Quando estamos em silêncio, não interferimos em nada a nossa volta e, por esse motivo, não geramos o caos. O silêncio demarca os espaços entre as palavras, entre os pensamentos e também o espaço entre nós e o mundo. Agir em silêncio é ato de humildade e de forte compromisso com a ação e não com o resultado, pois não há expectativa de aprovação.
Quando paro penso no que vou falar, geralmente fico quieto, pois compreendo que em grande parte, o que falo, é tradução de uma massiva confusão mental inerente de preconceitos e informações mal formadas da minha própria mente. Porém, há uma diferença nobre em falar o que pensa e falar o que se sente. Quando trago do fundo sentimentos, emoções e pensamentos construídos a partir da observação dessas emoções, brota um silêncio profundo.
Devemos silenciar e deixar que esse silêncio tome conta de todo o nosso ser e que cada momento de silêncio seja uma oportunidade de “mergulhar em si mesmo”.
Por minha própria experiência, posso dizer que a prática do zazen (meditação zen), se traduz em uma excelente ferramenta para estarmos mais atentos e conscientes de tudo, das nossas relações de interdependência com todos os seres.
A meditação zen possibilita às pessoas manterem-se conectadas com sua verdadeira natureza. À medida que avançamos na prática, vamos percebemos melhor os condicionamentos sociais, familiares, que tanto aprisionam nossa mente. A criança está constantemente presente, iluminada, repleta de amor. Com os condicionamentos, aos poucos ela se afasta desse estado natural de ser.
“No Zazen não devemos ter expectativas. Zazen não é uma técnica para obter o que quer que seja, é muito mais natural do que isso. No entanto, as coisas mais naturais são por vezes as mais difíceis. E porquê? Porque pensamos. Não há nada de errado com o pensamento. Pensar é um processo muito natural, mas deixamo-nos condicionar muito facilmente pelos nossos pensamentos e damos-lhes muito valor. Tentamos cuidar de nós mesmos, da estrutura do nosso ego, através do pensamento. Pensar é uma abstração. Não é ser, é pensar sobre ser. E uma vez que ‘nascemos e morremos sete mil vezes por segundo’, as condições que pensamos já desapareceram. Pensamos acerca de sombras em vez de sermos a própria vida.” Maezumi Roshi (1931-1995).
Geralmente a utilizo em diversos momentos do dia, acessando esse silêncio interior, “observando a mim mesmo”. Sugiro que você comece a praticar esta observação antes de deitar-se ao anoitecer para clarear sua mente, deixando-a menos turbulenta.
Somos como um lago. A cada vez que aprofundamos a nossa observação sobre este lago, conhecemos ainda mais qual a sua profundidade e, cada vez que sabemos o quão profundo ele é, mais imersos passamos a perceber melhor o mundo e as coisas como realmente são.
A cada dia a nossa vida fica mais atribulada, cheia de questões não resolvidas e assuntos para “correr atrás”. Penso que isto só acontece porque ainda nos mantemos muito na superfície do desse lago, e nos esquecemos de nos aprofundar por completo no que realmente somos.
A nossa prática deve priorizar o “conhecermos a nós mesmos”, e ajudarmos os outros a mergulharem em seus lagos em silêncio.
“A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas é encontrada”.
(Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio)
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