2011-12-14

A DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS FEZ SUA ÉPOCA









22. -
A crença na eternidade das penas prevaleceu salutarmente enquanto os homens não tiveram ao seu alcance a compreensão do poder moral.

É o que sucede com as crianças durante certo tempo contidas pela ameaça de seres quiméricos com os quais são intimidadas: -chegadas ao período do raciocínio, repelem por si mesmas essas quimeras da infância, tornando-se absurdo o querer governá-las por tais meios.

Se os que as dirigem pretendessem incutir-lhes ainda a veracidade de tais fábulas, certo decairiam da sua confiança.

É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros.

O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados.

23. - A crença é um ato de entendimento que, por isso mesmo, não pode ser imposta. Se, durante certo período da Humanidade, o dogma da eternidade das penas se manteve inofensivo e benéfico mesmo, chegou o momento de tornar-se perigoso.

Imposto como verdade absoluta, quando a razão o repele, ou o homem quer acreditar e procura uma crença mais racional, afastando-se dos que o professam, ou, então, descrê absolutamente de tudo.

Quem quer que estude o assunto, calmamente, verá que, em nossos dias, o dogma da eternidade das penas tem feito mais ateus e materialistas do que todos os filósofos.

As idéias seguem um curso incessantemente progressivo, e absurdo é querer governar os homens desviando-os desse curso; pretender contê-los, retroceder ou simplesmente parar enquanto ele avança, é condenar-se, é perder-se.


Seguir ou deixar de seguir essa evolução é uma questão de vida ou de morte para as religiões como para os governos.




A Ciência e a Fé



Este fatalismo é um bem ou um mal? 



Para os que vivem do passado, vendo-o aniquilar-se, será um mal; mas para os que vivem pelo futuro é uma lei do Progresso, de Deus em suma. E contra uma lei de Deus é inútil toda revolta, impossível a luta.


Para que, pois, sustentar a todo o transe uma crença que se dissolve em desuso fazendo mais danos que benefícios à religião?

Ah! contrista dizê-lo, mas uma questão material domina aqui a questão religiosa.

Esta crença tem sido grandemente explorada pela idéia de que com dinheiro se abrem as portas do céu, livrando-as do inferno.


As quantias por estes meios arrecadadas, outrora e ainda hoje, são incalculáveis, e verdadeiramente fabuloso o imposto prévio pago ao temor da eternidade.


A Nova Revelação, dando noções mais sensatas da vida futura e provando que podemos, cada um de nós, promover a felicidade pelas próprias obras, deve encontrar tremenda oposição, tanto mais viva por estancar uma das mais rendosas fontes de receita.




Allan Kardec in,
O CÉU E O INFERNO:
ou a Justiã Divina Segundo o Espiritismo