
"É imperioso salientar que se desconhece ainda, no mundo, a Lei do Campo Mental, que rege a moradia energética do Espírito, segundo a qual a criatura consciente, seja onde for no Universo, apenas assimilará as influências a que se afeiçoe."
Lamentam-se amargamente os metapsiquistas de a maioria dos fenômenos mediúnicos se encontram eivados de obscuridades e extravagâncias, e de quem por isso mesmo, a doutrina da sobrevivência, para eles, se mostra repleta de impossibilidades.
Estabelecem exigências e, depois de atendidos, acusam a instrumentação mediúnica de criar personalidades imaginárias; exageram a função dos chamados poderes inconscientes da vida mental, estranhando que a força psíquica, como recurso mediador entre encarnados e desencarnados, não procede na balança da observação humana à maneira, por exemplo, das combinações do cloro com o hidrogênio.
Com referência ao assunto, é imperioso salientar que se desconhece ainda, no mundo, a Lei do Campo Mental, que rege a moradia energética do Espírito, segundo a qual a criatura consciente, seja onde for no Universo, apenas assimilará as influências a que se afeiçoe.
Cada mente é como se fora um mundo "de per si", respirando nas ondas criativas que despede - ou na psicosfera em que gravita para esse ou aquele objetivo sentimental, conforme os próprios desejos -, sem que a lei de responsabilidade não subsistiria.
Um médium, ainda mesmo nas mais altas situações de amnésia cerebral, do ponto de vista fisiológico, não está inconsciente de todo, na faixa da realidade espiritual, e agirá sempre, nunca à feição de um autômato perfeito, mas na posição de uma consciência limitada às possibilidades próprias e às disposições da própria vontade.
(Mecanismos da Mediunidade, XVII, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)
MEDIUNIDADE E VIDA
Eminentes fisiologistas e pesquisadores de laboratório procuraram fixar mediunidade e médiuns a nomenclaturas e conceitos da ciência metapsíquica; entretanto, o problema, como todos os problemas humanos, é mais profundo, porque a mediunidade jaz adstrita à própria vida, não existindo, por isso, dois médiuns iguais, não obstante a semelhança no campo das impressões.
Por outro lado, espiritualistas distintos julgam-se no direito de hostilizar-lhe o serviço e impedir-lhe a eclosão, encarecendo-lhe os supostos perigos, como se eles próprios, mentalizando os argumentos que avocam, não estivessem assimilando, por via mediúnica, as correntes mentais intuitivas, contendo interpretações particulares das Inteligências desencarnadas que os assistem.
A mediunidade, no entanto, é faculdade inerente à própria vida e, com todas as suas deficiências e grandezas, acertos e desacertos, é qual o dom visão comum, peculiar a todas as criaturas, responsável por tantas glórias e tantos infortúnios na Terra.
Ninguém se lembrará, contudo, de suprimir os olhos, porque milhões de pessoas, em face de circunstâncias imponderáveis da evolução, deles se tenham valido para perseguir e matar nas guerras de terror e destruição.
Urge iluminá-los, orientá-los e esclarecê-los.
Também a mediunidade não requisitará desenvolvimento indiscriminado, mas sim, antes de tudo, aprimoramento da personalidade mediúnica e nobreza de fins, para que o corpo espiritual, modelando o corpo físico e sustentando-o, possa igualmente erigir-se em filtro leal das Esferas Superiores, facilitando a ascensão da Humanidade aos domínios da luz.
(Evolução em Dois Mundos, XVII, André Luiz/
Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)
Existem importantes observações na literatura espírita sobre os sonhos premonitórios. É fundamental conhecê-las para que se possa construir uma base sólida e clara sobre o assunto.
Tanto nas obras da codificação como em outras complementares, ressalta-se o discernimento que devemos ter em suas diferentes manifestações.
Vejamos algumas dessas citações com o objetivo de compreender melhor os seus significados, sem nos prender em más interpretações.
Codificação Espírita
A pergunta 404 de O Livro dos Espíritos diz: Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra.
São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, freqüentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal.
São também, como atrás dissemos, um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a alma se transporta”.
Prossegue ainda na pergunta 405: Acontece com freqüência verem-se em sonho coisas que parecem pressentimento, que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir isto? “Pode suceder que tais pressentimentos venham a confirmar-se apenas para o Espírito. Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu encontro.
É preciso não esquecer que, durante o sono, a alma está mais ou menos sob influência da matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas idéias terrenas, donde resulta que as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se vê a aparência do que se deseja, ou do que se teme.
A isto é que, em verdade, cabe chamar-se efeito da imaginação. Sempre que uma idéia nos preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa idéia”.
A Gênese, também se refere ao tema. Relata que José, pai de Jesus, foi advertido por um anjo em sonhos para que fugisse para o Egito com o menino.
O capítulo XV da obra faz uma reflexão sobre as advertências que podem ser feitas por intermédio dos sonhos e que fazem parte dos livros sagrados de todas as religiões.
Salienta ainda que o fenômeno nada tem de anormal, já que durante o sono o espírito se desliga dos laços da matéria para entrar momentaneamente na vida espiritual, porém adverte que nem sempre se pode deduzir que os sonhos são avisos ou tenham significado específico.
Outras Obras
Além das obras de Allan Kardec, há citações sobre o tema em outros livros de cunho espírita.
O livro Recordações da Mediunidade – da médium Yvonne A. Pereira, orientado pelo espírito de Bezerra de Menezes, diz: “Existem vários processos pelos quais o homem poderá ser informado de um ou outro acontecimento futuro importante da sua vida.
Comumente, se ele fez jus a essa advertência, ou lembrete, pois isso implica certo mérito, ou ainda certo desenvolvimento psíquico, de quem o recebe, é um amigo do Além, um parente, o seu Espírito familiar ou o próprio Guardião Maior que lhe comunicam o fato a realizar-se, preparando-o para o evento, que geralmente é grave, doloroso, fazendo-se sempre em linguagem encenada, ou figurada, como de uso no Invisível, e daí o que chamais “avisos pelo sonho”, ou seja, sonhos premonitórios...
O estudo da lei de causa e efeito é matemática, infalível, concreta, para a observação das entidades espirituais de ordem elevada, e, assim sendo, ele se comunicará com o seu pupilo terreno através da intuição, do pressentimento, da premonição, do sonho etc..
O estudo da matemática de causa e efeito é mesmo indispensável, como que obrigatório, às entidades prepostas à carreira transcendente de guardiães, ou guias espirituais.
Estudo profundo, científico, que se ampliará até prever o futuro remoto da própria Humanidade e dos acontecimentos a se realizarem no globo terráqueo, como hecatombes físicas ou morais, guerras, fatos célebres etc., daí então advindo a possibilidade das profecias quando o sensitivo, altamente dotado de poderes supranormais, comportar o peso da transmissão fiel aos seus contemporâneos.”.
Encarar com naturalidade
O livro Conduta Espírita, ditado por André Luiz ressalta algumas observações a respeito da postura que se deve assumir diante dos sonhos e suas revelações: “Encarar com naturalidade os sonhos que possam surgir durante o descanso físico, sem preocupar-se aflitivamente com quaisquer fatos ou idéias que se reportem a eles. Há mais sonhos na vigília que no sono natural.
Extrair sempre os objetivos edificantes desse ou daquele painel entrevisto em sonho. Em tudo há sempre uma lição. Repudiar as interpretações supersticiosas que pretendam correlacionar os sonhos com jogos de azar e acontecimentos mundanos, gastando preciosos recursos e oportunidades da existência em preocupação viciosa e fútil.
Objetivos elevados, tempo aproveitado. Acautelar-se quanto às comunicações intre vivos, no sonho vulgar, pois, conquanto o fenômeno seja real, a sua autenticidade é bastante rara. O Espírito encarnado é tanto mais livre no corpo denso, quanto mais escravo se mostre aos deveres que a vida lhe preceitua.
Não se prender demasiadamente aos sonhos de que recorde ou às narrativas oníricas de que se faça ouvinte, para não descer ao terreno baldio da extravagância. A lógica e o bom senso devem presidir a todo raciocínio.
Preparar um sono tranqüilo pela consciência pacificada nas boas obras, acendendo a luz da oração, antes de entregar-se ao repouso normal. A inércia do corpo não é calma para o Espírito aprisionado à tensão.
Admitir os diversos tipos de sonhos, sabendo, porém, que a grande maioria deles se originam de reflexos psicológicos ou de transformações relativas ao próprio campo orgânico.
O Espírito encarnado e o corpo que o serve respiram em regime de reciprocidade no reino das vibrações”.
O importante colaborador da doutrina espírita, Leon Denis, na obra No Invisível faz relevantes comentários sobre os sonhos premonitórios no capítulo XIII que reproduzimos alguns trechos para melhor entendimento: “Os sonhos em suas variadas formas, têm uma causa única: a emancipação da alma.
Esta se desprende do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais ou menos elevado do Universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos próprios, os seres e as coisas desse plano.
Algumas vezes, quando suficientemente purificada, a alma, conduzida por Espíritos angélicos, chega em seus transportes alcançar as esferas divinas, o mundo em que se geram as causas.
Aí paira, sobranceira ao tempo, e vê desdobrarem-se o passado e o futuro. Se acaso comunica ao invólucro humano um reflexo das sensações colhidas, poderão estas constituir o que se denomina sonhos proféticos.
Nos casos importantes, quando o cérebro vibra com demasiada lentidão para que possa registrar as impressões intensas ou sutis percebidas pelo Espírito, e este quer conservar, ao despertar, a lembrança das instruções que recebeu, cria então, pela ação da vontade, quadros, cenas figurativas das imagens fluídicas, adaptadas à capacidade vibratória do cérebro material, sobre o qual, por um efeito sugestivo, as projeta energicamente.
E, conforme a necessidade, se é inábil para isso, recorrerá ao auxílio dos Espíritos mais adiantados, e assim revestirá o sonho uma forma alegórica”.
Escrito por Érika Silveira

O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo.
A intolerância – em várias oportunidades – marcou presença até mesmo no seio do Colégio Apostólico. Certa feita, voltando de uma viagem, João disse a Jesus:
– “Mestre, eis que encontramos um homem pelo caminho que curava em Teu nome, expulsando Espíritos infelizes.”
– “E que fizestes?” – inquiriu Jesus.
– “Repreendemo-lo”, disse o discípulo inexperiente. “Expusemos que ele não tinha o direito de usar o Teu nome, pois não privava contigo; não era um dos nossos...”
Amélia Rodrigues narra, em belíssima linguagem, a réplica de Jesus:
“Fizestes mal; pois todo aquele que não é contra nós é por nós. Se alguém em meu nome expulsa Espíritos maus, asserenando obsessos e acalmando obsessores, cultivando nas almas o pólen da saúde que se converte em pomar de tranquilidade, não poderá voltar-se contra nós, depois, assacando calúnias e, no futuro, erguendo-nos acusações. A palavra de amor é moeda de paz para aquisição do continente das almas.
O servidor do Evangelho deve fiscalizar, com sincera acuidade, as nascentes íntimas dos sentimentos, de modo a cercear, no começo, os adversários cruéis, que são o egoísmo e o orgulho, a inveja e o ciúme com toda a corte de nefandos sequazes...”
Explica Allan Kardec2 que a “questão da mediunidade curadora foi esboçada em O Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revue Spirite, a propósito de fatos de curas e de obsessões; ela está resumida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a propósito das preces para os doentes e para os médiuns curadores.
O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, não pode ainda haver dito tudo; não pode – de um só golpe –, mostrar-nos todos os fatos que ele abarca; cada dia, deles desenvolve novos aspectos, de onde decorrem novos princípios que vêm corroborar ou completar aqueles que já se conheciam, mas é preciso o tempo material para tudo; qualquer parte integrante do Espiritismo é, por si mesma, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complicadas de obsessões que, elas mesmas, influem sobre o organismo.
Eis alguns dos princípios fundamentais que a experiência consagrou:
1. Quem diz médium, diz intermediário. Há esta diferença entre o Magnetizador e o médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo, com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.
2. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos.
O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é, necessariamente, mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida.
Mas, passando por intermédio do encarnado, pode-se alterar, como uma água límpida passando por um vaso impuro, como todo remédio se altera, se permanece em um vaso impróprio, e perde, em parte, suas propriedades benfazejas.
Daí, para todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral, segundo este princípio vulgar: Limpai o vaso, antes de vos servir dele, se quereis ter alguma coisa de bom.
3. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. (...)
As qualidades morais do magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual.
4. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo, se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.
5. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo.
O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.
6. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso, os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.
7. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece, se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de
desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.
8. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar.
9. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser magnetizador.
10. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode vencer toda espécie de mal.
Tal terá devolvido a saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrá-la mais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.
11. A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e, sobretudo, pela prática do bem e da caridade.
12. É um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam nenhuma repugnância em tentar essa faculdade.
A mediunidade curadora racional é intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo, antes que a luz penetre em certos cérebros.
À espera disto, façamos o maior bem possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.
Rogério Coelho - Revista RIE
1 - FRANCO, Divaldo. Luz do Mundo. 8.ed. Salvador: LEAL, 2008, cap. 10.
2 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Agosto de 1865. 2.ed.Araras: IDE, 2000, p.p. 259-264.
Para saber mais vide:
KARDEC, Allan. Revue Spirite. Outubro de 1866. Araras: IDE, 1993, p.p. 312-320 e 345-352.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XIV, item 175.
SOBRE CORRER GIRA
Algumas vezes na vida nós sentimos que está na hora de seguir em frente.
Na maioria das vezes é uma decisão difícil, nos faz remexer em estruturas muitas vezes sólidas, mudar rotinas, sair da nossa zona de conforto.
É muito difícil, às vezes traumático e nem sempre bom em curto prazo. Mas a vida chama e temos que ir adiante. E como agir quando isso acontece no terreiro?
Sim, isso acontece. Algumas vezes ficamos anos em um determinado centro, trabalhamos, adoramos o lugar. Mas aí, de repente e sem aviso, sentimos um incômodo.
E esse incômodo vai ganhando forma, aumentando de intensidade até que pensamos: é hora de levantar âncora.
Bom… Acredito que o primeiro pensamento tem que ser: Por que estou assim?
Pode ser besteira de nossa parte. Pode ser uma simples situação que se resolve em um conversa sincera. Um mal entendido, uma falta de atenção… Algo bobo. Mas no geral, o pensamento é: hora de visitar outras casas.
Cada centro tem uma política com relação a isso. E é muito certo que seja assim. Visitar outras casas pode ter seu risco com relação ao médium e seu campo mediúnico.
A diferença energética de uma casa para outra pode influenciar de alguma forma o médium e isso pode dar trabalho depois. Não é por mal, é só uma diferença mesmo.
Mas pode ser por mal também afinal, existe todo tipo de gente por aí. Por isso sempre recomendo: converse com seu dirigente antes.
Avise. Só isso. Ele poderá te dar instruções de como agir melhor e pode ser que nessa conversa sua situação seja resolvida.
Mas digamos que não, você está decidido a visitar outras casas.
É comum que um médium, quando reconhecido como tal, seja convidado a entrar e “dar passagem” para seu Guia.
Particularmente eu recomendo que o filho dê uma desculpa educada e recuse a oferta. E por um simples motivo: Seu Guia não tem o que fazer ali.
Guia em terra é Guia trabalhando e seria um desperdício de tempo seu e de seu Guia essa incorporação.
Muitas vezes, por educação, acabamos deixando que isso aconteça, porém isso realmente não tem muita função a não ser que o médium esteja em real desequilíbrio precisando ser reequilibrado e isso é uma coisa que você, médium, tem que saber reconhecer.
Aliás, outro protocolo muito educado para o médium que visita um terreiro é: identifique-se para o dirigente. Ou para um dos responsáveis pela casa.
Procure alguém da casa e diga sua condição, diga que você é médium de outra casa em visita.
Isso também ajudará o dirigente a tomar suas providências, seja te dando um tratamento diferenciado, seja somente cantando um ponto de boas vindas.
É educado de sua parte, que conhece o rito, que já é frequentador, que já trabalha, se apresentar.
Com certeza os médiuns mais atentos da casa saberão que você já é filho de outra casa, nós carregamos este estigma, mas não custa nada, não é?
Não vá visitar outra casa com um milhão de guias no pescoço. A função da Umbanda é ensinar, entre outras coisas, a humildade e usar todas as suas guias só será sinal de presunção.
Sei que você pode pensar que muitas guias é igual a muita proteção, mas no final das contas, que tanta proteção você precisa naquele momento, já que você é que está indo atrás de outro centro?
Seja humilde, coloque a guia de Oxalá no pescoço e vá sossegado.
Não pré-julgue o centro que você vai visitar em função do tempo de trabalho do dirigente em função do seu próprio tempo, por exemplo.
Se você tem 80 “anos de santo” mas está atrás de ajuda, o que importa se quem está disposto a te ajudar tenha só 5 anos?
Ele está disposto a te ajudar! Preste atenção nessa frase: Você está atrás de ajuda e encontrou alguém disposto a te ajudar. Aproveite!
Não se prenda a essa situação mítica de que esse alguém tem que ser mais velho que você, porque você é que está procurando ajuda! Parece óbvio quando escrevo, mas é meio difícil algumas pessoas entenderem isso.
Claro que entendo a tradição, mas mesmo assim isso me parece meio absurdo: É como você, com 80 anos de idade, 60 de carreira, não aceitar ajuda de um médico porque ele tem somente 20 anos de medicina.
Muitas vezes esse médico está mais apto a te ajudar do que você mesmo, está mais “antenado nas novas tecnologias” ou nas novas teorias… ou simplesmente está mais disposto a te ajudar mesmo.
Isso me soa tão arrogante que fico até meio bravo… rs… É tradição? Sim. Mas na hora do sufoco, o que importa?
Por que estou escrevendo tudo isso afinal de contas?
Porque com certeza você verá coisas diferentes quando iniciar essa busca. Algumas coisas te agradarão, outras não, mas o respeito deve SEMPRE existir.
Você encontrará alguns terreiros sábios; que trabalham com muitas mirongas, ervas, receitas, flores, incorporações características e palavreado típico dos Guias.
E também encontrará muitos terreiros eruditos, onde encontrará Guias mais independentes, que acendem seus próprios cigarros, ou se servem sozinhos, que te dirão sobre computadores, internet, celulares como coisas de seu dia a dia, onde não haverá tantas mirongas, tantos trabalhos, tantos palavreados característicos.
Mas em nenhum momento poderá passar pela sua cabeça que isso é mais correto que aquilo, assim como não exemplifico os dois modelos de terreiro aqui com distinção de importância entre um e outro: se estão na Terra, se existem aqui, é porque têm que existir, cumprem um propósito maior que não conhecemos.
Se eles possuem assistência, é porque fazem de alguma forma, o bem para quem visita, mesmo que não consigamos identificar, a priori, que bem é esse.
E de nenhum modo esses terreiros serão melhores que o que você já frequenta, só serão diferentes no formato, não na essência.
Não trabalhe em dois lugares. Seja honesto consigo mesmo e, acima de tudo, seja leal. Se você deseja essa situação, comunique aos dois dirigentes e veja o que eles dizem. Fazer isso escondido é perigoso e vergonhoso para você.
Se você vai fazer algum curso de alguma coisa… bom, tenha em mente que cada casa trabalha de um jeito e se você não for maduro e centrado pra entender isso, esse curso só vai servir pra te deixar mais confuso ainda.
Ah! E não saia procurando outro terreiro igual ao que você já frequenta. Você não encontrará e, se o terreiro que você frequenta é bom pra você, porque você está saindo?
Mas sempre tenha em mente que cada casa é uma casa e os problemas estão muito mais em você do que nelas. Seja sincero consigo mesmo, sempre.
E quando esse dia chegar, procure se acalmar e pensar, sem egoísmos, sem prepotência, o real motivo para seu incômodo. Só assim você conseguirá tomar uma boa decisão.
Nino Denani
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