Tenho alguns vizinhos que premiam o bairro todo com música gospel. Hoje duas delas ( as que estão mais adiante ) me levaram a fazer um paralelo entre o que dizem e o que há um bom tempo venho pensando. Então um de meus Guias aproximou-se e me convidou a escrever a respeito.
Sei que só porque são músicas gospel, muitos torcerão o nariz e nem vão querer saber do que se trata, e embora sejam os que mais precisam ler esse texto, o preconceito é de quem assim agir, não meu.
E como acabou de dizer o meu Exu: " O bom discípulo transforma qualquer coisa em mestre, já o mal discípulo transforma um bom mestre em qualquer coisa." ( Exu Tranca Ruas.)
AS MÚSICAS:
Trecho de Casa Cheia
" A casa estava cheia e o povo reunido
alguns desanimados e outros quase desistindo
Pois esperar eu sei que não é fácil meu irmão
mas tem horas que o melhor é esperar espere então
Não posso afirmar se todos estavam ligados,
qual era a conversa naquele momento(...)
se o espírito de Deus tocar ninguém vai resistir..."
( Canta Lauriete a Casa Cheia)
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Visita ao Desviado
Querido irmão eu venho te visitar
Senti sua ausência e por isso venho te ver
Me recordei dos hinos que você cantava
Não suportei a saudade vim te ver.
Trago um abraço apertado da igreja
E um sorriso carinhoso do pastor
Da mocidade um forte aperto de mão
E uma lembrança do coral onde você cantou
Sua classe manda lhe dizer
Que o seu nome da matricula não tirou
E o lugar onde você se sentava
Até hoje ninguém o ocupou
Nas vigílias eu não te vejo mais
Na oração eu não vejo você
Não suportei a saudade apertando
E por isso vim correndo pra te ver
Refrão
O que foi meu irmão
Que houve com você
Volte para o seu lugar
O que foi com você (bis)
Recitando:
Querido irmão eu venho te visitar...
O que foi com você.
( Lauriete )
http://www.youtube.com/watch?v=TOQhF7z6Wkw&feature=endscreen&NR=1
Mas o que tem a ver letra de música gospel com o cotidiano da mediunidade umbandista? - Muita coisa, eu afirmo!
Tenho observado que, se não todos, pelo menos a maioria dos(as) dirigentes de Templos desejam e falam em crescimento e ampliação do espaço ( físico ).
Querem Casas tão grandes que se asemelhem às igrejas neopentecostais, em que equipes precisam trabalhar por turno para atenderem a demanda.
Fico me perguntando: será bom que um Templo se iguale à uma fábrica de produção vulgar onde as pessoas mal se conhecem, onde as pessoas viram números e o propósito essencial de acolhimento acaba se perdendo em meio à distribuição de senhas para o passe e outras atividades em nome da organização padronizada?
Parece que a preocupação maior é atender e impressionar bem aos que vem em busca de ajuda, ou aos que chegam de fora.
Enquanto isso, nas correntes, quanta gente sofrendo de solidão real e acompanhada... Definhando emocional, afetiva e espiritualmente!
Amor, amparo e educação começa “dentro de casa” certo! Então é importante neste momento avaliarmos como estamos nos relacionando com os companheiros/irmãos de dentro da " nossa Casa ", no nosso cotidiano como umbandistas.
Conseguimos perceber seu olhar, seus gestos diferentes do que normalmente ele se apresenta, nesse ou naquele dia?
Quando faltam durante um bom tempo, o nosso primeiro pensamento é de malícia, censura ou preocupação?
Por um momento sequer, passa pela nossa cabeça que possam estar em grandes dificuldades na vida e, em caso afirmativo, oferecemos alguma ajuda, algum amparo?, ou lavamos as mãos, é mais fácil dispensá-lo, afinal o que não faltam são candidatos ao desenvolvimento mediúnico!
" Fora da caridade não há salvação." - Lembra-se! Ou o(a) irmão(ã) da Casa não merece nossa caridade?
Os que, bravamente, retornam após um período de afastamento, são acolhidos com compreensão, alegria e apoio ou com cobrança e desconfiança?
Ah, sim, e as piadinhas maldosas, os olhares enviesados, as meias-vozes, vale tudo para tornar o infeliz em intruso, tudo em nome da " ordem ”... Afinal Terreiro não é " a casa da mãe joana "!
A pergunta que em mim não quer calar é: Oferece- se compreensão e solidariedade ( nem falarei em simpatia, empatia, afeto, etc..), na mesma proporção em que se acusa e cobra?
Pautados em dogmas e regras esdrúxulas que inibem a espontaneidade e a amizade entre os médiuns, os terreiros acabam chegando ao egocentrísmo e à auto-paródia.
Despreza-se o diálogo verdadeiro minando qualquer possibilidade de relações saudáveis.
Talvez eu seja um tipo de gente ultrapassada, mas me espantam e assombram pessoas que se esforçam para manter um discurso " políticamente correto " e não se preocupam em ser humanamente aceitáveis!
É hipocrisia o tramento mútuo de " irmãos "! Não congregamos uns com os outros, congregamos somente com nossos umbigos e apenas passamos uns pelos outros, como se fossemos transeuntes na rua.
A chegada ao Terreiro parece a chegada à uma fábrica, onde, após bater o cartão, viramos autómatos. A preocupação não é em ser humanos espontâneos, mas robôs impecáveis, nos quais, até a incorporação ocorre em " linha de produção"...
Andamos muito ocupados em ser perfeitos, ainda que apenas no discurso ( sabe, aquela média no social, como diria Barão de Mauá " para inglês ver ". ), pois no dia-a dia " pecamos " a todo instante, ao apontar as falhas alheias na vã tentativa de destacar uma pretensa superioridade que estamos longe de possuir...
" - Vaidade, tudo é vaidade!" ( Salomão) E ilusão!
Se um irmão está sofrendo e procura ajuda, ele é papa- passes. Com direito, a sorrisinho paternalista ( leia debochado ) e tapinha nas costas.
Se ele se vira sozinho, exatamente por não querer se expor, é metido, e se acha o poderoso dono da verdade. Então vem a cômoda sensação de superioridade, sem nada se fazer pelas reais necessidades do outro.
" Médiuns que tem firmeza de cabeça leva uma vida zen...Onde tudo é azul! " ele não pode ter os mesmos problemas comuns aos consulentes, como doenças, cansaço, tristezas, desemprego ou coisas mais graves. - Haja santidade!
Lógico que por essa ótica é melhor fechar em si, pois ser um humano normal é arriscar-se a perder a credibilidade e ser excluído do grupo, com o estigma marginalizante de caido, ou seja, abandonado pelas Forças e assediado por kiumbas.
O objetivo primordial do templo/igreja de qualquer religião é proporcionar um local em que os fiéis se sintam irmanados, fortalecendo-lhe a fé em D'us e confiança em si mesmo e na comunidade para então congregar, ou seja, se re-ligar à Divindade.
Já o/a sacerdote, diferente do que muitos pensam, não tem a função de ponte entre os fiéis e D'us. Sua função é a de instruir, oficiar os trabalhos e manter a comunidade unida, quer dizer, ele é ponte entre a própria comunidade. Ele é um facilitador.
Simbolicamente, ele é o primeiro servo de D'us na comunidade a qual pertence. Quando alguém vai a um templo/igreja procurar ajuda, ele não busca pelos membros, mas pelo/a sacerdote.
Porém, hoje em dia o sacerdócio está se profissionalizando, e como profissão serve ao sistema não às pessoas. Oras, o sistema é o Estado que, no nosso país se diz laico.
Profissão tem " status " social, pois, fora da utopia, as sociedades são hierarquizadas e, para se manter o " status " faz-se necessário produzir, consumir e ostentar (desde títulos acadêmicos, de agremiações e profissionais a bens temporais).
Manter o “status” dá muito trabalho. As inúmeras reuniões, viagens e marketing, fins de semana e feriados..., somados à necessidade exacerbada de se ter, tomam-se muito tempo de se ser. Assim os compromissos espirituais deixam de ser prioridade.
Os trabalhos espirituais passam a ser somente mais uma tarefas entre tantas a cumprir, vira " bater-cartão "...
Atende-se os filhos da Casa “correndo,” como quem dá um pulinho na porta da escola para pegar os filhos na saída.
Mal acabou o fechamento dos trabalhos, saem em disparada para “ atender Fulano e Beltrano com um status convenientemente superior. ”...
Ora, isso não é congregação, no máximo uma rudimentar agregação ( rudimentar porque há um grande rodízio de pessoas, as cara se renovam todos os dias; ), e senão fosse o marketing a desagregação seria certa.
O umbandista precisa acordar para esse fato, quanto mais superficial a convivência, quanto mais frieza nas relações, mais fraca é a Banda. Essa desconfiança implícita nas relações ( internas! ) é o que torna a Umbanda alvo para ataques e perseguições.
Como exigir dos de fora o que não temos a sensibilidade para dar aos de " dentro " !?
O cultivo de laços de amizade que vão além das hora " de branco" ? Não essas relações de " matadouros" em que uma confraternização de Guias mais parece passarela de egos insandecidos!
Cadê a amizade, a irmandade, o interesse verdadeiro pelo bem-estar uns dos outros?... CADÊ A CARIDADE?! Hein, " irmãos " umbandistas! Vocês podem sentir isso?!
Talvez seja mais fácil culpar o outro, por medo da violência dos dias atuais, alegando que é perigoso confiar em estranhos, mas como deixar de ser estranho se ninguém quer conhecer ninguém!? Se ninguém baixa a guarda! Todos " têm medo com pedras nas mãos "!
Coragem é prova de fé, desconfiança é pre-julgamento e tempo e distancia é eleição de prioridades!
Há tantos irmãos de Casa, ao nosso lado, precisando da nossa tão alardeada caridade. Mas prefrimos parecer loucos ( leia brasileiros mesmo), damos o melhor aos de fora enquanto os de casa passam fome.
Há pessoas tão carentes que se lhes damos apenas um abraço, ela nos elege como especiais. Um abraço, será que é muito?! É tão difícil!?
Quando todas as pessoas se sentem valorizadas, quando são verdadeiramente acolhidas em ambiente de aceitação e igualdade, todo o grupo se torna mais vivo, equilibrado, fiel e produtivo.
Será que as palavras do Caboclo não toca mais nossos corações?
" Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
Fundava-se, naquele momento, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, assim denominada "porque assim como Maria acolhe o filho nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda ou conforto".
(...)
" Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. " ( Caboclo das Sete Encruzilhada ) [ Leia o texto inteiro no final dese post. ]
Sejamos honestos, com tantas guerras entre os " grandes" das falanges encarnadas, estamos cumprindo os Mandamentos de Umbanda, segundo o que foi determinado pelo Caboclo?
O que me foi ensinado, não por encarnados, é que a Umbanda é cristã, ou seja, ela tem por base o que O Mestre Jesus ensinou. Logo:
“Reconhecereis os meus discípulos por muito se amarem...” ( Jesus)
Pergunto: Cadê o amor entre umbandistas?
Como falar em caridade aos consulentes quando sequer conseguimos a caridade entre nós, que nos colocamos sob a mesma Bandeira, a de Oxalá?!
Os amados Guias têm nos alertado que de " grandes " religiosos o inferno já está cheio... Então paremos de entulhar o inferno, de travar a Umbanda e o caminho da queles que de fato buscam pela verdade..
- Esse texto foi inspirado por um Exu Tranca Ruas e escrito por VSL, em homenagem à Grande Mãe Velada, a Sagrada Umbanda.
TEXTO DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS:
Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la:
"A Umbanda tem progredido e vai progredir.
É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.
O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.
Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxósse, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxósse, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.
Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.
Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que safram desta Casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.
Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares.
Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.
Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.
Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".
Caboclo das Sete Encruzilhadas