, em português, Iemanjá, nomes dados àquela que é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão “Yèyé omo ejá”, que significa “mãe cujos filhos são peixes”.


No Brasil, Iemanjá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-brasileiras, e até por membros de religiões distintas.


Todo dia 2 de fevereiro, em Salvador, acontece uma das maiores festas do país em homenagem a essa que é considerada a “Rainha do Mar”.


A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até ao templo-mor, localizado próximo à foz do rio Vermelho, onde oferendam uma grande diversidade de coisas, como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e toda sorte de agrados.





A tradicional Festa de Iemanjá na cidade de Salvador, capital da Bahia, tem lugar na praia do Rio Vermelho todo dia 02 de fevereiro.


Na mesma data, Yemanjá também é cultuada em diversas outras praias brasileiras, onde lhe são ofertadas velas e flores, lançadas ao mar em pequenos barcos artesanais.


A festa católica acontece na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, enquanto os terreiros de Candomblé e Umbanda fazem divisões cercadas com cordas, fitas e flores nas praias, delimitando espaço para as casas de santo que realizarão seus trabalhos na areia.


Ela é considera a divindade do mar, além de ser a deusa padroeira dos náufragos, mãe de todas as cabeças humanas.


No Brasil, milhares de pessoas realizam alguma forma de culto à Yemanjá também durante as comemorações de passagem de ano, desde apresentadores de TV a esportistas famosos.





De forma mais geral, milhares de pessoas comparecem e depositam no mar oferendas para a divindade na noite de 31 de dezembro.


A celebração também inclui o tradicional “Banho de pipoca” e as sete ondas que os fiéis, ou até mesmo seguidores de outras religiões, pulam como forma de pedir sorte à Orixá.


Até Jorge Amado manifestou: – “Iemanjá, rainha do mar, é também conhecida por dona Janaína, Inaê, Princesa de Aiocá e Maria, no paralelismo com a religião católica.


Aiocá é o reino das terras misteriosas da felicidade e da liberdade, imagem das terras natais da África, saudades dos dias livres na floresta”, afirma o famoso escritor brasileiro.


Existe um sincretismo entre a santa católica Nossa Senhora dos Navegantes e a orixá da Mitologia Africana Yemanjá. Em alguns momentos, inclusive festas em homenagem as duas se fundem.


No Brasil, tanto Nossa Senhora dos Navegantes como Iemanjá tem sua data festiva no dia 02 de fevereiro. Costuma-se festejar o dia que lhe é dedicado, com uma grande procissão fluvial.


Yemanjá possui 7 “qualidades”, que são algumas formas pelas quais ela é reconhecida pelos que crêem. São elas:


Yemowô - que na África é mulher de Oxalá;


Iyamassê - é a mãe de Sàngó;


Yewa - rio africano paralelo ao rio Ògún e que frequentemente é confundido em algumas lendas com Yemanjá;

Olossa -
lagoa africana na qual desaguam os rios Yewa e Ògún;



Iemanjá Ogunté - que casa com Ògún Alagbedé;


Iemanjá Asèssu - muito voluntariosa e respeitável;


Iemanjá Saba ou Assobá - está sempre fiando algodão é a mais jovem.


Abaixo, detalhes sobre cada uma dessas qualidades:


1. Yemanjá AWOYÓ:


A primogênita. A mais velha das Yemanjás e dos mais ricos trajes; usa sete saias para guerrear e defender seus filhos.


Ela vive distante no mar e repousa na lagoa; come carneiro e, quando sai a passeio, usa as jóias de Olokum e coroa-se com Oxumarê, o arco-íris.


2. Yemanjá OKETÉ (OGUTÉ, OKUTÍ ou KUBINI)


É a guardiã de Olokum. A do azul pálido (claro), está nos arrecifes da costa (porteira de Olokum). Encontra-se tanto no mar, no rio, na laguna, quanto na mata.


Yemanjá, nesta qualidade, é mulher do deus da guerra e dos ferros, OGUM. Come (recebe oferendas) em sua companhia e os aceita tanto no mar quanto no matagal.


Quando guerreia leva pendentes da cintura o facão e as demais ferramentas de Ogum. Ela trabalha muito, é severa, rancorosa e violenta. É uma temível amazona.


3. Yemanjá MAYALEO ou MAYELEWO:


Mora nos bosques, em um pequeno poço ou manancial, que sua presença torna inesgotável.


Nesse caminho, assemelha-se à sua irmã Oxum Ikolé, porque é feiticeira.


Tem estreitas ligações com Ogum. Tímida e reservada, incomoda-se quando se toca o rosto de sua iaô e retira-se da festa.


4. Yemanjá AYABÁ ou ACHABÁ


Nesta qualidade, Yemanjá é perigosíssima, sábia e muito voluntariosa.


Usa no tornozelo uma corrente de prata. Seu olhar é irresistível e seu ar é altaneiro.


Foi mulher de Orunmilá, e Ifá sempre acata sua palavra. Para ouvir seus fiéis costuma ficar de costas. Suas ações jamais podem ser desfeitas.


5. Yemanjá KONLÉ ou KONLÁ:


A da espuma. Está na ressaca da maré; enreda e envolta em um mato de algas e limo. Por ser navegante, vive nas hélices dos barcos.


6. Yemanjá AKUARA:


A das duas águas – Yemanjá na confluência de um rio.


Ali encontra-se com sua irmã Oxum. Mora na água doce, gosta de dançar, é alegre e muito correta.
Não pratica malefícios. Cuida dos doentes, prepara remédios, amarra abicus.


7. Yemanjá ASESU:


É a mensageira de Olokum, a da água turva, suja. Muito séria e trabalhadora.; vai no esgoto, nas latrinas e cloacas. Recebe suas oferendas na companhia dos mortos.


É muito lenta em atender seus fiéis, pois conta meticulosamente as penas do pato a ela sacrificado, e caso se engane na conta, começa de novo e essa operação se prolonga indefinidamente.


Para conhecer um pouco mais sobre Yemanjá:


Saudação: O-dô-fe-iaba – O-dô-fe-iaba – O-dô-fe-iaba!


Data: 2 de fevereiro.


Metal: prata e prateados.


Cor: prata transparente, azul, verde água e branco.


Comida: manjar branco, acaçá, peixe de água salgada, bolo de arroz, ebôya, ebô e vários tipos de furá.


Arquétipo dos seus filhos: voluntarioso, fortes, rigorosos, protetores, caridosos, solidários em extremo, ingênuos, amigo, tímido, vaidosos com os cabelos principalmente, altivos, temperamentais, algumas vezes impetuosos e dominadores, e tem um certo medo do mar.


Símbolos: abebé prateado, alfange, agadá, obé, peixe, couraça, adê, braceletes, e pulseiras.


Além da grande diversidade de nomes africanos pelos quais Iemanjá é conhecida, a forma portuguesa Janaína também é utilizada, embora em raras ocasiões.


Publicado por santiagarcia em 02/02/2010
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