2013-10-08

COMO BAILARINA, "EU SÓ PODERIA CRER NUM DEUS QUE SOUBESSE DANÇAR."








“Vós dizeis-me: “A vida é uma carga pesada”. Mas, para que é esse vosso orgulho pela manhã e essa vossa submissão, à tarde?

A vida é uma carga pesada; mas não vos mostreis tão contristados. Todos somos jumentos carregados.

Que parecença temos com o cálice de rosa que treme porque o oprime uma gota de orvalho?

É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.

Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.

E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens.

Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.

E quando vi o meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.

Não é com cólera, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o espírito do pesadelo!

Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sítio.

Agora sou leve, agora vôo; agora vejo por baixo de mim mesmo, agora salta em mim um Deus”.


- Friedrich Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra.