2012-02-04

O Nascimento de Jesus







Naqueles dias foi expedido um decreto de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado.

Este recenseamento foi primeiro (antes) do que se fez no tempo em que Quirino era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.

José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por ser ele da casa e família de David, para alistar-se, acompanhado de Maria, sua noiva, que estava grávida.

Estando eles ali, completaram-se os dias de dar à luz, e teve um filho primogênito, e o enfaixou e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Naquela região havia pastores que viviam nos campos e guardavam seus rebanhos durante as vigílias da noite.

Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor brilhou ao redor deles, e encheram-se de grande temor. Disse-lhes o anjo:

- “Não temais, pois vos trago uma boa notícia de grande alegria, que o será para todo o povo, e é que hoje vos nasceu, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor; e eis para vós o sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura”.

De repente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste, louvando a Deus e dizendo:

- “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”.

Quando os anjos se haviam retirado deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros:

- “Vamos até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”.

E foram a toda pressa e acharam Maria e José e a criança deitada numa manjedoura; e vendo isso, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito desse menino.

Todos os que o souberam admiravam-se das coisas que lhes referiam os pastores. Maria, porém, guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração.

Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus, por tudo quanto tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado”.

(Evangelho de Jesus-Cristo Segundo Lucas, 2:1-20).




Comentário:

Vemos que Lucas fornece algumas informações históricas, de onde é possível localizarmos o fato no tempo. Jesus nasceu durante o reinado de Herodes; segundo alguns historiadores, Herodes teria morrido no ano 4 a. C., ou seja, no ano 750 de Roma.

Os historiadores Josefo (Antiquit. Jud. 17, 8, 1 e 17, 9, 213) e Bellum (Jud. 1, 33, 1 e 8; 2. 6. 4) informam que a morte de Herodes se deu poucos dias após um eclipse lunar (Antiquit. Jud. 17. 6. 4. parágrafo 187), fato que se deu exatamente, segundo os astrônomos modernos, entre os dias 12 e 13 de março do ano 4 a. C. (conf, Scheirer, 1.c. pág. 416). Portanto, com estas informações históricas de Mateus:

- “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia no tempo do rei Herodes” -Mt. 2:1, e as de Lucas acima transcritas, é possível concluir, cientificamente, que Jesus teria nascido no ano 7 antes da era cristã, achando-se, portanto, o nosso calendário atual, dito cristão, atrasado em 7 anos na sua contagem do tempo.

Outra informação esclarecedora fornecida por Lucas neste passo evangélico é o recenseamento ordenado por um edito de César Augusto (Otávio) que se iniciou no Egito no ano 10-9 a. C. (conf. Grenfell & Hunt, oxyrinchus papyri, tomo 2, pág. 207-214), que teve prosseguimento na Gália (conf. Dion 53, 22, 5) e na Síria, por Quirino (conf. Corpus Inscript. Lat. 3, 6687) no ano 7 depois de Cristo.

O recenseamento a que se refere o evangelista foi anterior ao de Quirino, ou seja, foi realizado por Sentius Saturninus, Legado Imperial na Palestina, de 8 a 6 a. C. (conf. Tertuliano, Patrol. Lat. vol. 2, col. 405, e Schurer, Geschichte des Judischen Volkes, tomo 1, pág. 321). Isto corrobora a hipótese do ano 7 a. C. para o nascimento de Jesus.

Documentos históricos não reforçam a necessidade de recensear-se na cidade de origem (Belém, no caso de José) e, sim, na sede do município onde residissem (a sede do município de Nazaré não era Belém, portanto, se José e Maria residissem mesmo em Nazaré, antes do nascimento de Jesus, era lá que teriam que se recensear).

José fez-se acompanhar de Maria (ainda noiva, segundo Lucas; já sua esposa, segundo Mateus) por ser também ela da “casa e família” de David e, com muito maior razão, por estar ela em adiantado estado de gravidez. Na cidade de Belém, Maria dá à luz o seu filho primogênito: Jesus.

O fato de ser primogênito não determina que posteriormente Maria não viesse a ter outros filhos, antes, esta expressão tem o objetivo de informar que Jesus era o “Bekor”, que pertencia a Deus, devendo-Lhe ser consagrado desde o nascimento (conf. Êx. 13:2 e 34:19).

A seguir o evangelista faz referência aos pastores que estavam “no campo”, onde “viviam”. Porém, após as grandes chuvas de novembro e já no rigor do inverno, em fins de dezembro, os rebanhos já haviam sido recolhidos aos currais desde novembro. Daí é fácil deduzir-se que o nascimento de Jesus não ocorreu, de fato, em dezembro.

Em verdade, somente por volta do ano 354 da era cristã a Igreja de Roma, atual Vaticana, vulgarizou o nascimento de Jesus como tendo ocorrido a 25 de dezembro, para coincidir com a festa pagã de Mitra (natalis invicti solis), o nascimento do Sol invicto ou a entrada do sol no solstício de inverno (no oriente, é claro); nessa época os bispos da Síria e da Armênia acusaram os romanos de “adoradores do Sol” e “idólatras”.

Aos pastores apareceram os “anjos” (mensageiros) de uma boa notícia: o nascimento de um Salvador, que é o Cristo Senhor. É a primeira vez que a palavra “Salvador” aparece em o Novo Testamento; Mateus e Marcos não a empregam, Lucas a emprega aqui e em Atos (5:31 e 13:23) e João em 4:42.

Entretanto, a palavra “Salvador” é muito freqüente em Paulo; no Antigo Testamento esta palavra se refere invariavelmente a YHWH, corroborando, mais uma vez, a idéia de que Jesus é, de fato, a encarnação de YHWH.

Sobre o versículo 14:

- “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade” -faz referência à verdadeira paz de espírito que sentem todos aqueles que andam segundo os preceitos de Deus (Divina Presença) na intimidade de seus corações; quanto a isto, Jesus afirmou:

- “Eu vos dou a paz, eu vos deixo a paz; não a paz que o mundo vos dá, mas a paz de Deus” -significando que, mesmo sob as mais intensas provas e sofrimentos, é possível àquele que vive sintonizado com Deus em seu íntimo, sentir-se em paz.

Em contrapartida, é claro e explícito que aquele que assim não age jamais experimentará a verdadeira paz...

Logo que a incrível visão (materialização de espíritos angélicos?) desapareceu de diante de seus olhos, os pastores resolveram sair à procura do menino e acabaram por encontrá-Lo sob os cuidados de seus pais.

A palavra grega utilizada para exprimir “céu”, nesta passagem, é a mesma que se utiliza atualmente para qualificar a “atmosfera”, o “ar”, significando que as formas materializadas dos “anjos” se dissolveram no “ar”, na “atmosfera”, ou seja, no “céu”.

O evangelista, que escreveu a sua versão do Evangelho a pedido do Apóstolo Paulo, tendo a mãe de Jesus como sua principal fonte de informações, afirma que Maria, tomada de surpresa pelo relato dos pastores, guardava tudo isto “no seu coração”.

De fato, hoje em dia, muitas correntes espiritualistas afirmam ser o coração a sede da “mente superior” (aquela ligada à Divina Presença em nós), ou seja, da “memória espiritual”, e da “memória superconsciente” (da Individualidade Divina ou Ego Profundo do espírito), porque a mente superior e a memória superconsciente são atributos do Eu-Interno, do Cristo de Deus que Em-Nós-Habita, daquilo que neste trabalho denominamos “Divina Presença”; não está longe o dia em que a própria ciência profana se convencerá disso...

Observemos que Jesus “nasceu” numa manjedoura porque não havia lugar para seus pais na hospedaria.

Naquele tempo era comum encontrar-se uma manjedoura numa gruta ou mesmo num estábulo interno da habitação, onde, no rigor do inverno, se guardavam os animais; este estábulo consistia numa “puxada” em que podia abrigar-se também pessoas com bastante conforto, e isto ocorria com freqüência quando todos os outros cômodos da casa já estavam ocupados.

Porém, é importante relacionarmos o ocorrido com uma experiência mística particular onde o Cristo (Divina Presença) “nasce” num estábulo (residência de animais que pode ser comparado ao corpo físico, residência de células-animais) e é depositado na manjedoura (local onde os animais se alimentam, no corpo físico pode ser comparado ao intelecto, onde o animal-homem se alimenta).

Portanto, é na solidão (gruta) do estábulo (corpo físico) que a Divina Presença Em Nós se manifesta.


* Ruach Kadosch

*O Autor autoriza a cópia e a divulgação desta mensagem.

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