2013-10-24
O caminho da perfeição
Na carta sobre a tenacidade diante do destino, Ficino explica sobre o comportamento falado por Platão (...) que deve ser adotado por quem quer percorrer o caminho da perfeição.
Assim como D'us é o criador e o condutor de nossas almas, o universo é o gerador e o condutor de nossos corpos.
Como a alma é filha de D'us e os corpos são os membros do universo, nossa alma é dirigida por D'us como por um pai, de modo clemente e maravilhoso, de acordo com as leis da providência.
Mas é o mundo físico que arrasta nosso corpo com as forças do destino na violência e na paixão, assim como a parte sempre é arrastada para o todo ao qual ela pertence.
Mas as forças do destino não podem penetrar em nosso espírito, a menos que ele se abandone ao corpo submetido ao destino.
Que ninguém se fie inteiramente a suas próprias forças e a sua própria compreensão para evitar as doenças corporais ou os acontecimentos futuros.
Não deixem a alma perder-se no corpo, mas que ela se retire no espírito a fim de que o destino descarregue suas forças no corpo e não na alma.
O sábio e prudente não lutará contra o destino, pois isso não tem sentido; ele resistirá, esforçando-se para evitar isso. Não se pode afastar o infortúnio, mas pode-se muito bem fugir dele.
É por isso que Platão pressiona nosso coração para fugir daqui, isto é, para renunciar ao amor pelo corpo e pelas coisas exteriores, para acabar encontrando um recurso enquanto cuidamos de nossa alma.
Não há outra maneira de nos desviarmos da infelicidade; e ele acrescenta: ‘o mais rápido possível’. Por essa razão penso que, desde a juventude, é preciso começar a fazer a separação entre a alma e o corpo, a fim de evitar que a alma não pereça por seu intercâmbio com o corpo.
Esteja certo de que, por meio de uma fuga como essa, a alma torna-se igual a D'us porque, liberta de seus laços com o corpo, ela surge semelhante a Deus.
Adquirimos essa liberdade especialmente a partir de três virtudes: a compreensão profunda, a eqüidade e o desinteresse.
A compreensão nos faz distinguir o que devemos a D'us e o que devemos ao mundo; a eqüidade faz com que passemos a dar ao mundo o que lhe pertence; e o desinteresse, o que pertence a Deus.
É por isso que o sábio se distancia de seu corpo como de uma pequena parte do mundo e o confia ao ciclo das coisas, para onde ele deve ser conduzido.
Ele mantém sua alma, que é filha de D'us, afastada do intercâmbio com o corpo e a confia à providência divina, para que ela a dirija de acordo com a sua vontade.
Se seguirmos esta regra áurea que Platão nos oferece, (...), animados por um fogo celeste, contornaremos sãos e salvos o enorme redemoinho do destino e logo chegaremos ao porto, sem avarias.
Ficino