2014-04-06

A INVEJA: UM SOFRIMENTO DO ESPÍRITO…!








Olá meu amigo…! Devo confessar-lhe que era doído, muito doído…, desejar ser o que você é…, querer o que você tem. Eu vivia atormentado por esse sentimento que ainda hoje me castiga.

Era tão funda em mim uma sensação atroz, que na tua presença, percebia-me como um João ninguém. E meio que aflito, ficava pedindo a Deus e a tudo quanto possa imaginar que me afastasse tamanha e obstinada cobiça…!

No entanto meu amigo…! Já não me doía pedir aos santos e aos milagreiros de toda ordem, que sem demora, concedesse a graça de ver-te arruinando teus bens e humilhando-te ao decifrares em meus olhos uma espécie de desforra. Não me incomodavam os escrúpulos, vez que se rogava praga ou fazia-te algum mal, sempre ocultava minha esperteza; o que importava era aquietar a minha raiva…!

Eu comparava amigo…! E quanto mais eu fazia comparações, os ressentimentos cresciam e rebaixavam minha autoestima.

Envergonho-me até em dizê-lo, mas quantas vezes amaldiçoei teu caminho para que te acontecesse o pior. E no mesmo instante em que lhe apresentava condolências sobre sua triste sina…, por dentro rodopiava um fervor alegre diante do seu fracasso em não alcançar o melhor…!

Incomodava-me caro amigo…! Porque com sua habilidade e pertinácia, você avançava você crescia…, apesar de mim.

Aprendi então a caluniar-te em surdina objetivando denegrir-te aos olhos dos outros. Não suspeitavas, é claro, porque a tudo que fazia ou dizia, lá estava eu a bajular-te a dizer-lhe sim. E ao invés de abater-me alguma culpa pelas falsidades, era o júbilo que sentia se te causava malogros…!

Acharás incrível amigo…! Pois sempre que podia, eu plantava a ideia de que teu sucesso escondia deslealdades e trapaças; e que eu ficava ainda mais satisfeito porque conseguia a solidariedade dos demais.

Então de algum modo em mim abrandava o peso na consciência, afinal também outros reagiam atribuindo-lhe o pejo de duas caras; afinal também abatiam-lhes inferioridades iguais.

Hoje percebo bom amigo! Que tentando derrubá-lo nas tuas escaladas, sentia que jamais ocuparia o teu lugar e mesmo tarde, descubro que meus invejosos ardis reprimiam a singeleza do ceder e admirar.

Meu orgulho quedava-se frustrado diante da dignidade do teu olhar, fazendo-me sentir que não o merecia e se agora desabafo, talvez seja porque ainda consiga espantar as tendências obsessivas e obscuras, reavivando meus próprios talentos que eu não exercia.



Medina Ademir Parra
- Psicólogo Forense
– Tribunal de Justiça do Estado Paraná.




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