2013-10-16

SOBRE COMER CARNE








PERGUNTA: — Em vista das opiniões variadas e por vezes con­traditórias, tanto entre as correntes religiosas e profanas como até entre a classe médica, quanto ao uso da carne dos animais como alimento, gostaríamos que nos désseis amplos esclarecimentos a res­peito, de modo a chegarmos a uma conclusão clara e lógica sobre se o regime alimentar carnívoro prejudica ou não o nosso organismo ou influi de qualquer modo para que seja prejudicada a evolução do nosso espírito.

Preliminarmente, devemos dizer que no Oriente — como o afirmam muitas das pessoas antivegetarianas — a abstenção do uso da carne como alimento parece prender-se apenas a unia tradição religiosa, que os ocidentais consideram como um absurdo, dada a diferença de costumes entre os dois povos. Que nos dizeis a respeito?

RAMATÍS: — A preferência pela alimentação vegetariana, no Oriente, fundamenta-se na perfeita convicção de que, à medida que a alma progride, é necessário, também, que o vestuário de carne se lhe harmonize ao progresso espiritual já alcançado.

Mesmo nos remos inferiores, a nutrição varia conforme a delicadeza e sensibilidade das espécies. Enquanto o verme disforme se alimenta no subsolo, a poética figura alada do beija-flor sustenta-se com o néctar das flores.

Os iniciados hindus sabem que os despojos sangrentos da alimentação carnívora fazem recrudescer o atavismo psíquico das paixões animais, e que os princípios superiores da alma devem sobrepujar sempre as injunções da matéria.

Raras criaturas conse­guem libertar-se da opressão vigorosa das tendências hereditárias do animal, que se fazem sentir através da sua carne.

PERGUNTA: — Surpreendem-nos as vossas asserções algo vivaz; muita gente não compreende, ainda, que essa grave impro­priedade da alimentação carnívora causa-nos tão terríveis conseqüências! Será mesmo assim?

RAMATÍS: — O anjo, já liberto dos ciclos reencarnatórios, é sempre um tipo de suprema delicadeza espiritual.

A sua tessitura diáfana e formosa, e seu cântico inefável aos corações humanos não são produtos dos fluidos agressivos e enfermiços dos “patê de foie-gras” (pasta de fígado hipertrofiado), da famigerada “dobradinha ao molho pardo” ou do repasto albumínico do toucinho defumado!

A substância astral, inferior, que exsuda da carne do animal, penetra na aura dos seres humanos e lhes adensa a transparência natural, impedindo os altos vôos do espírito.

Nunca havereis de solucionar problema tão importante com a doce ilusão de igno­rar a realidade do equívoco da nutrição carnívora e, quiçá, tarde demais para a desejada solução.

Expomo-vos aquilo que deve ser meditado e avaliado com urgência, porque os tempos são chegados e não há subversão no mecanismo sideral.

É mister que compreendais, com toda brevida­de, que o veículo perispiritual é poderoso ímã que atrai e agrega as emanações deletérias do mundo inferior, quando persistis nas faixas vibratórias das paixões animais.

É preciso que busqueis sempre o que se afina aos estados mais elevados do espírito, não vos esquecendo de que a nutrição moral também se harmoniza à estesia do paladar físico.

Em verdade, enquanto os lúgubres veícu­los manchados de sangue percorrerem as vossas ruas citadinas, para despejar o seu conteúdo sangrento nos gélidos açougues e atender às filas irritadas à procura de carne, muitas reencarna­ções serão ainda precisas para que a vossa humanidade se livre do deslize psíquico, que sempre há de exigir a terapia das úlceras, cirroses hepáticas, nefrites, câncer de cólo, artritismo, enfartes, diabetes, tênias, amebas ou uremias!


RAMATÍS in Fisiologia da Alma