Freqüentemente me pergunto o que acontece com o feminino. Talvez porque esse seja um dos assuntos que me assombram. Mas o fato é que o princípio feminino parece, em nós, ferido.
Mulheres que amam demais, trabalham demais, fazem demais, reclamam demais e se conhecem de menos. Eu vejo mulheres oferecendo o suor, o sangue, o ventre, o corpo, o tempo, a liberdade, o amor, a atenção, o talento e a convicção.
Vejo mulheres competentes, competindo, elegantes, sorrindo, mau-humoradas, malhando. Eu vejo mulheres feridas.
Segundo uma historinha que li via e-mail, o que toda mulher quer é ser soberana de sua própria vida. Sem dúvida.
Aí me lembrei (tenho lembrado de muitas coisas ultimamente – de duas uma: ou tenho ótima memória ou estou ficando velha. Pior ainda, as duas coisas!) de um texto da Mônica Horta cujo título é justamente “Mulheres que Entregam o seu Sol”.
Então, estava eu em minhas andanças cibernéticas quando me deparei – por um providencial acaso – com um desabafo de uma mulher que gostaria de voltar aos anos 20.
“…não me conformo com essa dimensão que a mulher fez do mundo dela e hoje nada mais que vítima desse caso…”
E não é que acabo sempre chegando à mesma conclusão? De que uma sociedade ainda paternalista tem nos feito mal – e não só a nós, como também aos homens. Até quando?
Não me considero “feminista”, penso que antes de sermos homens ou mulheres, somos humanos.
Negar as diferenças é tolice, lutar por direitos equivalentes e justos, necessário. Mas é perceptível que ambas as forças – masculino e feminino – ainda estão em desavença. E me pergunto, por quê? E novamente, até quando?
Confiram o texto da Mônica Horta:
Mulheres que entregam seu Sol
Num mapa astrológico, o primeiro e mais importante símbolo da identidade é o Sol. Não é à toa que as pessoas se autodefinem pelo signo solar.
Quando calcula e desenha o mapa de uma mulher, é comum que o astrólogo perceba um fenômeno interessante: a cliente se apresenta com um tipo de identidade completamente diferente do que pode se esperar só pela observação do mapa.
Por exemplo: um mapa feminino com um sol em Leão, em conjunção com Marte, cria a expectativa de uma identidade forte, criativa, fortemente egóica. Mas, muitas vezes, esta configuração aparece no mapa de mulheres apagadas, sem iniciativa própria, sempre em segundo plano.
O que à primeira vista parece um erro do céu, se explica com facilidade quando se pergunta a ela como era o pai ou como é o marido. Em quase cem por cento dos casos ela descreve o pai, ou o marido, como a mais concreta expressão do que, no mapa, representa a identidade dela.
A maioria dos astrólogos acaba interpretando esse fato como a prova concreta de que o Sol representa o homem que ela vai escolher ou, pelo menos, pelo qual vai se sentir atraída.
Na verdade, isso é apenas a confirmação de que as mulheres são profundamente atraídas pela idéia de “não ser”. De dar a identidade de presente. De entregar o Sol.
É fácil perceber quando isso acontece: Basta acompanhar um casamento desde o início e durante um tempo razoável. A moça bonita, cheia de planos, projetos e desejos, vai perdendo o viço, vai ficando feia, vai perdendo o brilho. Sem o Sol não existe vida.
As mulheres entregam, numa bandeja de prata, o que têm de mais precioso e chamam esse suicídio existencial de amor.
Não espanta que um número enorme de mulheres se separe dos maridos movidas por um sentimento difuso de terem perdido a identidade. E, cheias de ressentimento, acreditam que foi o parceiro que roubou o seu Sol. Mas desse crime ele não pode ser acusado, no máximo, de cumplicidade.
O pior é que o crime foi premeditado, maquiavelicamente planejado desde aquele momento, sempre inesquecível, em que uma mulher percebe nas atitudes de um homem um esboço daquilo que ela queria ser algum dia na vida.
Se encanta e imediatamente embarca, de corpo e alma no projeto de “não ser”. Começa entregando o nome. Com o nome, vai embora Mercúrio, o planeta da palavra. O que transmite para os outros os desejos do Sol.
A partir daí, a porta está aberta. Ela esquece a palavra “eu” e se orgulha enormemente de usar o “nós”. “Nós adoramos (ou detestamos) almoçar na casa da mãe dele, adoramos (ou detestamos) passar o fim de semana na casa de praia, (com os amigos dele, é claro), adoramos (ou detestamos) filmes de ação, vinho tinto, ensopadinho de chuchu, etc.etc.etc….
Mas o problema dessas frases não está só no pronome. Está no verbo também. “Adoramos”, “detestamos”, “queremos”, “não queremos”…. junto com Mercúrio foi embora Marte, o planeta do desejo.
Quando a longa noite do casamento acaba e ela se vê sozinha, obrigada a amanhecer, não sabe mais quem é, sofre até aprender a conviver com o próprio nome, custa para mudar de pronome. Não sabe mais do que gosta nem quem são , realmente, seu amigos.
Mas se o Sol no céu, brilha da mesma forma para todos porque as mulheres entregam a identidade com tanta facilidade?
Sem querer deixar de lado o imenso peso da cultura que durante séculos pesou nos ombros de todas as mulheres, não podemos esquecer que, se alguém perde alguma coisa voluntariamente é porque está ganhado outra em troca.
“Não ser” tem grandes vantagens. A primeira é não crescer. Não ter que enfrentar o mundão lá de fora. Não ter que provar competência, não ter que ganhar o dinheiro para manter o padrão de vida que quer ter.
Mas a maior de todas é sem dúvida, não ter que decidir. Não ter que assumir a responsabilidade pelas próprias decisões. Junto com o Sol, vai embora Saturno, o deus da razão e da responsabilidade.
- Mônica Horta é astróloga do Delas,
responsável pelo horóscopo diário.
Jornalista, também é autora do livro
Aniversários, um olhar astrológico sobre a vida,
publicado pela Editora Record.