2012-03-11

CONHECENDO UM POUCO DO HINDUÍSMO





Origem do Termo “Hindu”

A palavra “Hindu” tem uma origem geográfica, uma vez que foi utilizada inicialmente pelos persas, há cerca de seis mil anos, para designar os habitantes das margens do Rio Sindhu. Este nome surgiu para denominar os povos que praticavam diversas seitas, não necessariamente a mesma religião.

O termo “Hindu” não é um originalmente termo sânscrito, sendo uma corruptela de “Sindhu”, que se expandiu em função da dificuldade do povo persa em pronunciá-la. O termo não consta em nenhuma escritura sagrada indiana.

A colonização inglesa, que permaneceu durante mais de dois séculos na Índia, reforçou o termo “Hinduísmo”, ao utilizá-lo para denominar a fé dos indianos, e acabou popularizando a palavra dentro e fora da Índia.

O Hinduísmo é compreendido não apenas como uma religião. É, ao mesmo tempo, um conjunto de idéias, práticas e atitudes, ou seja, uma filosofia de vida, que se aplica, segundo Georg Feuerstein, às diversas tradições que têm vínculo histórico e ideológico com a antiga cultura védica que remonta seis mil anos e que assumiram uma forma mais coesa nos primórdios do primeiro milênio d.C.

Swami Vivekananda e diversos filósofos indianos indicam que o nome correto para o “Hinduísmo” deve ser “Sanatana Dharma”, a “Fé Eterna” ou “Ensinamento Eterno”. É denominada de “eterna” porque a fé não tem início nem fim. Os princípios de Sanatana Dharma não se restringem somente para os que têm fé, mas se estendem para todos os seres humanos.

O Hinduismo ou Sanatana Dharma é praticado atualmente por cerca de 800 milhões de indianos, além dos seguidores fora da Índia, sendo considerado a tradição espiritual e filosófica mais antiga da Humanidade.




Características do Hinduísmo:

Não é baseado em nenhum livro em particular, tampouco em um único mestre ou profeta. No entanto, existem centenas de livros e escrituras para guiar tanto o iniciante quanto e estudioso.

O Hinduísmo fala do princípio eterno, que sustenta todo o Universo e todas as manifestações de vida e que existe por detrás de tudo o que é transitório.

Ensina o ideal de liberação para todos.

Não exclui nenhuma forma de prática religiosa.





Principais Livros Sagrados:


1. SHRUTIS

Significa aquilo que foi ouvido ou revelado. Estes ensinamentos são tidos como de origem divina e foram recebidos por sábio (rishis) durante estados elevados de consciência.

Segundo Feuerstein, a Cosmogonia Védica é uma psicocosmogonia, assim como as tradições do Samkhya e da Yoga, pois postulam um Fundamento Transcendental do qual se originam tanto as diversas realidades objetivas quanto as mentes multiestruturadas que as percebem.

Os Shrutis compõem-se dos Vedas e dos Upanishads.

- Vedas (4.500 – 2.500 a.C.)

São quatro Vedas: Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda.

Rig Veda consiste em uma coleção de hinos (mantras) que expressam verdades espirituais através do simbolismo e da mitologia. Os outros três Vedas detalham rituais e ritos que guiam o ser humano em sua jornada material e espiritual.

Os Upanishads (1.500 – 1.000 a.C.) chamados de Vedanta (final dos Vedas), representam um refinamento dos ensinamentos espirituais dos Vedas, contendo a essência da sua filosofia.

Existem em torno de 108 Upanishads, sendo 12 mais importantes: Isa, Kena, Katha, Prasna, Mundaka, Mandukya, Aitareya, Taittirya, Chandogya, Brihadaranyaka, Kaushitaki e Svetasvatara.


2. SMRITIS

Significa “memórias”. Diferentemente dos Shrutis, que são de origem divina, os Smritis foram produzidos por sábios com a intenção de regular e orientar os indivíduos em suas condutas diárias, listando regras para governar tanto as ações dos indivíduos quanto da comunidade, da sociedade e da nação. São conhecidos como Dharma Shastras ou leis que governam a correta conduta.


3. ITIHASAS (Épicos)

Constituem parábolas ou historias que contém a filosofia dos Upanishads, no intuito de torná-la mais interessante, compreensível e popular. Os mais conhecidos são: Mahabharata e Ramayana.

- Mahabharata (500 a.C.)

Maior épico religioso do mundo, do qual faz parte o Bhagavad-Gita.

Trata da guerra entre os primos das famílias Pandavas e Kauravas, e contém várias referências a Yoga e ao Samkhya.

Ramayana (300 a.C.)

Relata a história de amor entre Rama e Sita. Sua importância está na proclamação dos valores morais, da ética e da filosofia de vida. Para os hindus, Rama e Sita personificam o casal ideal.


4. PURANAS (500 – 1.300 d.C.)

Dezoito enciclopédias populares que retratam os Vedas e os Dharma Shastras em forma de pequenas histórias. Misturam mito e história e constituem uma coleção de vários contos detalhados sobre os deuses e suas encarnações.

Tratam de cinco temas principais: a criação do mundo, a sua recriação após a destruição ao término de um ciclo (kalpa), as genealogias dos sábio e das divindades, a descrição mitológicas das eras cósmicas e as genealogias das dinastias reais.


5. ÁGAMAS

Estas escrituras têm a finalidade de guiar o devoto no seu culto a uma das manifestações divinas no Hinduísmo: Shiva (Shaiva Ágama), Vishnu (Vaishnava Ágama) ou Shakti (Shakta Ágama).

Cada Ágama tem diversas sessões. A primeira consiste no conhecimento filosófico e espiritual envolvido na veneração da deidade. A segunda fala da disciplina mental mental necessária a cada escola de veneração. A terceira parte engloba as regras para a construção dos templos. Independente de onde for construído o templo, ele sempre preserva as mesmas características. Também assinala as regras para esculpir ou talhar as deidades. A quarta parte orienta os rituais feitos em casa ou na comunidade.


6. DARSHANAS

Significa literalmente “visão” ou “ponto de vista”. Darshanas são as seis escolas de filosofia indiana, que têm em comum o objetivo de libertar o homem da sua ignorância existencial.

- Samkhya de Kapila

- Yoga de Patanjali

- Nyaya de Gautama

- Vaishesika de Kanada

- Purva-Mimansa de Jaimini

- Vedanta de Vyasa





Formas de Culto no Hinduísmo

Existem cinco grandes tradições religiosas na Índia:

Vaishnavismo (culto à Vishnu)

Shaivinismo (culto à Shiva)

Shaktismo (culto à Shakti)

Ganapatyas (culto à Ganesh)

Sauras (culto à Surya)

Alguns Princípios do Hinduismo:

1. Deus para os Hindus é Nirguna, ou seja, sem forma, começo ou fim.

Ele é imanente e transcendente, transcendendo tempo e espaço. Os Upanishads ensinam que todo o Universo é uma manifestação de Brahman.

Uma vez que Brahman é sem forma, não é considerado nem homem nem mulher, sendo chamado de TAT. Brahman também é descrito como “Satchitananda”. Sat é aquele que existe, Chit é pura consciência e Ananda é pura felicidade.

Para a maioria das pessoas, Nirguna Brahman é difícil de ser compreendido. Dessa forma, para facilitar essa compreensão do Espírito Universal, surgiu Saguna Brahman, ou seja, Brahman como forma e atributos, que é conhecido por Ishwara.

“A realidade é Uma, mas os sábios a chamam de diferentes nomes” Rig Veda.

Brahman é o Ser Uno e Supremo. Todos os diferentes deuses são manifestações de Brahman. O hindu não considera a adoração à imagem o objetivo final da sua devoção, pois sabe que este é apenas um caminho. Swami Surnimalananda afirma que este é apenas o primeiro estágio.

O segundo é pensar em Deus que está no céu, o terceiro, pensar em Deus que está no coração, e o último passo é pensar em Deus onipresente.

2. De acordo com o Hinduísmo, existem quatro ideais a serem seguidos durante a existência:

Dharma – Virtude

Artha – Riqueza

Kama – Desejos

Moksha – Liberação

O desejo (Kama) por conquistar e desfrutar as coisas do mundo e a riqueza (Artha) devem ser equilibrados pela virtude (Dharma) e pela busca da liberação (Moksha).

3. Para praticar esses quatro ideais, o Hinduísmo dividiu a vida em quatro etapas (Ashrams):

Brahmacharya: Até os 20/25 anos, representa o estágio da vida de estudante.

Garhasthya: Até por volta dos 50 anos. O jovem está pronto para casar e levar uma vida de chefe de família.

Vanaprastha: Até por volta dos 75 anos. Após completar suas responsabilidades familiares e profissionais, vem o estágio de aposentado, em que ele estuda as escrituras religiosas.

Sannyasa: Dos 75 em diante. A alma se prepara para partir do mundo e de todas as suas relações, dedicando-se a pensar em Deus.

4. Sistema de Castas (Varn)

O sistema Varn foi inicialmente usado para diferenciar os níveis de pureza de gerações e raças e para estabelecer uma indicação para as funções exercidas pelas pessoas na sociedade. Acreditava-se que as pessoas são diferentes e têm aptidões e habilidades distintas em função da família da qual se originam. Dividem-se em:

Brâmanes: Advindos da boca de Bhahman e direcionados para os estudos e atividades religiosas.

Kshatriyas: Advindos dos braços de Brahman para atuar como guerriros.

Vaishyas: Advindos das coxas de Brahman para cuidar das atividades comerciais.

Sudras: Advindos dos pés de Brahman para desempenhar as atividades de serviços orientados.

Os intocáveis (párias) eram excluídos do sistema de castas e faziam outros serviços, indesejáveis para as outras castas, como: cuidar dos dejetos.

A origem desta casta é atribuída a existência de pessoas que violaram o conjunto de normas de comportamento social e foram banidas de suas castas. Uma vez que o sistema é hereditário, elas passam sua casta aos seus descendentes.

5. Os Três Principais Caminhos para Brahman

Bhakti Yoga: Yoga da devoção. É o mais comum na Índia. O devoto escolhe uma forma de Saguna Brahman ou Ishwara e realiza Deus através do amor e da devoção

Karma Yoga: Yoga da ação. Significa a união com Deus através da ação. O trabalho em si é o fim, e não o meio para se obter uma recompensa. O trabalho é uma forma de adoração.

Jnana Yoga: Yoga do conhecimento. Não é apenas o conhecimento racional que se busca neste caminho, mas a iluminação espiritual através do conhecimento, que permite discernir o Real do irreal, o Self, do “não-Self”.

(autor: Subhashini Arora)