- ÊPA BABÀ, ORIXALÁ !
Oxalá é o primeiro Orixá criado por Olorum ou Olodumarè ( Fonte Suprema, Única), também é conhecido pelos nomes de Orixalá e Obatalá.
À Oxalá recebeu de Olodumarè a incubência de criar o mundo. Segundo as lendas, Ele é o Pai de todos os Orixás, e, por extensão e respeito é considerado o Pai de toda a Criação . Portanto, está acima de todos na hierarquia divina.
Pesquisadores associam Oxalá ao elemento Ar. Isso se deve ao fato de ele representar o céu – o princípio e fim de tudo.
Podemos considerar também um outro fator, que se refere-se ao Seu aspecto cristalino, podendo estar associado ao elemento Ar, mas também ao Éter.
Segundo algumas lendas, o céu ( Ar ), ao tocar o mar ( Água ), teria criado os demais orixás que receberam, de Olodumarè, a incumbência de cuidar de todos os seres do planeta.
Outras dizem que Oxalá ( Ar ) " casou-SE " com Yemanjá ( Água ), e essa união deu origem aos Orixás. Ainda há outras crenças que afirmam que Oxalá teve os Filhos Orixás: Iroko, Oxumarê, Iansã e Obaluaiê (Conhecido como Omulu), com Nana Buruku.
Oxalá é a própria cor branca que significa a serenidade, a calma, o silêncio, indicando que Ele dispensa a violência, disputas ou barulho, assim como dispensa as cores fortes.
Essa também foi a cor ditada pelo Caboclo das Sete Encruzilhada, um Caboclo de Oxalá, para tudo o que se refere a Umbanda.
Oxalá é homenageado por todos os devotos e cultuado como a figura do Pai, demonstrando sabedoria a autoridade, mas também é sensível e tem a capacidade de demonstrar sua Força, Poder e conhecimentos sem usar de violência – através da argumentação.
CONHECENDO MAIS OXALA
Oxalá é considerado na África e no Brasil, como sendo o maior dos Orixás. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, igualmente, de branco. Sexta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
É sincretizado com Jesus, O Cristo, com o Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente se não a de ter um enorme prestígio, na Bahia, e inspirar, fervorosa devoção aos habitantes de todas as categorias sociais.
Diz-se que há 16 tipos de Oxalás, sendo Oxalufan e Oxaguian os mais conhecidos e cultuados, aqui no Brasil.
Oxalufan é um Oxalá muito velho, curvado pelo peso do mundo,
Ele apoia seus passos lentos sobre um Paxorô, grande bastão de metal branco, encimado pela imagem de um pássaro e ornado por discos de metal e pequenos sinos.
Em contraste, Oxaguian, considerado Seu filho, é um guerreiro jovem e valente.
Diz a lenda que Ele gostava muito de inhame pilado, prato denominado Yan, em Yorubá, o que lhe valeu o apelido de "o Orixá que come inhame pilado", expressão equivalente, em Yorubá, a Orixá je iyan, que daria origem ao nome Oxagiyan.
A saudação aos dois Orixas é: - EPA - BABÁ! , "Viva o Pai".
Existe uma lenda, difundida na África e contada na Bahia, segundo a qual "Oxalufan rei de Ifan tinha decidido fazer uma visita a Xangô, rei de Oyo, seu vizinho e amigo.
Antes de partir, Oxalufan consultou um Babalaô para saber se sua viagem se realizaria em boas condições .
O Babalaô respondeu que ele seria vítima de um desastre, não devendo, portanto, realizar a viagem. Oxalufan, porém, tinha um caráter obstinado e persistiu em seu projeto.
O Babalaô lhe confirmou que a viagem seria muito penosa, que teria de sofrer numerosos revezes e que, se não quisesse perder a vida, não devia nunca recusar os serviços que, por acaso, lhe fossem pedidos, nem reclamar das conseqüências que disso resultasse.
Deveria, também, levar três roupas brancas para trocar.
Oxalufan se pôs a caminho e, como fosse velho, ia lentamente apoiado em seu cajado de estanho. Encontrou, logo depois, Exu Elupo ".
Exu-dono-do-azeite-de-dendê", sentado à beira da estrada com um barril de azeite de dendê ao seu lado.
Após uma troca de saudações, Exu pediu a Oxalufan que o ajudasse a colocar o barril sobre a sua cabeça. Oxalufan concordou e, durante a operação, Exu derramou de propósito, maliciosamente, o conteúdo do barril sobre Oxalufan, pondo-se a zombar dele. Este não reclamou, seguindo as recomendações do Babalaô.
Lavou-se no rio próximo, pôs uma roupa nova e deixou a velha como presente.
Continuou a andar, com esforço, e foi vítima, ainda, por duas vezes, de tristes aventuras com Exu-Eledu, "Exu-proprietário-do-carvão-de-madeira" e Exu Aladi, "Exu-proprietário-do-óleo-de-amêndoa-de-palma".
Oxalufan, sem perder a paciência, lavou e trocou de roupa após cada uma das experiências. Chegou, finalmente, à fronteira do reino de Oyo, e lá encontrou um cavalo que havia fugido, pertencente à Xangô.
No momento em que Oxalufan quis amansar o animal, dando-lhe espigas de milho, e tendo a intenção de levá-lo ao seu Senhor, os servidores de Xangô, que estavam à procura do animal, chegaram correndo.
Pensando que o homem idoso fosse um ladrão, caíram sobre ele com golpes de cacete, e jogaram-no na prisão. Sete anos de infelicidade se abateram no reino de Xangô.
A seca comprometia a colheita, as epidemias acabavam com os rebanhos, as mulheres ficavam estéreis.
Xangô, tendo consultado um Babalaô soube que toda esta desgraça provinha da injusta prisão de um velho homem.
Após seguidas buscas e diversas perguntas, Oxalufan foi levado à Sua presença e Ele reconheceu seu amigo Oxalá.
Xangô, desesperado pelo que havia acontecido, pediu-lhe perdão e deu ordem aos seus súditos para que fossem todos vestidos de branco e guardando silêncio em sinal de respeito, buscar água três vezes seguidas a fim de lavar Oxalufan.
Este, voltou em seguida à Ifan, passando por Ejigbo para visitar seu filho Oxagiyan, que feliz por rever seu pai, organizou grandes festas com distribuição de comidas a todos os habitantes do lugar".
Esta lenda é comemorada todos os anos, na Bahia, em certos terreiros, particularmente naqueles de origem Ketu, provenientes dos candomblés da Barroquinha. O ciclo dessas festas se estende por várias semanas.
Numa sexta-feira, dia da semana que no Brasil é consagrado a Oxalá, os Axés do Orixá são retirados do seu Peji e levados em procissão até uma pequena cabana, feita de palmas trançadas e simbolizando a viagem de Oxalufan, sua ida a prisão e seu cativeiro.
Na sexta-feira seguinte, ou seja, sete dias após, representando os sete anos do carcere, tem lugar a cerimônia da "Água de Oxalá", águas para lavar Oxalá.
Todos os que participam da cerimônia chegam à noite,
de véspera. O maior silêncio é observado a partir da quinta-feira, ao findar do dia, estendendo-se até a manhã do dia seguinte.
Os participantes vão, antes da aurora, pegar a "Água de Oxalá", todos vestidos de branco e com a cabeça coberta com um pano igualmente branco.
Formam um longo cortejo que vai em silêncio, precedidas por uma das mais antigas mulheres dedicadas a Oxalá, que agita sem parar um pequeno sino de metal branco, chamado Adjá. Fazem três viagens até a fonte sagrada.
Nas duas primeiras a água é derramada sobre os Axés de Oxalá. Esta parte do ritual é realizada como lembrança das pessoas do reino de Oyó que foram, em silêncio de vestidas de branco, buscar água para Oxalufan se lavar.
Na terceira vez, que corresponde ao nascer do dia, os vasos cheios d'água são arrumados em volta do Axé de Oxalá.
A proibição de falar é sustada, cânticos acompanhados pelo ritmos dos tambores são entoados, e as incorporações ocorre entre as filhas de Oxalá como testemunhos da satisfação do Orixá.
No domingo seguinte, exatamente uma semana depois, tem lugar uma cerimônia pouco comemorada, mas muito importante, uma procissão leva os Axés de Oxalá de volta ao Seu Peji, simbolizando a volta de Oxalufan ao Seu reino.
O terceiro domingo, que fecha o ciclo das cerimônias, é chamado de "Pilão de Oxagiyan" e evoca as preferências gastronômicas desse Oriixá. Distribuições de comidas são realizadas em seu nome, a fim de festejar a volta do Pai.
Neste dia, uma procissão leva ao barracão pratos contendo inhame pilado e milho cozido, sem sal e sem azeite de dendê.
Pequenas vara de Atorí, chamadas Ixans, são entregues aos Oxalás manifestados, nas pessoas ligadas ao terreiro e aos visitantes importantes.
Uma roda se forma, onde as dançarinas passam curvadas diante dos Orixás que lhes dão, na passagem, um ligeiro golpe de vara; por seu lado, os que foram assim tocados, dão e recebem, golpes de vara na assistência.
Uma versão sincretizada da Água de Oxalá é a lavagem do chão da Basílica do Senhor do Bonfim que acontece, todos os anos, na Bahia, na quinta-feira precedente ao domingo do Bonfim.
Alguns piedosos católicos tinham o hábito de lavar, zelosamente o chão da igreja. Um ato de devoção que não é particular a este templo. No Bonfim, porém, tomou um caráter diferente.
A devoção, ao Cristo como O Orixá Oxalá, fizeram uma aproximação entre as duas lavagens: a dos Axés de Oxalá e aquela do solo da igreja que leva o nome católico do mesmo Orixá.
Os devotos aparecem em grande número a fim de participar da lavagem, na quinta-feira do Bonfim.
Esta festa é, atualmente, uma das mais populares da Bahia. Neste dia, as baianas, vestidas de branco, cor de Oxalá, vêm em cortejo à Igreja do Bonfim. Trazem nas cabeças potes contendo água para lavar o chão da Igreja e flores para enfeitar o altar.
São acompanhadas por uma multidão, onde sempre figuram as autoridades civis do Estado da Bahia e da Cidade de Salvador.
O imenso respeito que o Grande Orixá inspira aos adeptos do candomblé revela-se plenamente quando chega ao momento da dança de Oxalufan.
Com esta dança, fecha-se o Xirê, e os outros Orixás presentes vêm cercá-Lo e sustentá-Lo, levantando a bainha de sua de Sua roupa para evitar que ele a pise e venha a tropeçar.
Oxalufan, e aqueles que os escoltam, seguem o ritmo do atabaques que interrompem a cadência em intervalos regulares, levando os fiéis a uma entrega que culmina com verdadeiro êxtase.
Não é raro ver espectadoras, serem tomados pelo ritmo, dançam em seus lugares, acompanhando o desfalecer do corpo e a retomada dos movimentos, conjuntamente com os Orixás, numa doce comunhão com O Grande Orixá.