2013-12-16

APOS A MORTE







Logo nos primeiros momentos de lucidez do lado de cá, aprendi que os pensamentos têm que ser reeducados. No meu caso, então, o esforço teve que ser descomunal.

Quanto às palavras, nem se fala. Elas brotavam de minha boca, como sempre, cheias de irreverência e com um impulso e um significado muito fortes.

Toda vez que isso ocorria eu voltava à condição miserável de solidão, medo, angústia e dores fortes, que somente mais tarde eu reconheceria como dores de natureza apenas moral.

A mente tem as suas próprias regras, e não havia como driblar minha própria mente. E já que meu cérebro antigo não mais existia, eu lidava diretamente comigo mesmo — não havia como escapar.

Tive de refazer a duras penas meu padrão mental e modificar meu vocabulário. Os tempos de rebeldia declarada já haviam esgotado: ou eu aprendia tudo de novo ou enfrentava as leis inflexíveis da minha consciência.

Eu preferiria ter de enfrentar o diabo, caso ele existisse, a ter de enfrentar a mim mesmo.

Do livro “Faz parte do meu show”, de Robson Pinheiro pelo espírito Ângelo Inácio.