2011-11-09

ORIGENS- Espiritismo, Candomblé e Umbanda









Origens do Espiritismo, do Candomblé e da Umbanda



A idéia deste tópico seria traçar diferenças entre as origens do Espiritismo, da Umbanda e do Candomblé – três religiões, a meu ver, DIFERENTES entre si.

O Espiritismo,
dentre os três, é o mais fácil, disparadamente, de verificar suas origens. Remete-se ao ano de 1857 quando do lançamento, por Allan Kardec, do livro “O Livro dos Espíritos” (LE) – o ‘pontapé inicial’’ da Doutrina Espírita (DE), na França. Portanto, possui origem francesa. Aliás, o próprio termo ‘Espiritismo’ fora cunhado por Kardec,

Kardec juntou uma quantidade considerável de comunicações mediúnicas, submeteu-as a uma rigorosa análise pela razão, e chegou a algumas “conclusões” (entre aspas, pois o próprio Kardec coloca, logo no início do LE, que “nada de novo ali trazia”).


Verdade que muitos colocam que o que se conhece por Espiritismo atualmente, no Brasil, não estaria “de acordo” com o Espiritismo “que deveria ser” .... mas não vou entrar neste ‘caminho’ – o que interessa aqui é falar sobre as ORIGENS das três religiões/doutrinas.


Ainda em relação ao Espiritismo, tem-se nele uma BASE (uma doutrina) ESCRITA, coisa que NÃO ocorre com o Candomblé nem com a Umbanda


Já no Candomblé,
suas origens são bastante diferentes. Como já foi dito, seus conhecimentos (doutrinas, ritualísticas, etc) são passados VERBALMENTE, e dentro dos barracões (apelido dado a centros candomblecistas, por os mesmo – via de regra – funcionarem am grandes barracões). 


Escrita no Candomblé NÃO existe, de forma alguma – o máximo que se pode encontrar de livros sobre o mesmo, são de autores CURIOSOS, e não de (verdadeiros) candomblecistas.

Na África, à época do descobrimento e colonização do Brasil (e desde há muito antes), não existiam países como hoje concebemos, O que existiam eram ‘aldeias’, ‘tribos’ – algumas bastantes numerosas. Os africanos as chamavam (as tribos ou aldeias) de NAÇÕES. Analogamente às nações Apache, Sioux, ertc nos Estados Unidos. 


Cada uma dessas nações possuía sua própria cultura, suas “maneiras específicas” de manifestações religiosas, sendo até as línguas diferentes em cada nação. Muitas vezes duas pessoas de nações diferentes não se entendiam verbalmente, tamanhas as diferenças culturais entre elas.

Assim, resumidamente, tem-se diversas nações, cada uma delas com um “sistema de culto” específico. Algumas dessas nações deram origens a países, como Congo, Angola, etc.


Em cada uma dessas nações, existia o que se chama de “Culto de Nação” – a manifestação religiosa DAQUELA nação. Por exemplo, se compararmos duas nações quaisquer, dentre todas que existiam à época, não encontraremos os mesmos orixás (aqui basta entender orixás como “conceitos primordiais dos Cultos de Nações”) sendo cultuados nas duas. Inversamente, a ‘estória’ de cada orixá será algo diferente em cada nação.


Com a trazida de escravos da África para Brasil (tráfego negreiro), e também (principalmente) pela seleção (**) de escravos de origens diferentes (de nações diferentes) nas senzalas chegou-se a uma “grande salada cultural” dentro de cada senzala pelo país afora. Numa mesma senzala, era comum encontrar-se indivíduos oriundos de várias nações diferentes, com CULTOS diferentes entre si. 


Com o tempo (séculos de escravidão), essa “grande salada” de diversos ‘Cultos de Nações’ (diferentes entre si à princípio) foi-se “se amoldando”, chegando-se ao que chamamos atualmente de Candomblé.

(**) Esta seleção era feita pelos compradores de escravos, os fazendeiros, procurando com isso dificultar a inter-comunicação entre os escravos nas senzalas, evitando-se assim a organização de revoltas e motins.


Portanto, o Candomblé, em termos de origens, é brasileiríssimo – resultado de uma “mistura” de diversos (e diferentes) ‘Cultos de Nações’ (estes sim, africanos). Como curiosidade, não há – hoje nem há 500 anos atrás – um único Culto de alguma Nação, na África, sequer semelhante, em termos de ritualísticas, conceitos e doutrinas, com o Candomblé exercido no Brasil.


Chegamos à Umbanda, e aqui ‘complica”. pois nem mesmo dentro do “movimento umbandista” existe um consenso 100%. Não existe um movimento especificamente (pelo menos no plano físico, entre os encarnados) – apenas falo genericamente em relação ao conjunto de todos os umbandistas.

Antes de adentrar nas origens propriamente da Umbanda, colocarei que a Umbanda (assim como o Candomblé)
não possui uma doutrina escrita – seus conhecimentos (ritualísticas, doutrinas, etc) são passados oralmente dentro dos terreiros.

Existem sim alguns autores umbandistas, que escrevem que seria (no entendimento
deles) uma ‘doutrina umbandista’, mas tais livros estão longe de serem considerados uma ‘unaminidade’ dentre os umbandistas. Portanto, prefiro considerar (pelo menos por enquanto, e – acredito eu – ainda por muito tempo) que não existe uma “doutrina umbandista escrita”.
E, para ‘complicar’ um pouco mais, existe uma comparação que (simbolicamente) coloca a Umbanda como um grande edifício, com vários apartamentos. Cada um desses apartamentos possui sua ‘decoração’ específica, mas – observe a ‘sutileza’ – todos os apartamentos são “suportados” pela estrutura do edifício (seus alicerces, suas vigas, etc).


Essa estrutura (do edifício) seria a “doutrina umbandista” ..... existem diversas características próprias entre dois (quaisquer) terreiros umbandistas, e os dois são ‘pertencentes” à Umbanda !

Quanto às origens da Umbanda, bem ... conheço pelo menos três “propostas” (ou ‘hipóteses’) diferentes. Da “menos aceita” à “mais aceita”, sem  entrar no mérito de qual delas é a 'correta', são elas:


Uma primeira
diz ser a Umbanda, ou melhor, os conhecimentos umbandistas, trazidos de extra-terrestres (não especificam exatamente em que época, nem quais ET´s). Existem grupos (umbandistas) no Planalto Central que sustentam esta hipótese. Nesta ‘hipótese’ as origens da Umbanda seriam extra-terrestres.

Uma segunda
‘hipótese’ para a origem da Umbanda, diz que ela, ou melhor, seus conhecimentos (de magia, inclusive), existiam já na Lemúria (raças antiqüíssimas, anteriores mesmos à Atlântida, de há centenas de milhares de anos atrás – as primeiras raças de corpos físicos ‘humanóides’ disponíveis para encarne de espíritos aqui na Terra).

Esses conhecimentos teriam sido aviltados, dilapidados, mal utilizados mesmo (surgindo então a “magia negra”, que significaria, neste contexto, “mau uso da magia”) ao longo dos eons. Aliás, uma curiosidade: nesta ‘hipótese’, a mediunidade é colocada como conseqüência dessa má utilização do intercâmbio com o astral (que era até então ‘livre’), ou seja: a mediunidade surgiria a partir daí.


Esses conhecimentos foram então ‘guardados’ (escondidos mesmo) em algumas linhas esotéricas (notadamente no Oriente – Tibet, Egito e Índia).

No final do século XIX e início do XX, a “organização da alta espiritualidade” (entenda-se como “cúpula dirigente da evolução dos ‘encarnantes’ na Terra”) achou que já chegara a hora de se “retomar” tais conhecimentos, com muita parcimônia e calma.


Assim, “instituiu-se” a Umbanda na pessoa do Caboclo Sete Encruzilhadas (de quem falarei mais na terceira hipótese, a seguir). Claro está que logo chamaram a essa interpretação (da Umbanda) de “Umbanda Esotérica” – sem nenhum demérito na utilização do termo “esoterismo”, pois o mesmo possui significado bastante diferente de “superstição”.

Essa interpretação – quanto às “reais” origens da Umbanda – apareceu aqui no Rio (“berço da Umbanda”), e vem se desenvolvendo (bastante) também na região Sul do país. Existem centros de “Umbanda Esotérica” espalhados pelo país – tenho notícias de locais sérios em São Paulo – mas os ‘principais’ seriam daqui do Rio e do Sul.

Nesta ‘hipótese’ (“Umbanda Esotérica”), as origens da Umbanda seriam ‘divididas’ segundo dois aspectos:

Enquanto
prática, relativo ao que se pratica hoje, suas origens são brasileiras (a partir da manifestação doCaboclo Sete Encruzilhadas).

Enquanto
conhecimento (as bases de suas ritualísticas, seus conceitos “mais profundos’ ou ‘teóricos’ etc), suas origens seriam daqui mesmo do planeta Terra, mas ancestrais, de vários eons atrás – estaria acontecendo, hoje, um ‘resgate paulatino’ dos conhecimentos antiqüíssimos (alguns dizem que brasileiro também – “Baratzil “– mas teria que entrar em assuntos muito ´obtusos’, como “onde ‘ficava’ a Lemúria, para comentar algo ...)

Finalmente chego à terceira ‘hipótese’ –
  a mais amplamente aceita pela imensa maioria dos umbandistas. A Umbanda surgiu com a manifestação mediúnica do espírito que se denominou “Caboclo Sete Encruzilhadas”, em um Centro Espírita (então filiado a FEB), no ano de 1908, em Niterói (próximo ao Rio). Tudo, seja o aspecto prático seja o aspecto de conhecimentos, fora introduzido a partir dessa manifestação.

O próprio caboclo, na citada manifestação, disse claramente que ali se iniciava uma NOVA religião, e logo colocou alguns ‘princípios’ (para a então nova religião que estava sendo ‘oficializada’).

Dentre outros, alguns desses ‘princípios’:


- a NÃO cobrança, em hipótese alguma;


- o uso de roupa branca, com a conseqüente nivelação’ dos mediuns, já colocando em prática a humildade – verdadeira “viga-mestra’ da Umbanda – e a não-hierarquização dentre os mediuns encarnados;


- a aceitação de quaisquer pessoas, independentemente de credos, raças ou quaisquer outros ‘atributos pessoais’;


- a NÃO utilização de sacrifícios de animais;


- a ritualística, ou seja, a MANIPULAÇÃO energética objetivando determinados finalidades (formação da egrégora do terreiro, limpeza áurica, etc)

Bem, está aí uma ‘panorâmica geral’ (bem geral .. rs) das origens diferentes do Espiritismo, do Candomblé e da Umbanda.



Por Sérgio Renan