2014-04-21
As Estruturas do Tempo
Onde Fica o Presente?
Os seres humanos têm uma tendência inevitável para serem animais filosóficos. Interpretamos, descobrimos e damos significados ao ato de percepção.
Pensamos com nossos sentidos, vemos com nossos corações e sentimos com nossos cérebros. Usamos de imagens, analogias e metáforas para entender e dar um sentido global ao mundo que nos cerca.
Vivemos dentro de um sistema que empresta significado às nossas experiências. O contexto filosófico no qual vivemos determina a nossa percepção a respeito do significado do tempo.
A história da religião e da filosofia proporciona um conjunto acessível de imagens e analogias que podem ser usadas para estruturar a experiência.
Cada visão de mundo incorpora uma filosofia de tempo que dá sentido ao momento atual. Os acontecimentos dependem sempre de um mito ou metáfora que explica por que alguma coisa acontece.
Se o mundo é um artefato talhado por um artesão divino (Platão), então o tempo é a imagem mutável da eternidade e este momento deve ser utilizado para contemplar as coisas eternas e para fazer com que as coisas deste mundo se sujeitem a elas.
Se o mundo é um campo de batalha no qual as forças do mal por pouco não derrotam as forças do bem (gnosticismo, maniqueísmo), então o tempo é uma prisão que mantém o espírito do homem encarcerado na matéria e este momento deve ser usado para evasão.
Se o mundo é uma ilusão material rodeado pelo mar perene da não-existência (budismo), então o tempo é um sonho e este momento é propicio à iluminação, ao despertar da ilusão.
Se o mundo é uma arena que Deus imputou a Suas livres criaturas (cristianismo), então o tempo é uma oportunidade para a libertação e o momento presente pode ser usado para a tomada de decisão, a criatividade e o prazer.
Se o mundo é uma conjunção de átomos irregulares (existencialismo ateu), então o tempo é um caos desenfreado e pouco importa o que se faz com o momento presente.
Se o mundo é um mistério a ser saboreado, vivido com responsabilidade mas jamais explicado (misticismo), então o tempo é um filtro pelo qual o animal humano percebe o dom estranho que jamais voltará a se repetir.
Se o mundo é um imenso organismo que está sempre morrendo e renascendo como uma planta (religiões cósmicas, maternais e Nietzsche), então o tempo é um ciclo periódico e este momento não é novo e pode ocorrer muitas e muitas vezes.
Se o mundo é um lugar onde os mais aptos sobrevivem (capitalismo evolutivo), então tempo é dinheiro e este momento deve ser usado para produtivamente para o aperfeiçoamento do individuo no processo de competição…
Visto que muitos de nós não dispomos de sistemas filosóficos que sirvam de arcabouço para a nossa compreensão do tempo, recorremos a sensações, intuições e imagens mais modestas.
O tempo é o velho cigano, ou uma serpente que devora a própria cauda. Ele serve para destruir ou para construir, para ser utilizado ou servir como ponto de referência, ou ainda, para nosso aperfeiçoamento.
Quando suspeitamos que o tempo esta esgotando (as épocas douradas ficaram todas no passado; o esplendor da infância acabou), encaramos anos acumulados com pavor da decadência.
Nos momentos mais promissores quando o tempo parece estar caminhando para a realização (a Nova Jerusalém, ou a maturidade), sentimos que a experiência dos anos nos amadurece como vinho requintado.
Por mais modestos ou por mais elaborados que sejam nossos princípios de interpretação, eles certamente deverão ser homólogos ao modo como experimentamos este momento passageiro.
Pontos de Vistas
A sua percepção do tempo revela os seus próprios limites. Quer você acredite na reencarnação ou na finalidade da morte, quer na existência de um tempo cíclico ou linear, o fato é que este momento faz parte de um quadro mais amplo.
Desenhe um mapa de vida, um diagrama, um gráfico ou uma linha de tempo que identifique onde você se encontra agora.
Quanto tempo você já viveu?
Quanto ainda lhe resta?
Você gosta da maneira como tem despendido seu tempo até agora?
Você já esteve antes nas mesmas circunstâncias em que se encontra agora?
Acha que a situação acontecerá de novo?
Para onde veio?
De onde veio?
Que significado tem o tempo para você?
Está indo para determinado lugar, gosta do rumo que está tomando, ou acha que o lugar onde se acha agora é o melhor para você?
Do livro: A Jornada Mítica de Cada Um | Sam Keen • Anne Valley-Fox
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