2014-01-02

SEXO; ASPECTOS BIOLÓGICO, TEOLÓGICO, PROBLEMAS








Este outro capítulo (resumo) retirado da Seleta de J.K., por Carlos de Souza Neves, creio poder-nos ajudar a conhecer nossa real natureza humana, e a nos auto-observar acima de nossa moral condicionada.

Pergunta: Qual a vossa atitude em face do problema do sexo, em nossa vida diária?

K: Isso só se tornou um problema pelo fato de não haver amor. Não é assim? Quando realmente se ama não existe problema, há um ajustamento, um entendimento. Só quando perdemos o senso do verdadeiro afeto, desse profundo amor no qual não há sentimento de posse, é que o problema do sexo surge.

E só quando, por completo, nos entregamos à mera sensação, que os múltiplos problemas relativos ao sexo vêm à existência.

Precisamos ser celibatários porque os livros o preceituam? Devemos levar uma vida desregrada, porque outros livros a recomendam?

Vivemos debaixo de um contínuo bombardeio de estímulos sexuais. As coisas mundanas se tornaram extraordinariamente importantes nas nossas vidas; a posição, a riqueza, o nome, assumiram vital significação, porque são meios para se alcançar o poder, a chamada liberdade.

Que acontece à vossa vida? Sois estéril, um imitador, um copista; em tais condições, é naturalmente, o único prazer que vos resta é o sexo, que se torna a vossa fuga.

Por certo, sem o amor não há pureza, e só um coração puro pode encontrar a realidade. Todavia, o homem que sabe amar, ser bondoso, generoso, que sabe consagrar-se completamente a uma coisa, sem pensamento egoísta, esse homem conhece o amor, e esse amor é casto. Onde existe amor, deixa de existir o problema.

Fazendo uso de vossa esposa para satisfação sexual, podeis transformá-la numa prostituta, e isso é perfeitamente respeitável. Sob o disfarce do matrimônio, podeis ser piores do que um animal; e sem o matrimônio, não tendo freio, não conheceis limites.

Quando se tem uma fonte de prazer constante, quando se tem uma renda certa, que acontece? Tornamo-nos embotados, fatigados, vazios, exaustos.

Quanto mais intelectual a pessoa é, tanto mais sexual. E quanto mais sentimento, afabilidade, afeição existe, tanto menos há sexo.

Porque toda a nossa cultura social, mora e educativa está baseada no cultivo do intelecto, o sexo se tornou um problema cheio de confusão e de conflito.
Quando ausente o eu, há criação.

Logo que o mero ato sexual se torna um hábito, torna-se também fatigante e dá mais força à continuidade do eu; e assim se converte o sexo num problema.

Quando amais alguém verdadeiramente, profundamente - não com o amor da mente, mas com aquele amor que vem do coração, vós lhe dais, a ele ou ela, de tudo o que tendes.

Querer resolvê-lo (o problema do sexo) biologicamente, apenas, é absurdo; abeirar-se dele pela religião, ou tentar resolvê-lo como se ele fosse mera questão de ajustamento físico, de funcionamento glandular, ou cercá-lo de tabus e condenações, é muito pueril e estúpido. Este problema exige inteligência de ordem superior.

Sem amor, a vida não tem significação. Envelhecemos sem ter amadurecido. Amar é ser casto. O mero intelecto não é castidade. Só o homem que ama é casto, puro, incorruptível.

O problema naturalmente só poderá ser resolvido quando compreenderdes todo o processo e toda a estrutura do eu: minha esposa, meu filho, minha propriedade, meu carro, meu preenchimento, meu êxito.

De um lado, estais criando, alimentando e expandindo vosso eu; do outro, tentais esquecê-lo, perdê-lo de vista, ainda que por um breve momento. Vossa vida é uma contradição: dando proeminência ao eu e procurando esquecer o eu.

Convertestes o amor numa coisa mecânica, numa fonte de prazer. Isso é amor? Para descobrirdes o que é o amor, tendes que rejeitar tudo o que ele não é. Essa rejeição implica compreensão do que é prazer.

Onde há amor, verdadeiro amor, não existe a questão do pecado, da legalidade ou ilegalidade. Entretanto, a menos que penseis profundamente sobre este ponto, para evitar mal-entendidos sobre o que eu disse, isto poderá conduzir a toda a espécie de confusão.

A cessação dos problemas do sexto está, não na simples legislação, mas na libertação da inteligência criadora, em ser completo na ação, não separando a mente do coração. O problema somente desaparece quando se vive completa, plenamente.

O que interessa saber não é o conselho ou sugestão que eu daria, ou a maneira de dominar a paixão, o desejo sexual, mas sim a maneira de liberar o viver criador.

Que acontece quando dominais um inimigo? Eu posso dominar-vos, mas da próxima vez podeis estar mais forte, e dominar-me. Temos, assim, um jogo que consiste em dominar e voltar a dominar. Entretanto, no momento em que compreendemos uma coisa ela está acabada.

O amor é casto, e, sem o amor, o querermos somente dominar o sexo, ou o cedermos a ele, não tem significado algum. O problema só pode ser resolvido se compreendermos a nós mesmos e a completa esterilidade de nossas vidas; e é somente através do autoconhecimento que será possível a criação, e esta criação é a Realidade, ou Deus.

Ficai, simplesmente, conscientes do que é, de todo o seu significado. Vede como tudo isso é monótono, estéril e estúpido. Vereis que deste percebimento procede uma coisa extraordinária que se chama o amor, e o homem que ama é casto, é puro e conhece a vida.

Tudo o que é produto da mente não é casto; porque a mente, ao criar o ideal da castidade, está se esquivando do que é; e a mente que está tentando tornar-se casta não é casta.

O problema, portanto, não é o sexo, mas, sim, como ficarmos livres do ego; e onde está o ego está o conflito, o sofrimento, a luta. Por isso, existe o constante desejo de repetição.

Só há amor quando há completo esquecimento de si mesmo. Então, havendo amor, tem o ato sexual significação inteiramente diferente.

Esse ato não é, então, uma fuga, um hábito. Só onde está o amor está a castidade, a pureza, mas uma mente que "vem a ser" não tem amor.

sexo, aspectos biológicos, teológicos, problemas
Submitted by mariza amorim on dom, 18/12/2005 - 13:48

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