2014-04-02

" CAPTANDO A ESSÊNCIA "








O MUNDO COMO ESPELHO DA ALMA


Não Há Nada Separando a Nossa
Vida Interna do Universo Exterior



Um princípio básico da filosofia esotérica é o da correspondência inevitável entre o mundo externo, objetivo, e o mundo interno ou subjetivo.

À luz deste princípio, pode-se dizer que de certo modo não existem alguns temas que são “espirituais” (como meditação e devoção, por exemplo), e outros temas que são “não-espirituais”, como justiça social, equilíbrio ambiental ou ética na administração pública.

O que existe são algumas maneiras espirituais de olhar para todos os temas da vida, e outras maneiras não-espirituais de olhar para qualquer coisa.

Segundo o poeta Mário Quintana, não há assuntos que são “poéticos”, ao lado de outros que não o são. Há pontos de vista que são poéticos, em relação a qualquer coisa; e outros pontos de vista que não o são. A poesia, como a espiritualidade, está mais no olhar do que na coisa olhada.

É verdade que tudo depende do ponto de vista que adotamos para observar a vida: mas isso não deve levar-nos para o terreno ilusório da idealização ingênua.

Devem ser preservados o nosso espírito crítico e a nossa coragem de questionar. Imobilidade é sinônimo de morte, e o mundo ao nosso redor, assim como cada um de nós, está longe de qualquer coisa parecida com perfeição.

Assim, o olhar espiritual implica um certo rigor e uma exigência de movimento em direção a uma meta nobre. Não é exigida perfeição; mas tanto a vida como a lei do carma exigem constante aperfeiçoamento.

Quando aquele que busca a verdade finalmente compreende o princípio da correspondência dinâmica entre o que é interno e o que é externo, ele vê que o ponto de vista a partir do qual olha o universo é determinado pela forma como sua alma se organiza em determinado momento.

Ele enxerga o mundo externo como uma expressão e um espelho do seu estado de espírito e da situação da sua alma. E, no entanto, isso não é o suficiente.

O aprendiz deve perceber que a recíproca é igualmente verdadeira. Também o seu estado de espírito reflete, em um plano subjetivo, aquilo que ocorre no mundo ao redor. O universo psicológico tem um nível de consciência que registra em si mesmo os fatos do universo exterior, e se adapta a eles.

“A mente se torna como aquilo que ela observa”, ensinam os Aforismos de Ioga de Patañjali (Sutras I-04 e II-11, entre outros). Graças a essa comunicação de mão dupla, não há separação possível entre mundo externo e mundo interno. Embora possam ser distintos e diferentes um do outro, eles interagem o tempo todo inevitavelmente. O autoconhecimento é indispensável para que se compreenda o universo. Ao mesmo tempo, estudar o universo permite expandir o conhecimento de nós mesmos. Por isso o tratado místico “Luz no Caminho” faz as seguintes recomendações a quem deseja encontrar de fato a verdade:

* “Procura o caminho.”
* “Procura o caminho retirando-te para o teu interior.”
* “Procura o caminho avançando corajosamente para o exterior.” [1]

É a partir do princípio da comunicação dinâmica entre mundo interno e mundo externo na alma e na aura de cada cidadão que a teosofia original aborda tanto questões “objetivas” quanto temas “subjetivos”, e discute igualmente ética na administração pública, ética no movimento teosófico, preservação do meio ambiente, reflorestamento, sabedoria divina, filosofia esotérica, religiões e filosofias diversas.

Cabe investigar como se pode evitar a dispersão mental, ao examinar tantos temas que aparentemente apontam em direções diferentes. Nosso dever não é afastar necessariamente certos assuntos, catalogando-os como não-espirituais. O correto é ter atenção e desapego diante de cada um dos fatos observados, e então identificar os padrões essenciais subjacentes a todos eles.

Quando aprendemos a captar a essência das coisas, podemos ter uma ampla diversidade e amplitude de visão, sem que haja dispersão mental.

Uma visão profunda da realidade vai além dos conceitos superficiais de “interno” e “externo” e alcança a paz e o silêncio sem a necessidade infantil de negar a diversidade. Isso é possível porque, através dessa visão, tudo é observado do ponto de vista do coração do indivíduo e do coração do universo.

Uma nota curta publicada há décadas na revista “Theosophy”, de Los Angeles, ajuda a compreender a interação entre “mundo objetivo” e “mundo subjetivo”. Em sua sessão de cartas e comentários, na edição de setembro de 1974, a revista publicou a seguinte pergunta:

“De que modo o estudo do que está ‘lá fora’ pode contribuir para o conhecimento do Eu Superior, uma questão que é, obviamente, muito interna?”

E um autor anônimo, ligado à Loja Unida de Teosofistas, respondeu:

“Em última instância, ‘interno’ e ‘externo’ são apenas figuras de linguagem, já que o Ser não tem localização, exceto em relação às condições físicas da nossa existência corporal, que são percebidas por nós através dos órgãos dos sentidos. A obra ‘A Voz do Silêncio’ recomenda ao discípulo: ‘olhe para o interior: você é Buddha’ - mas esse ‘interior’ implica um ‘ponto de vista’ a ser adotado pelo aprendiz. Ele deve procurar os princípios motores em todas as coisas. Estes princípios, sendo universais, não são os aspectos mutáveis dos acontecimentos, mas são aqueles significados que persistem e continuam a influenciar outras formas e outras relações mais elevadas.”

O autor da resposta explica:

“Por exemplo, os princípios relevantes em um problema matemático não se aplicam apenas a aquele problema específico. 

A repetida descoberta deste fato dá acesso a um tipo sintetizador de conhecimento - uma compreensão da unidade dentro da diversidade. Do mesmo modo, nós descobrimos que o ser interior do homem, com todas as suas diferentes formas externas, não está separado da natureza que nós percebemos como ‘externa’. 

As relações, e mesmo a identidade do homem com o espírito dinâmico da natureza podem ser compreendidas através da capacidade que a mente autoconsciente tem de reconhecer e observar a si mesma.

Esta é uma função da mente tal como ela existe no homem, isto é, como uma parte da natureza.

Muitas das forças que fazem parte da natureza humana correspondem ao que está ocorrendo ‘lá fora’ - os ciclos sazonais de crescimento, as tempestades, os ajustamentos e reajustamentos, alguns graduais, alguns cataclísmicos, todos contendo em sua completude a expressão total da causa. H.P.B. escreve em ‘A Doutrina Secreta’ sobre a notável coerência com que os acontecimentos ocorrem em ciclos de sete, tanto na natureza como no homem. [2]

Mas em que lugar, na natureza, estão as funções especificamente humanas? O poder de escolha, de iniciativa, de ideação?

Entre essas funções estão não só o poder de saber, de fazer e de ser, mas também o poder de refletir sobre o significado de todas estas ações - suas implicações, seus efeitos - em todos os planos.

Nesta capacidade está o poder de identificar-se com todo o universo, e no entanto ‘permanecer à parte’ - de compreender que o eu não está nem dentro nem fora, mas em todos os lugares.

O desenvolvimento completo desse poder no ser humano é a capacidade de ‘agir pelo Ser e para o Ser de todas as criaturas’.

Isso foi conquistado por aqueles homens aperfeiçoados que se chama de Mestres de Sabedoria, ou Irmãos mais velhos da humanidade, e que não estão separados da natureza mas, ao contrário, são a sua corporificação mais completamente autoconsciente.

Aqueles que tentam viver desse modo se identificam na mesma medida com esse aspecto da natureza, e passam a conhecer tanto a natureza como a si mesmos.” (pp. 341-342)

A compreensão desses fatos ocorre gradualmente, e passa pela prática simultânea da amplitude de horizontes, e do desapego pessoal.

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NOTAS:

[1] Regras I-17 a I-19 em “Light on the Path”, uma obra colocada no papel por M.C., Theosophy Company (India), Bombay, 1991, 90 pp, ver pp. 4-5.

[2] “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, vol. I., p. 586; vol II, pp. 622-623 da edição da Theosophy Company.

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Carlos Cardoso Aveline
http://www.teosofiaoriginal.com/2014/03/o-mundo-como-espelho-da-alma.html


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