2013-10-06

A IGNORÂNCIA DA RAIVA








[...] Imagine-se andando com os braços carregados de compras do supermercado. Então, alguém grosseiramente colide, fazendo você e as compras caírem no chão.

Assim que você se levanta da poça de ovos quebrados e massa de tomate, está pronto para gritar: “Imbecil! O que há de errado com você? Está cego?”.

Mas antes mesmo que possa tomar fôlego para falar, você vê que a pessoa realmente é cega. Ela, também, está esparramada na poça.

Sua raiva some em um instante, para ser substituída por preocupação bondosa: “Você se machucou? Deixe eu te ajudar”...

Nossa situação é como essa. Quando claramente compreendemos que a fonte da desarmonia e dor no mundo é a ignorância, podemos abrir a porta da sabedoria e compaixão. Então, ficamos em uma posição adequada para curarmos a nós mesmos e aos outros.

E sobre a ignorância da raiva, há um velho koan sobre um monge que foi até seu mestre e disse:
– Sou uma pessoa com muito raiva. Quero que você me ajude.

O mestre falou:
– Mostre-me sua raiva.

O monge respondeu:
– Bem, no momento não estou nervoso. Não posso mostrá-la.

E o mestre:
– Então, obviamente, isso não é você, já que às vezes a raiva nem está aí.
Quem somos tem muitas faces, mas essas faces não são aquilo que somos. [...]


B. Alan Wallace