O vazio se manifesta como forma. Não existe em cima ou em baixo, direita ou esquerda, surgimento ou cessação, tudo é simultaneamente vazio e forma.
Não existe propriamente uma intenção, um plano ou uma história; simplesmente todo tempo está contido em um único ponto: passado e futuro estão contidos em um presente e esse presente é a única coisa que podemos realmente agarrar a cada instante que se esvai.
Se você conseguir mergulhar no presente plenamente, então será dono de passado e futuro e, ao se esquecer de si mesmo, poderá abarcar o universo inteiro.
Como diz o Sutra do Coração, aquele que atinge isso, atinge a perfeita e completa iluminação, livra-se instantaneamente de toda dor e sofrimento. Toda dor e sofrimento desaparecem se você esquecer a ilusão do “eu”, mergulhar no presente e abarcar todo o vazio com todas as suas manifestações. Portanto, nada está separado; você e todas as coisas são uma única coisa.
Os pássaros lá fora são você. Os sons são você. As árvores são você. O riacho é você. Você não é você.
Você é tudo isso; só está perdido nesse instante pensando que você é você, abrindo os olhos e vendo tudo em separado. Mas esse fenômeno que vivemos ao abrirmos os olhos e vermos tudo, que é como se fôssemos um pequeno olho, um pequeno senso do universo, permite termos uma grande experiência.
Essa grande, maravilhosa e complexa experiência que nós como seres humanos temos, é linda, não pode ser desperdiçada; uma fantástica oportunidade que nos permite ouvir, cheirar, olhar, provar...
Essa experiência maravilhosa é o dom da vida. Ela é um instrumento para um passo maior. Nós podemos atingir uma consciência maior e, ao atingi-la, não seremos mais pequenas ondas na superfície do universo, mas nos perceberemos como o próprio mar.
Monge Genshô
