2014-01-25
Brasão
Deu-me Deus o seu gládio,
porque eu faça
A sua santa guerra.
sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
Autor: Fernando Pessoa
in Mensagem
http://www.youtube.com/watch?v=XYFzNFVm0s0&feature=player_embedded#!
Comentários:
Este poema, sem dúvida um dos mais belos de Mensagem, foi o primeiro a ser escrito (em 1913) e destinava-se a servir de mote a um livro que Fernando Pessoa pensou chamar "Portugal".
O conteúdo incluiria, pelo menos, o equivalente às duas primeiras Partes de Mensagem, mas a índole talvez não tivesse sido integralmente afim.
Este poema, inicialmente chamado "Gládio", foi rebaptizado mas não está totalmente sintonizado com o seu novo nome.
É provável que tenha sido originalmente escrito com D.Sebastião em mente.
O D.Fernando referido no poema é o Infante Santo, que morreu refém em Marrocos.
O gládio era uma espada curta como as utilizadas pelos gregos e pelos romanos.
A sonoridade da palavra era muito apreciada pelos autores italianos, espanhóis e portugueses que a usavam amiúde designando uma espada de qualquer tipo ou, simplesmente, o seu equivalente simbólico.
Lisboa, Portugal.
Setembro 03, 2003
Revisto Agosto 21 , 2007
João Manuel Mimoso
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