2013-09-04

Destrua o desejo de sensação.








...Aprenda a partir da sensação e observe-a, pois somente assim você poderá se iniciar na ciência do autoconhecimento e galgar o primeiro degrau da escada.

Destrua o desejo de sensação. Vivemos em busca de sensações, ansiamos por sensações. Estamos sempre à procura de sensações cada vez mais novas; toda a nossa vida é um esforço para obter novas sensações. Mas o que acontece? Quanto mais sensações você busca, menos sensível você se torna. A sensibilidade é perdida.

Parece paradoxal. Nas sensações, a sensibilidade é perdida. Então você necessita de mais sensações, e esse “mais” aniquila cada vez mais a sua sensibilidade. Então você necessita de mais ainda e, finalmente, chega um momento em que todos os seus sentidos ficam embotados e mortos. O homem nunca foi tão insensível e morto quanto nos dias atuais. Antigamente, o homem era mais vivo, porque não havia tantas possibilidades de usufruir tantas sensações. Mas agora a ciência, o progresso, a civilização, a educação criaram inúmeras oportunidades de se penetrar cada vez mais no mundo da sensação. E no final, você se torna uma pessoa morta; sua sensibilidade está perdida. Saboreie mais comidas - com mais temperos, mais picantes - e seu paladar se perderá. Se você andar pelo mundo sempre à procura de coisas cada vez mais bonitas, acabará cego; a sensibilidade de seus olhos se perderá.

Mude diariamente o objeto de seu amor - sua namorada ou namorado, sua esposa ou marido. Se muda-los a cada dia, sua sensibilidade para amar morrerá. Você estará se movendo num terreno perigoso. Nunca irá fundo; permanecerá apenas na superfície, na periferia. Quanto mais coisas você experimentar, menor se tornará a sua capacidade de experimentar. E então, finalmente, quando todas as coisas ao seu redor estiverem mortas, você desejará o divino, a bem-aventurança, a verdade. Mas um homem morto não pode experimentar o divino. Para experimentar o divino, você precisa de total sensibilidade; precisa estar vivo. Lembre-se: apenas o semelhante pode atrair o semelhante.

Se você quer o divino - o “divino” significa o mais vivo, o sempre-vivo, sempre-jovem, sempre-verde -, se você quer encontrar o divino, precisará estar mais vivo. Como fazer isso? Destrua todo desejo de sensação. Não busque a sensação; busque a sensibilidade, torne-se mais sensível.

Essas duas coisas são diferentes. Se você procura sensações, procurará coisas; acumulará coisas. Mas, se procura a sensibilidade, todo o trabalho deverá ser feito em seus sentidos, não nas coisas. Você não precisará acumular coisas. Você terá que aprofundar seus sentimentos, seu coração, seus olhos, seus ouvidos, seu nariz. Cada sentido deverá ser intensificado de tal modo que se torne capaz de sentir o sutil. Não podemos nem sentir o grosseiro e precisamos nos tornar capazes de sentir o sutil. O mundo parece grosseiro apenas porque não podemos sentir o sutil. O invisível oculta-se no visível. Olhe para essas árvores. Você olha para o grosseiro; o corpo da árvore. Você nunca olha, nunca sente a vida interior. O crescimento! A árvore em si mesma não está crescendo; a árvore é apenas um corpo. Uma outra coisa - o invisível - está crescendo nela. E por causa disso, a árvore cresce. O interior está crescendo e, por causa dele, o exterior está crescendo. Mas você olha apenas para a árvore, e assim, só o exterior é visto.

Olhe ao seu redor. Olhe dentro dos olhos do seu amigo. Você apenas olha para os olhos, não para aquele que vê através deles. Toque o corpo de seu amigo. Você apenas toca o grosseiro; nunca sente o sutil interno. Apenas o corpo, o externo é sentido, pois seus olhos (seus sentidos) ficaram tão embotados que não podem sentir o interno, o invisível.

Precisamos de mais sensibilidade. Busque menos sensação e cresça em sensibilidade. Quanto tocar; torne-se o toque. Quando olhar, torne-se os olhos. Quando ouvir, deixe que toda a sua consciência venha aos ouvidos. Ao ouvir uma música, ao escutar os pássaros, torne-se os ouvidos. Esqueça tudo o mais, como se você fosse apenas os ouvidos. Vá para os ouvidos com todo o seu ser. Então, seus ouvidos tornar-se-ão mais sensíveis.

Quando estiver olhando para alguma coisa - uma flor, um belo rosto ou as estrelas - torne-se os olhos. Esqueça tudo o mais, como se o restante de seu corpo tivesse cessado de existir e sua consciência tivesse se transformado apenas em olhos. Então, seus olhos serão capazes de olhar mais profundamente e você será capaz de olhar também para o invisível. O invisível também pode ser visto, mas você precisa de olhos mais penetrantes para vê-lo.

Destrua todo o desejo de sensação e cresça em sensibilidade. Preocupe-se menos com o mundo e mais com seus sentidos. Purifique-os. Quando você não busca sensações, seus sentidos se purificam. Ao desejar cada vez mais sensações, estará destruindo seus sentidos.

O homem que descobre o divino é aquele cujos sentidos estão totalmente vivos, em sua capacidade máxima. Então, você não apenas pode ver o divino, mas também pode prová-lo, pode cheirá-lo. O divino pode entrar em você através de qualquer um dos sentidos. Só quando o divino penetrar em você por todos os sentidos, acontecerá a realização suprema. Se você pode apenas ver o divino, trata-se apenas de uma realização parcial. Neste caso, você não está realmente iluminado. Se você não pode tocar o divino, se não pode prová-lo, você está apenas parcialmente iluminado.

O uso dessas palavras parece ilógico. Saborear D'us? Ele é um alimento? Sim, ele é tudo. Você pode saboreá-lo, mas para isso necessita de uma capacidade muito sutil. Seu alimento simples tornar-se-á divino. Através do alimento, o divino será sentido. Os rishis upanishádicos disseram que o alimento é brahma. “Anna é brahma.” Eles devem tê-lo saboreado, devem tê-lo comigo.

Nós pensamos que D'us é um problema lógico; assim, continuamos a questionar quanto a isso, a favor ou contra. Continuamos a discutir se D'us existe ou não. Isso é irrelevante. D'us não é uma questão de argumento, de lógica, de raciocínio. Na verdade, D'us é uma questão de sensibilidade. Se você não o sente, torne-se mais sensível. Nenhum pensamento lógico será de qualquer ajuda. Torne-se mais sensível! Se você é sensível, ele está aí. Ele sempre esteve aí, mas você não é sensível. As coisas o tornam entorpecido, as sensações o tornam entorpecido. Destrua todo desejo de sensação.


OSHO