2014-04-29
A Palavra Secreta
Mestre Daisetz Suzuki foi quem apresentou o Zen ao Ocidente, no livro Mística Cristã e Budismo. Nesse livro, mestre Suzuki fala muito em mestre Eckart. Assim, quando se fala em mestre Eckart, todos lembram do Zen-Budismo. Quando orientais tomaram contato com a obra de mestre Eckart sentiram-se como que lendo textos budistas. Sua linguagem, apesar de falar em Deus, expressa o Budismo, especialmente o Zen. (Monge Tokuda - 25 de outubro de 1989)
Hoje vou falar sobre a "palavra secreta". Esta expressão "palavra secreta" é o título de um capítulo do livro de mestre Dogen, o Shobogenzo.
Mestre Eckart diz:
Eu vou em primeiro lugar falar das palavras da sabedoria eterna. Quem quer que me ouça não fique envergonhado. Quem quiser ouvir a sabedoria eterna do Pai deve estar dentro e em casa; deve ter se tornado uno. Então ele pode ouvir a sabedoria eterna do Pai.
Existem três coisas que nos impedem de ouvir a palavra eterna: a primeira é a corporalidade, a segunda é a multiplicidade e a terceira é a temporariedade. Se o homem conseguisse transcender estas três coisas, ele moraria na eternidade. Ele moraria no mundo do espírito, ele moraria na unidade e no deserto, e ali ele ouviria a palavra eterna.
Agora, Nosso Senhor diz "não há quem ouça a minha palavra ou o meu ensinamento a menos que tenha abandonado a si mesmo, pois para ouvir palavra de Deus é preciso um absoluto perder do ego". Portanto, Nosso Senhor diz "Quem quiser ser meu discípulo, que abandone seu próprio ego. Não existe quem possa ouvir as minhas palavras ou o meu ensinamento a menos que tenha abandonado o ego. Todas as coisas nada são em si mesmas, por isso, abandonem este nada e assumam o perfeito ser no qual a vontade é justa. Aquele que abandonou toda a sua vontade, saboreia o ensinamento e ouve as minhas palavras."
Vivendo neste mundo, isso não é tão fácil. Os budistas usam a expressão "mundo saha", e "saha" significa terra de paciência, ainda que não totalmente infeliz. Um pouco infeliz, mas também onde se vivencia alguma felicidade. Não há só sofrimento, mas também felicidade - um pouco de cada. Eu sempre brinco, em primeiro lugar é importante ter paciência, em segundo lugar paciência e em terceiro também paciência; em quarto lugar, ah, em quarto nada, e em quinto, sim, novamente paciência (risos...). Neste mundo a gente precisa de muita paciência.
Muitas pessoas sofrendo suas dores vão visitar as igrejas e rezam para Deus. Você, rezando, pedindo, alguma vez escutou a voz de Deus? Talvez sim, ou, tendo ouvido algumas respostas, pense que sim. Muitas pessoas perguntam o que é realmente a palavra de Deus. Alguns respondem: é silêncio. Mas mestre Eckart diz que não, este é um método ainda, não é exatamente a palavra de Deus.
Muitos amam a Deus como se ama uma vaca, esperando leite e queijo. Então rezam a Deus esperando uma coisa em troca. Este não é, entretanto, o verdadeiro amor a Deus. As pessoas têm medo de Deus, agradecem a Deus ou recebem muita coisa de Deus, mas ás vezes têm dúvidas. Deus é isto? Deus existe? Onde está?
A finalidade tanto cristã como budista é encontrar Deus, encontrá-lo intimamente. Isto é muito importante. Por isso, praticar através de livros sagrados é muito importante, mas é necessário praticar também através da contemplação, mas contemplar realmente. Rezar interiormente; isto já é meditação, concentração, e então nós podemos encontrar com Deus. Nesse momento podemos escutar a voz de Deus, a palavra de Deus. Na teologia cristã, a palavra de Cristo é a palavra de Deus, ele veio a este mundo para revelar o que é Deus. Aqui temos também a palavra de mestre Dogen e de mestre Eckart.
Mestre Eckart diz:
Há uma afirmação comum a todos sábios: "quando tudo estava em meio ao silêncio, desceu a mim uma palavra secreta, desde o trono real do alto."
A alma onde isto acontece deve ser mantida completamente pura e viver de maneira nobre completamente em posse de si mesma e voltada inteiramente para dentro.
Em primeiro lugar vamos tomar as palavras "em meio ao silêncio foi falada uma palavra secreta". Mas, meu caro Senhor, onde está o silêncio e onde está o lugar onde a palavra é falada ? Corno acabei de dizer, está no lugar mais puro onde a alma é capaz de chegar, na parte mais nobre, no chão de fato, na essência mesma da alma, que é justamente a parte mais secreta da alma. Ali é que está o silencioso meio, pois nenhuma criatura, nenhuma imagem jamais entrou ali. Nem a própria alma teve desse lugar qualquer compreensão, portanto, ela não está consciente ali de nenhuma imagem, quer seja de si mesma ou de qualquer outra criatura.
Mestre Eckart fala que para escutar a voz ou a palavra de Deus existem três tipos de obstáculos, primeiro a corporalidade, depois a multiplicidade e a temporariedade. É necessário transcender esses três obstáculos. A grande dificuldade é que neste mundo é exatamente com esses três aspectos que existimos. Com a corporalidade nascemos, recebemos este corpo até morrer. Com isto você existe, com isto eu estou aqui, você está aí. Já o tempo instala-se quando nascemos, e depois nos conduz à morte. Assim, para viver eternamente você não pode nascer. Quando nasce há morte. Por isso o Zen usa a expressão "não-nascido". Antes de nascer, qual era sua face original? Antes de seus pais nascerem, qual era sua face original? Como é sua face original? A busca do Zen é isto: o chão, a origem de onde você veio. Corporalidade,. temporariedade e multiplicidade, ou seja, dualidade. Eu sofri tanto com isso! Estou aqui e você está aí. Então há o conflito. Todas as coisas apresentam isso. Bem e mal, rico e pobre, velho e moço, etc... Neste mundo tudo, tudo apresenta-se assim. Como podemos transcender isso? Mestre Eckart diz: "quando tudo estava em meio ao silêncio, então desceu a mim a palavra secreta." Este silêncio é nirvana. A gente encontra o silêncio em todas as linhas de religião e filosofia. Fase silêncio é uma preparação para se ter esta experiência que é original, a experiência religiosa, mística.
Existem dois tipos de religiões, as religiões místicas - de busca e contato direto - e as outras, as religiões de profetas, com muitas regras, etc, que todos devem seguir. O Zen é talvez mais ligado à experiência mesmo de união com Deus. Neste caso é necessário o silêncio; meditação é silêncio, e com isto ocorre a experiência mística. Quando há internamente aquele silêncio, aquela tranqüilidade, aquela calma, nesse momento você vai ouvir a voz de Deus. Este estado, nirvana, mestre Eckart compara com o deserto, com o deserto cheio de areias. Hoje em dia vemos os documentários da televisão sobre o deserto e vemos que é cheio de vida, de insetos e plantas pequeninas. Mas deserto, deserto mesmo, não tem nenhuma vida, é morto. Esta é a experiência de morte religiosa. Não falando fisicamente, mas espiritualmente morte religiosa é uma experiência muito forte, muito importante, só assim é possível o verdadeiro renascimento. Nesta vida é necessário aprender a esquecer, desligar, perder até; isso é doloroso, mas depois ganha-se a verdadeira vida. É como na corrida de maratona: quando chega-se em certo ponto, surge a crise, parece impossível prosseguir, há dificuldade de respiração, dores, cansaço, o cor arece não poder ir além, isto é chamado de "dead point", ponto-da-morte seria o significado. Quando, no entanto, ultrapassa-se esse ponto, tudo fica leve e fácil e pode-se correr até o final.
Mesmo os jogadores de tênis, nadadores ou jogadores de futebol passam por treinamento, dificuldades e superações. O zazen também apresenta dores, dificuldades. Os joelhos doem com as pernas cruzadas, as costas doem, mas é preciso viver esta experiência.
Mestre Dogen nasceu exatamente no ano de 1200 e morreu com 53-54 anos, relativamente moço. Já mestre Eckart nasceu em 1263. Um morreu, o outro nasceu. Apesar de viverem em países diferentes, ambos falam da mesma experiência. Mestre Dogen começou a escrever livros em língua japonesa numa época em que os monges escreviam sempre em chinês. Hoje em dia os pesquisadores de literatura japonesa clássica estudam o Shobogenzo como literatura, não apenas como o livro sagrado do Zen.
Com mestre Eckart ocorreu algo semelhante. Hoje os estudiosos da língua germânica debruçam-se sobre a obra de mestre Eckart porque ele dava seus sermões e aulas na língua da época e não no latim que era a língua oficial. Ele tem estudos feitos em latim também, mas costumava usar a língua germânica para seus sermões e obras e seus contatos com discípulos, freiras e leigos.
O que ele diz é o seguinte: "É difícil falar alguma coisa sobre Deus; tudo o que pode ser dito sobre Deus são enganos. Quando não se fala sobre Ele, é verdade." Mas, de outro lado, mestre Eckart também diz, "eu gosto de falar de Deus". Não se pode falar, mas ele quer e gosta de falar. Aí há um conflito de energias - é por viver certo tipo de experiência que ele não pode ficar calado. Mesmo que não exista ninguém aqui, eu quero falar com esta mesa. Quero falar. Há este impulso, mas o que se pode falar sobre Deus? O que não se pode falar? Isto o Zen-Budismo, de certo modo, desenvolveu: a clareza do aspecto limitado da linguagem e das palavras. Esse capítulo doShobogenzo sobre a palavra secreta fala sobre isto. Em outro capítulo, de título curioso, "0 sermão dos seres insensíveis", também mestre Dogen fala sobre isto.
Buda ganhou a iluminação - Budakaia. Surgiu-lhe então aquela dúvida: "Eu consegui isto, este Darma, mas quem poderia compreendê-lo? Este Darma é muito diferente das coisas do mundo. Totalmente diferente, muito difícil de entender." Ele então procurou dois de seus primeiros professores, mas estes já haviam morrido. Aí lembrou-se de seus cinco últimos companheiros. Quando Buda tornou-se monge, o rei, seu pai, mandou cinco companheiros treinar com ele. Depois de seis anos de treinamento como asceta, Gotama abandonou o treinamento porque compreendeu que esse não era o verdadeiro caminho. Abandonou o ascetismo, e, por conta própria, começou a prática de zazen sob a árvore Bodhi, atingindo assim a iluminação e libertação completas.
Hoje em dia, abrindo o mapa, de Budagaia a Sarnath - onde houve o primeiro sermão para os cinco monges - há muita distância mesmo para quem for de carro, muito mais se considerarmos que Buda foi a pé. Quando estava chegando em Sarnath, um dos seus ex-discípulos disse: "Lá vem Gotama. Ele abandonou a prática ascética, mas se quiser voltar para nós não há problema, a gente deixa, mas já não precisamos respeitá-lo como antigamente pois ele abandonou a prática." Mas enquanto Buda aproximava-se mais e mais, mesmo nada tendo feito, os cinco monges levantaram-se, um preparou água para lavar seus pés, o outro preparou um lugar para ele sentar, o outro logo trouxe alguma comida ou chá, e assim todos os cinco, mesmo sem notar, estavam preparando e dando as boas-vindas ao Buda.
Por que isso? É algo fora do comum. Isso é reconhecido como o sermão da luz radiante. Antes que ele começasse a falar, já havia a luz radiante. Esse foi o primeiro sermão. Com isso as pessoas já estavam preparadas inconscientemente, levantando-se e dando as boas-vindas. Assim, percebendo inconscientemente a luz radiante, eles estavam já preparados para o que Buda iria dizer. Esse sermão da luz radiante mostra que o sermão não é apenas o que sai pela boca.
E eles começaram falando, "você, Gotama", e Sakiamuni disse: "Não, de agora em diante vocês não devem mais chamar-me de bo (você), mas de Buda ou Tatagata". "Tatagata" significa "aquele que vem e que vai". Como é o nome de Deus? Deus é Deus, não tem nome. Da mesma forma Buda, não sendo uma pessoa, responde, "eu sou Tatagata".
E a seguir o Tatagata começou a falar as quatro nobres verdades. Imediatamente um dos discípulos entendeu; no segundo dia dois ou três compreenderam e finalmente todos os cinco entenderam, ganharam a iluminação, tornaram-se Arhats. Então Buda prosseguiu sua vida de sermões e ensinamentos. É preciso lembrar, no entanto, que antes do sermão com as palavras, já ocorrera o sermão da luz radiante.
Para nós, monges Zen, o importante não é a boca que fala. As pessoas falam, falam, falam e não fazem o que falaram. O importante é observar o "sermão do corpo físico", o "sermão da atitude", o "sermão da atividade do corpo físico". Com atitude não se pode mentir, já a palavra, às vezes para impressionar, mistura mentiras. Às vezes eu falo o que não faço com a própria experiência. Isso é mentira. A boca pode mentir, mas com as "costas" não se pode mentir. O que as costas falam não contém mentiras. As crianças têm problemas, o pai e a mãe chegam e dizem, "meus filhos têm problemas". Mas os filhos fazem exatamente o que pai e mãe fazem! Não adianta dizer, "você não pode fazer isto, meu filho", o pai e a mãe estão praticando aquilo também, e os filhos apenas imitam exatamente o que vêem. O pai fala, mas nas suas costas, inconscientemente, a mensagem é diferente e o filho está vendo isso.
Chegando ao mosteiro, o noviço pensa que vai ouvir grandes sermões, grandes aulas, mas nada disso acontece. O mosteiro mantém silêncio e até os mestres mantêm a prática de agricultura, com enxada e foice. Vendo aquela maneira de limpar o jardim, sente-se que é diferente; mesmo na limpeza com vassoura nota-se a diferença. O mesmo se dá com qualquer tipo de atividade e é a característica das artes marciais. Quando se vê alguém praticando o katá, há quantos anos a pessoa repete o mesmo katá, o mesmo golpe? No primeiro ano está praticando o katá, depois, no segundo ano, no terceiro; no quinto ano já há algo diferente.
Com a prática de zazen se dá o mesmo. Eu gosto de usar esta imagem: no início, quando uma pessoa começa o hábito de tomar cachaça, a pessoa e a cachaça são duas coisas separadas. Depois há um segundo estado, a cachaça toma cachaça. Você toma cachaça, fica um pouco bêbado e o coração fica grande. No início você diz, "quero apenas um pouquinho, bem pouquinho, é só, obrigado", depois você diz, "é gostoso, traga outra garrafa"... Aí a cachaça, ela mesmo já está chamando mais cachaça. No início ele bebia a cachaça, agora, neste momento, a cachaça passa a bebê-lo... (risos) Assim é o processo de treinamento. No início é necessário esforço, fazendo zazen, acordando cedo, agüentando dores, etc. Você está fazendo zazen, fica contente, mostra orgulho, etc... - a dualidade ainda está presente. Depois, com a continuidade da prática de zazen, da mesma forma que a cachaça chama a cachaça, o zazen chama o zazen. Não sei bem por que, mas fica o costume de sentar constantemente em zazen.
Ás vezes eu não tenho vontade, estou cansado, com preguiça, mas onde eu vou - é meu karma - existem grupos de zazen esperando para a prática de zazen. Então digo, "vamos sentar". Não posso dizer, "ah, estou cansado, a viagem foi muito cansativa, preciso dormir mais, etc...", devo estar de acordo, sentar junto. Algumas vezes durante o zazen chego a dormir (risos), mas acompanho o zazen. Neste caso eu sou fraco, e o Darma é forte. Olhando de outro lado, isto é bom. Quanto mais fraco você for, melhor. Sendo forte, há o ego, você diz, "eu sou forte, pratico o zazen"... - o ego está presente.
Bem, mas estava falando sobre a palavra secreta...
No Shobogenzo se conta, "...uma vez o mestre Ungan Donjo recebeu um ministro". Naquela época acontecia isto, ministros, escritores, artistas praticavam zazen. Como aconteceu também nos Estados Unidos, com muitos hippies, poetas e cantores que praticavam meditação, na época do movimento contra a guerra do Viet-Nam. Então, na história, um ministro chegou ao mosteiro e perguntou ao mestre: "Falam que Buda Gotama transmitiu a palavra secreta a Makakasho, que a compreendeu e não a escondeu; o que significa isto, a palavra secreta de Buda?"
Então o mestre Ungan Donjo dirigiu-se ao ministro dizendo, "ministro!" E este respondeu, "sim!" O mestre completou: "É só isto, entendeu? Se você entendeu, entendeu, e então Makakasho não escondeu. Se você não entendeu, pode então compreender por que esta é chamada de a palavra secreta de Buda."
Vocês entenderam? (risos...) Isto é um koan. Este é um típico koan Zen - fica-se tonto. É preciso voltar atrás e lembrar um pouco a história toda dessa transmissão contínua do Darma. O importante, o essencial na vida do Zen é a transmissão do Darma, este ensinamento que vem de Buda diretamente, e após, de mestre a discípulo através dos budas e patriarcas. O primeiro foi o Buda Gotama, que transmitiu para seu discípulo Makakasho. Desde o momento em que Buda ganhou a iluminação, com 35 anos, até finalizar sua vida, com 80 anos de idade, não se fixou em nenhum lugar, sempre andando, andando, pregando o ensinamento durante 45 anos em mais de 360 lugares diferentes.
Na última parte de sua vida, ficando velho, uma vez uma pessoa ofereceu- lhe uma flor e pediu, "por favor, dê um sermão com esta flor". Essa flor chamada "udombara" abre uma vez a cada cem anos ou uma vez a cada mil anos, ou seja, é algo muito raro. "Por favor, dê-nos um sermão sobre esta flor", pediu a pessoa. Buda aceitou a flor e todos ficaram esperando o que haveria ele de dizer.
Nesse momento Buda não falou nada, apenas mostrou a flor diante da congregação dos monges. Mas aconteceu que entre os monges estava Makakasho, um dos primeiros de seus discípulos e posteriormente seu sucessor, que então, em meio à assembléia, abriu um grande sorriso.
Geralmente Makakasho fazia um treinamento muito duro. Ele tinha nascido em uma família da elevada casta dos brâmanes, e mantinha o treinamento de simplicidade de vida, tanto em roupa como em comida e moradia. Não buscava luxo, nem comida de monges, apenas aceitava o que ganhava. Assim era o seu esforço: treinamento duro, cara fechada. No entanto, ele abriu o sorriso!
Vendo isso, vendo o sorriso de Makakasho, Buda disse: "Eu tenho o Shobogenzo, o tesouro que é o Olho do Darma Correto, e transmiti tudo a Makakasho". Assim foi transmitido a Makakasho o ensinamento essencial de Buda; todos viram, mas nada entenderam do que havia efetivamente se passado.
Então Buda passou, como símbolo de transmissão, o kesa, ou seja, o seu manto dourado, e uma tigela que ele usava sempre. Além de Makakasho ter recebido a tigela e o manto, recebeu uma coisa especial, a palavra secreta!
Já Mestre Eckart diz: "0 que eu ouvi do Pai, não escondi de vocês." É isto. Mestre Eckart viveu aquela experiência original, escutou a palavra de Deus e por isso dispôs-se a falar sobre essa palavra. Mas para falar essa palavra ele tem que tê-la ouvido e tem que ter a força para que a pessoa possa também ouvi-la. Os que quiserem ouvir devem estar preparados. Precisam de silêncio, precisam estar afastados da prática do ego, só nesse momento você pode escutar. O koan do mestre Ungan Donjo ao ministro se dá no contexto desta experiência de transmissão.
Assim, além da transmissão via tigela e manto, houve algo muito especial transmitido, como entre pai e filho, somente como entre pai e filho. Outra pessoa, mesmo vendo, não compreende. Mas Mestre Eckart diz, "do que ouvi nada escondi para vocês". E assim, na verdade, para escutar essa palavra você tem que se retirar.
Nesse momento, então, o que acontece? Unidade! Unidade é intimidade. Buda torna-se "um" com o discípulo. O pai treina o filho, é isto, e assim o filho torna-se o pai também.
Trindade é o Pai, o Filho e o Espírito Santo, mas mestre Eckart diz "Gotheit", origem de Deus. Antes de termos as três coisas se aradas temos uma unidade onde retornamos. Então o Pai tornou-se Filho.
Há uma outra história que mestre Eckart conta. Havia um casal, marido e mulher, e por acidente ou doença ela perdeu a visão. Ficou muito triste, mas o marido a tratava com muito carinho, e a consolava. A esposa falou, "estou triste não porque perdi a visão, mas porque por isso vou perder o seu amor". Mas o marido disse, "você não precisa preocupar-se, eu gosto de você, eu a amo", e, tomando uma agulha, furou seus olhos e disse "bem, agora estou cego igual a você".
Da mesma forma, Deus está lá, absoluto, eterno, paz infinita, mas escolhe fazer-se carne e vir ao mundo, e, perdendo a visão, fica igual a nós. Jesus Cristo é Pai, Filho e Espírito Santo. Jesus Cristo é Pai também. É assim que mestre Eckart expressa como nasceu o único Filho de Deus. O Cristianismo tem certas dificuldades quanto a este aspecto; pode gente tornar-se Deus? Não.
Já no Budismo não há isto. Buda significa "desperto". Todos temos a natureza de Buda e então temos a possibilidade de tornarmo-nos Buda também. Pode o Cristianismo dizer que as criaturas venham a tornar-se Deus? Parece difícil. Mas para Eckart, sim! Quando escutar a palavra de Deus, a palavra secreta, oculta, eterna, interna, você se torna o único Filho de Deus. Tornar-se Filho significa adquirir a capacidade de ser Pai.
Neste mundo todos querem viver eternamente, mesmo sabendo que devem morrer. Então como fazem? Casando..., virão os filhos. Como os filhos até certo ponto têm a mesma qualidade dos pais, ao crescer vão casar e por sua vez terão filhos. Dessa forma algo transmite-se eternamente. O desejo sexual não é só prazer não, é a necessidade imensa de viver eternamente.
Com a religião é diferente, é entrar naquela dimensão absoluta onde não há mais nascimento e morte, é o estado eterno, absoluto. Isto é nirvana, e vivendo-se este estado de nirvana não há mais vida e morte. Religião é isso, e dessa maneira vive-se eternamente.
O Pai tornou-se Filho, mas isso não significa que é algo ocorrido entre criaturas. Quando falamos "criatura", há imediatamente duas individualidades "criador" e "criatura", e há ainda o tempo. Quando falamos no tempo, surgem todos os defeitos deste mundo. O que nasce, já está condenado a morrer. Somos mortais. Viver eternamente significa transcender. Quando mestre Eckart usa esta palavra "nascimento", para ele isto significa que Deus nasceu neste mundo sem perder a qualidade de ser Deus que foi capaz de viver a simultaneidade original, transcendental, e a simultaneidade histórica.
Jesus Cristo viveu neste mundo por trinta e três anos. Nasceu em Nazaré e morreu. Mas nasceu, viveu e morreu durante esse tempo em uma simultaneidade, ou seja, naquele lugar fundo no chão onde há o absoluto e eterno. Mostrou para nós o corpo físico, sofreu igualmente na cruz, mas alguma coisa mostrou-se transcendente. Dizer que o único filho de Deus nasce dentro da alma limitada significa a possibilidade de nos tornarmos o único filho de Deus. Tornar-se Deus, ou seja, viver neste mundo desde a eternidade. Isto chama-se "satori" ou "iluminação" no Budismo. Isto tem que ocorrer nesta vida. Muitos perguntam, "existe a reencarnação ou não?", ou, "você acredita na reencarnação?". A resposta é "sim e não". De uma certa maneira sim, mas quando há a experiência de nirvana, de silêncio, a experiência do deserto, instala-se a dimensão do eterno e absoluto, então não há mais reencarnação.
Jesus Cristo ou esse marido que furou os olhos escolheram este mundo, voltaram para cá, descendo. Em lugar de dizer, "venham até aqui em cima", o que seria difícil para as pessoas, Deus disse, "eu vou", é muito fácil. Deus faz isto quando você está preparado para tal. O que é necessário para a preparação? Apenas que você entre no silêncio, que abandone a si próprio. É necessário abandonar o ego.
Abandonar corpo e mente é a experiência fundamental de mestre Dogen. Mestre Eckart também fala, "é preciso abandonar". Abandonar é difícil por quê? Porque há compreensão errada, distorcida. E com isto se sofre. Mestre Eckart diz que abandonar a si próprio não ê sofrimento, é o caminho mais rápido para encontrar com Deus, e então a palavra secreta revela-se.
Na verdade, a realidade última deste mundo não está nada escondida. Por isso se diz aqui que Makakasho não escondeu nada. Essa verdade está presente dentro de nós. O paraíso não se dá após a morte, está aqui. Vocês não vêem porque sua visão está contaminada com a idéia de ego, vocês praticam a consciência kármica. É preciso sair disto, arrancando este "olho-de-ego" e colocando o "olho-de-Buda".
Os budistas falam que existem cinco tipos de olhos: olho físico, olho de Darma, olho de sabedoria, olho de Buda e olho de ser. Temos apenas um olho, o físico, e este está contaminado. O que está vendo, será que está vendo verdadeiramente? Está vendo apenas a projeção de sua mente, de sua consciência e de seu inconsciente também. Você vê o que quer. Você não vê o que existe e vê o que não existe, e assim, segue projetando suas consciências. Isso é o que chamamos de karma. Você não consegue ver de nenhuma outra maneira, isto é o karma. Praticando o silêncio, pratica-se a purificação. O silêncio é escuridão, noite. Como o místico espanhol São João da Cruz, na subida do monte Carmelo, fala na noite da consciência, na noite das idéias, na noite da vontade, na noite das lembranças, na noite do espírito, noite da alma, etc., e com isto, subindo montanhas em processo de meditação, passa pelo processo de purificação e chega ao topo da montanha.
Na verdade, o topo da montanha está aí, embaixo dos seus pés. Nunca esteve escondido. Nosso problema não é que Deus tenha escondido algo, você é que tem a culpa por sua consciência contaminada que dá nascimento e suporte ao ego.
Quando se vivencia a consciência de ego, sente-se, "eu estou aqui e você está ai. Surge imediatamente a dualidade a multiplicidade e a corporalidade. E a questão do físico. Estou tomando este espaço com este corpo, este espaço você não pode tomar, de jeito nenhum. Isso é bom, mas ao mesmo tempo é um limite. Então chega o momento de transcender a corporalidade, a temporariedade e a multiplicidade. Nesse momento ocorrem o deserto, a morte, a unidade - o uno.
O rei Salomão encontrou aquela lendária flor, o lírio. Ele tinha enormes riquezas, mas foi justamente dentro de uma flor que encontrou mais riquezas do que todas as suas riquezas reunidas. Por quê? Deus estava ali presente. Deus é um, além dele nada há. Se você entende isto, mesmo dentro de um mosquito você encontrará Deus, e este mosquito, o pernilongo, se tornará, então, mais sublime do que quaisquer dos anjos mais elevados.
Nada está escondido, apenas não vemos. Conta-se que um monge estava passando pela frente de um açougue e escutou o diálogo do freguês com o açougueiro. O freguês perguntou, nesta carne é fresca? O açougueiro respondeu, "na minha loja nada há que não seja fresco, de boa qualidade". Quando o monge escutou, "na minha loja é tudo bom, toda a carne é boa", nesse instante atingiu a iluminação.
Neste mundo é tudo bom. Nada tem defeito. Por que então tantas dificuldades, tantos problemas entre nós? Porque a mente cria problemas, oculta a verdade. Cria o bem, o bom, o mau. Na verdade não existe o bem e o mal, isto é apenas uma dualidade, uma discriminação. É preciso penetrar a não-discriminação. Tudo está em seu lugar no mundo do Darma, do absoluto. Nada falta. Nós, no entanto, fazemos a discriminação, "isso é bom, isso é ruim" Cada um constrói seu próprio sofrimento ao fazer essa discriminação. Você mesmo sofre com isso. Neste mundo está tudo perfeito, o problema é você mesmo. Aqui e agora você pode encontrar o absoluto, o eterno. Está tudo perfeito, nada há para se queixar.
O fato de muitos japoneses terem os olhos puxados conduz muitos a terem complexos. Uma pessoa diz, "eu sou brasileiro, nasci aqui", o outro fala, "eu nasci no Japão, sou japonês, tenho olhos puxados", surge então o complexo, "tenho cabelo preto, liso e por isso quero tingir de outra cor, mas isso me deixa mais feio". Quando você aceita os olhos puxados, com isto pode manifestar a glória de Deus! As coisas todas são diferentes umas das outras, as plantas são diferentes entre si, essas diferenças revelam a glória de Deus.
Uns são baixinhos, outros feios, uns ricos, outros pobre, ou aleijados, mancos; isso não importa, cada um revela a glória de Deus. Em um determinado momento, repentinamente tudo muda. Tudo se revela, nada permanece escondido. Então o mestre chamou, "ministro!", e este imediatamente respondeu, "sim, mestre!" O que está acontecendo aqui? Nós temos tudo.
Há um outro episódio em que um ministro visitou um outro mestre. O mestre estava assando batata-doce nas brasas e assoprava continuamente para avivar o fogo. O ministro chamou, "mestre, mestre!" O mestre, ocupado com o fogo e a batata-doce, e com o nariz que pingava sem parar, não atendeu imediatamente. O ministro zangou-se e, virando-se começou a sair. O mestre então chamou, "ministro!". Este imediatamente parou e voltou-se. Então o mestre concluiu, "porque você respeita os ouvidos e não respeita os olhos?". O ministro ouviu e, sentindo a força da lição, inclinou-se ao mestre. "O que é o caminho?", perguntou então. O mestre respondeu, "está vendo? Nuvens estão no céu e algo está dentro da garrafa".
O segredo não tem nenhum segredo. Um monge Zen procura seu mestre e pede-lhe, "por favor, ensine-me o segredo do Budismo". O mestre responde, "sim, se você quiser; quando todos houverem saído, ninguém mais estiver aqui, procure-me aqui e eu lhe ensinarei". O monge responde, "ah, sim", e mais tarde volta e sussurra, "mestre, agora não há mais ninguém aqui, por favor, ensine-me o segredo!" O mestre então leva o discípulo ao jardim e diz, "está vendo? Esta árvore é muito alta e essa outra é muito baixa, entendeu?". "Árvores altas e árvores baixas", com isso ele mostra tudo! Num canteiro, plantando sementes de ameixeiras, cerejeiras, crisântemos ou o que seja, ele lida com estas variedades de plantas. Plantando bambú, é bambú que crescerá, ninguém tem o poder de trocar isso. É isso ai - nós é que complicamos a nós mesmos querendo classificar as coisas e mudar tudo.
Eu estava falando sobre os vários tipos de sermões: o sermão da luz radiante, o sermão da atividade com o corpo e ações..., mas há outro sermão, o sermão de "um tom" ou "uma voz". Quando Buda falava, todos entendiam de acordo com seu estado de consciência e compreensão. Estas histórias podemos também encontrar dentro da Bíblia. Quando Jesus Cristo apareceu e recebeu o Espírito Santo, havia muitas pessoas provenientes de países de línguas diferentes, mas, ainda assim, quando falou com o Espírito Santo, todos entenderam. Lembram dessa passagem? Como pode ocorrer isso? Um tom, um som, uma voz. Até pedras entendem, até paredes e portas escutam, porque é o Darma. Isto é a "palavra secreta". Quando você vai purificando sua mente e torna-se residente do deserto, alguém passa a falar-lhe internamente. Quem é este alguém? É vocé mesmo!
O primeiro capítulo do Evangelho de São João diz: "no princípio era o Verbo". "No princípio" significa o quê? Princípio do tempo? Não! "No princípio significa "origem", o período antes de Deus haver criado este mundo. Jesus Cristo estava à direita de Deus Pai, ele estava vendo o Pai criar o mundo. Ele mesmo estava lá. Daisetz Suzuki certa vez dirigiu-se a vários pensadores cristãos, dizendo: "Tenho uma pergunta para vocês, cristãos: quando Deus estava criando o mundo, quem estava vendo isso?" Ninguém respondeu e então ele mesmo ofereceu a resposta: "eu".
Sempre é importante esta atitude, "eu, agora, aqui". Deus criou este mundo - criou é passado, mas está ainda criando agora, neste exato momento.
Estamos constantemente criando o mundo a cada instante. E esta mesa, existe ou não? Não existe? E o que estamos vendo? Se voltarmos aqui amanhã e a encontrarmos? E se morrermos nesse espaço de tempo? Alguém vai vê-la. Mas, ainda assim, esta mesa está sendo criada por nós, agora, a cada momento, a cada instante. Fitando o espelho, vemos nosso envelhecimento. Alguns ficam tristes por ficarem velhos. Não precisam ficar tristes, não. Mestre Eckart diz, "dez anos antes nosso rosto era liso e bonito; agora, dez anos se passaram e apareceram muitas rugas, e surge então a tristeza". Não é preciso olhar assim, essa não é a realidade! Hoje estamos encontrando um novo rosto e fitando-o como da primeira vez, é uma e experiência totalmente nova. Amanhã será também um novo rosto e assim por diante! A cada vez fitamos uma forma totalmente original, a cada vez nos defrontamos com o absoluto! Criamos constantemente o mundo, neste exato momento fazemos isso. Tudo vai mudando sempre, isto é criar.
"Um tom", Sermão de "um tom". O que é este "um tom"? Mestre Eckart diz, "escutei a palavra do Pai e vou falar para vocês", EIe mesmo tem que se tornar a palavra e a palavra mesma tem que falar! Não é a boca que fala a palavra, a palavra se fala. A palavra secreta, a palavra de Deus, ela mesma fala a palavra - aí está a diferença. O sermão geralmente apresenta muitas histórias, ensinamentos - a boca está falando. Às vezes eu minto, apenas falo o que aprendi, mas o importante aqui é tornar-me as palavras. Isto significa que aquilo que estava oculto aparece, mostra-se, revela-se. Esta é a função das palavras.
Então em "Gotheit", origem de Deus, o Pai está lá, escondido. Quem vê Deus tem que morrer. O Pai entrou no Filho, veio a este mundo, apareceu com corpo físico, nós pudemos ver. Se o único Filho de Deus nasce dentro de sua alma, você escuta a palavra secreta e torna-se o Filho de Deus. Escutando a palavra, você recebe todas as potencialidades, todas as forças. Você pode falar a palavra, pois não mais será a boca apenas que fala, você mesmo é a palavra e fala. Nesse momento você vive este mundo realmente, isso é a realização de si próprio.
Há um capítulo do Shobogenzo que diz assim, "você sabe pintar a primavera? Então pinte!" Como é isso? Pintou. "Deixe-me ver... Ah, isto não é primavera, é flor de cerejeira..." - no Japão as cerejeiras florescem na primavera. "Isto não é primavera não, isto é flor de primavera, isto é flor de cerejeira, por favor, pinte a primavera!" Como pode a primavera ser pintada? Nova tentativa. "Isto é flor de ameixeira, não é primavera." Como podemos pintá-la?
Entendeu? Estamos vivendo este mundo, vivendo condenados à morte, mas muitos vivem como uma fumaça, como uma faísca, como espuma ou como uma sombra, não estão vivendo não. Para viver realmente, tem que ser capaz de pintar a primavera, e não cerejeiras ou ameixeiras. E preciso pintar a primavera mesmo. Como? O mestre toma então o pincel, "ah, já pintei a primavera". "Como? O que é isto? Isto é a primavera? Isto é flor de cerejeira, isto é flor de ameixeira!?" "Sim, quando a primavera está presente, a flor de ameixeira abre, a flor de cerejeira desabrocha, então, dentro da flor de ameixeira e de cerejeira está presente a primavera!" Dentro de você, de seu corpo, sejam altos ou magros, baixos, gordos, inteligentes, ignorantes, aí está a primavera, a presença de Deus, de Buda. Fora daí não existem nem a primavera, nem Deus, nem Buda - nada encontrará. Vazio apenas, vasto nada.
Quando Madalena visitou o corpo sem vida de Cristo, encontrou dois anjos. "O que está procurando?", perguntaram eles. "Se você está procurando aquele Jesus Cristo que morreu, não vai encontrar." Mestre Eckart interpreta essa passagem assim: "Deus não é encontrado em nenhum lugar; para a parte mais elevada da alma, Deus não está em lugar algum, mas para a parte inferior da alma, Deus está presente em todos os lugares." Então, em sua própria vida, você, encontrando-se consigo mesmo, pode manifestar a glória de Deus, revelar o que é Deus. Com dificuldade, com sofrimento, com defeitos. É com isso mesmo que você pode mostrar.
Muitas pessoas estão constantemente vivendo com a mente no futuro ou no passado. Jovens dizem, "ah, sou muito pobre, preciso estudar, é importante que eu me forme como engenheiro, como médico, como advogado, etc., só assim vou ganhar dinheiro e estarei realizado...". Isto é ainda o futuro, ainda não chegou. Os velhos dizem, "ah, eu já fiz muito nessa vida, sou muito importante, tenho cargos importantes". Isso tudo é passado.
E como estão agora todos, velhos e moços, no exato momento presente, neste exato instante? Como estão todos, fora do referencial do tempo passado e do tempo futuro, fora da temporariedade, como estão frente à eternidade? Nada podem mostrar, não estão realizados, vivem confusões apenas! Plenitude é preencher tudo aqui e agora. Com isso se chega ao estado. Isso depende da mente. A mente é que faz o sofrimento, a alegria, a felicidade.
Ryotan Tokuda
texto gentilmente cedido pelo Centro de
Estudos Budistas Bodisatva
www.bodisatva.org
http://www.sotozencuritiba.org/a_palavra_secreta.php
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2014-04-25
A Criança e a Pérola
Antes de partir,
antes que a verdade da Palavra
fosse transmitida por meu Pai para mim,
estava escrito em meu coração
que esta viagem me levaria
a sete caminhos que me conduziriam
para começar da ravina mais profunda.
É aí que a Pérola espera
o filho do rei.
E assim começa o caminho
de volta à Pátria,
onde a púrpura real
está pronta para o herdeiro,
quando a tarefa for cumprida.
A Criança e a Pérola
Revista Pentagrama - Dezembro/1999
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2014-04-24
SILENCIE A MENTE
Quando estamos em silêncio, não interferimos em nada a nossa volta e, por esse motivo, não geramos o caos. O silêncio demarca os espaços entre as palavras, entre os pensamentos e também o espaço entre nós e o mundo. Agir em silêncio é ato de humildade e de forte compromisso com a ação e não com o resultado, pois não há expectativa de aprovação.
Quando paro penso no que vou falar, geralmente fico quieto, pois compreendo que em grande parte, o que falo, é tradução de uma massiva confusão mental inerente de preconceitos e informações mal formadas da minha própria mente. Porém, há uma diferença nobre em falar o que pensa e falar o que se sente. Quando trago do fundo sentimentos, emoções e pensamentos construídos a partir da observação dessas emoções, brota um silêncio profundo.
Devemos silenciar e deixar que esse silêncio tome conta de todo o nosso ser e que cada momento de silêncio seja uma oportunidade de “mergulhar em si mesmo”.
Por minha própria experiência, posso dizer que a prática do zazen (meditação zen), se traduz em uma excelente ferramenta para estarmos mais atentos e conscientes de tudo, das nossas relações de interdependência com todos os seres.
A meditação zen possibilita às pessoas manterem-se conectadas com sua verdadeira natureza. À medida que avançamos na prática, vamos percebemos melhor os condicionamentos sociais, familiares, que tanto aprisionam nossa mente. A criança está constantemente presente, iluminada, repleta de amor. Com os condicionamentos, aos poucos ela se afasta desse estado natural de ser.
“No Zazen não devemos ter expectativas. Zazen não é uma técnica para obter o que quer que seja, é muito mais natural do que isso. No entanto, as coisas mais naturais são por vezes as mais difíceis. E porquê? Porque pensamos. Não há nada de errado com o pensamento. Pensar é um processo muito natural, mas deixamo-nos condicionar muito facilmente pelos nossos pensamentos e damos-lhes muito valor. Tentamos cuidar de nós mesmos, da estrutura do nosso ego, através do pensamento. Pensar é uma abstração. Não é ser, é pensar sobre ser. E uma vez que ‘nascemos e morremos sete mil vezes por segundo’, as condições que pensamos já desapareceram. Pensamos acerca de sombras em vez de sermos a própria vida.” Maezumi Roshi (1931-1995).
Geralmente a utilizo em diversos momentos do dia, acessando esse silêncio interior, “observando a mim mesmo”. Sugiro que você comece a praticar esta observação antes de deitar-se ao anoitecer para clarear sua mente, deixando-a menos turbulenta.
Somos como um lago. A cada vez que aprofundamos a nossa observação sobre este lago, conhecemos ainda mais qual a sua profundidade e, cada vez que sabemos o quão profundo ele é, mais imersos passamos a perceber melhor o mundo e as coisas como realmente são.
A cada dia a nossa vida fica mais atribulada, cheia de questões não resolvidas e assuntos para “correr atrás”. Penso que isto só acontece porque ainda nos mantemos muito na superfície do desse lago, e nos esquecemos de nos aprofundar por completo no que realmente somos.
A nossa prática deve priorizar o “conhecermos a nós mesmos”, e ajudarmos os outros a mergulharem em seus lagos em silêncio.
“A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas é encontrada”.
(Eckhart Tolle em O Poder do Silêncio)
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[Perguntas e respostas]
1) Por que diferentemente de todos os outros seres da natureza nós temos consciência?
Monge Genshô – Mas eles têm consciência, apenas é mais fraca. Eles também sofrem, têm medo, amam e temem a morte. Quem pode afirmar que animais não sentem saudade e não sofrem a morte de seus companheiros ou donos?
Acontece que o homem está degraus acima no exercício de sua consciência, mas essa consciência que lhe dá o conhecimento de sua finitude, lhe traz também uma angústia existencial que o animal não sente.
Por isso o homem cria religiões e crenças, que são uma forma de escapar da angústia existencial. O budismo se recusa a dar ao homem uma solução fácil como eternidade ou um nada após a morte
2) A gente sempre ouve falar da influência do Zen nas artes japonesas, até mesmo nas artes marciais, como é possível praticar o Zen dessa forma?
Monge Genshô – Esse Zen que estamos falando você não vai praticar integralmente através das artes marciais. Realmente o Zen influenciou de forma intensa tanto as artes chinesas quanto as japonesas.
Com a prática da arte marcial você pode ganhar disciplina, sensibilidade, auto-controle e pode mesmo desenvolver o “ki”, forma de energia, que o ajudará na pratica do Zen.
Quando você desenvolve sua sensibilidade é natural que seja levado à prática espiritual.
Porém as artes, mesmo as fortemente influenciadas pelo Zen, não o levarão sozinhas à iluminação. Não são práticas para a iluminação, são somente artes influenciadas filosófica e espiritualmente pelo Zen como um caminho.
Os mestres marciais que desenvolveram grande qualidade espiritual não praticavam somente arte marcial.
Temos exemplos de Mestres Zen que foram grandes artistas, como Monge Ryokan, um mestre da Escola Soto que era um grande calígrafo e poeta.
O fundador da Escola Soto no Japão, Mestre Dogen, era um poeta maravilhoso. Monge Takuan escreveu e influenciou muito um grande mestre da espada.
Monge Guenshô
http://opicodamontanha.blogspot.com.br/2014/04/so-nos-temos-consciencia.html
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2014-04-23
Masculinidade, o que está acontecendo com os homens de De HOJE?
Masculinidade, o que está acontecendo com os homens de De HOJE?
1-
https://www.youtube.com/watch?v=BHGpE3A3dWc
2 -
https://www.youtube.com/watch?v=FT6Zt32ZqVQ
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Feminismo, o maior inimigo das mulheres
A sociedade moderna está mergulhada no conceito de igualdade. Cada vez mais luta-se para equiparar o homem à mulher e vice-versa. Se a igualdade pretendida fosse em relação aos direitos civis, cuja necessidade é inegável, não seria, de fato, um problema. Porém, o que acontece é que esta sociedade moderna, eivada do relativismo cultural, quer é transformar a mulher no novo homem e o homem na nova mulher, invertendo e pervertendo os valores mais elementares.
Deus criou o homem e a mulher em igual dignidade, mas quis que houvesse uma diferença entre os dois sexos. Esta diferença em "ser homem" e "ser mulher" faz com que exista uma complementariedade entre eles. Foram criados por Deus para formarem um conjunto, não um se sobrepondo ao outro, mas em perfeita sintonia um com outro. Lutar contra esse projeto, fazendo com que a mulher tente, por todos os meios, ocupar o lugar do homem é lutar diretamente contra o projeto de Deus, contra a natureza humana.
A liberação sexual promovida pelos métodos anticoncepcionais, longe de trazer a sensação de igualdade entre o homem e mulher, transformou a mulher numa máquina de prazer, pois agora ela sabe que pode ter uma vida sexual ativa sem a consequente gravidez. Não precisa ter compromisso com o parceiro, não precisa sentir-se segura ou amada. Ledo engano. O que se vê são cada vez mais mulheres frustradas, depressivas, olhando para trás e percebendo que estão vazias, correndo contra o tempo para manterem-se jovens, pois nada mais têm a oferecer que não o invólucro.
A liberdade da mulher, na verdade, transformou-se numa prisão. Hoje, elas se vêem presas a estereótipos ditados pela agenda feminista, cujo maior objetivo é destruir a essência da mulher, igualando-a ao homem. Transformando seus úteros em lugares estéreis e varrendo para debaixo do tapete o instinto natural da espécie: a maternidade.
Portanto, urge que cada mulher, criada à semelhança de Deus, recupere o seu lugar na Criação. Que a mulher seja mulher em toda sua plenitude!!
Padre Paulo Ricardo
https://www.youtube.com/watch?v=80JuBmps6Qk
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2014-04-22
OS CAMINHOS DA PAZ INTERIOR
Os profetas das Mitologias anteriores a Cristo compreendiam o Ser Humano como algo insignificante e desprezível diante das suas Divindades. Esse conceito foi questionado por Sócrates na Grécia, por Buda na Índia e por Cristo na Palestina.
Tanto os profetas do Antigo Judaísmo quanto os das demais mitologias dessa época, costumavam imolar animais às suas Divindades e aspergiam sangue sobre seus altares pois entendiam que somente o Sacrifício de Sangue podia acalmar a Ira Divina contra a HUMANIDADE.
Enquanto a didática de Sócrates e Buda eram mais sofisticadas e filosóficas, a didática de Cristo era mais direta e coloquial, pois Jesus ensinava por Metáforas Populares, como na história do Filho Pródigo, que eram parábolas de linguagem coloquial muito conhecidas por todas as classes sociais da palestina.
Cristo se contrapôs ao Teocentrismo Sacerdotal cultivado pelos fariseus e chefes das sinagogas e revolucionou os Conceitos Espirituais da Humanidade, mostrando-nos que Deus, não é irado, vingativo nem punitivo... E pouco se importa com os ritos e dogmas da Humanidade...
Falou-nos de um Pai de Infinito Amor, rico em Perdão e Misericórdia que sabe nos dar boas coisas antes mesmo que lhe peçamos, e se manifesta nas pessoas que buscam SIMPLICIDADE DE PROPÓSITOS e PUREZA DE CORAÇÃO.
Os Ensinamentos de Cristo colocam o SER HUMANO, como participante decisivo na IMPLANTAÇÃO do REINO DE DEUS sobre a Terra, mostrando-nos que esse Reino Vive dentro de cada um de nós, e deve ser exercitado e expandido, para o auxiliarmos na sua Missão de Instaurar o Reino de Deus entre os HOMENS.
Os ricos e imorredouros ensinamentos de Cristo se expandiram pelo Planeta formando inúmeras vertentes religiosas que vão além das religiões cristãs, pois Maomé, o Pai do Islamismo considerou Jesus Cristo como o MAIOR entre os Profetas, e incluiu os seus ensinamentos no Alcorão.
Mahatma Gandhi, célebre praticante do Hinduísmo considerou o Sermão da Montanha do Mestre Jesus, como a ESSÊNCIA e o RESUMO de todos os Livros Sagrados da Humanidade.
A Mensagem de Cristo é Antropocêntrica. Coloca o SER HUMANO, como personagem importantíssimo nos Desígnios de DEUS, para transformar a Terra num paraíso, onde as VIRTUDES HUMANAS se sobreponham à nossa pequenez.
"Fareis obras iguais ou maiores que as minhas se entenderes as minhas palavras" Se tiveres fé do tamanho de um grão de mostarda movereis montanhas" " Dai a Deus o que é de Deus e aos Governantes Humanos o que é deles" "Quem acredita e mergulha na sua fé será salvo. Mas quem não acredita se auto condena" "Tudo é possível a quem acredita" "Toda a Lei de Deus se resume em amar a Deus e ao Próximo" "Perdoe, 490 vezes" "Faça pelo outro o que quer que te façam e nunca faça a ninguém o que não queres pra ti" "Tudo o que o SER HUMANO PLANTAR, irá colher" "Amem-se como eu vos amo e aceitem-se como eu vos aceitei."
Quando compreendemos os ENSINAMENTOS DE CRISTO, acima dos dogmatismos doutrinários, percebemos que, lentamente caminhamos para a Luz, para o Amor e para a PAZ, que só pode ser construída quando adquirimos PAZ INTERIOR.
Bem vindos à Era do Cristianismo Universalista!
- Paulinho Santos
(Família Fratuni)
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[ Muitos outros luminares de outros povos, reverenciam Jesus e Seus ensinamentos. ]
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A ARTE DE MEDIR
Em seu diálogo “Protágoras”, Platão escreve:
“Suponha que a felicidade consiste em fazer e escolher o que é grande; e em não fazer, ou evitar, aquilo que é menor.
Qual seria o princípio da salvação da vida humana?
A arte de medir não seria o princípio da salvação?
Ou seria o poder das aparências?
Esse último não é aquela arte enganadora que nos faz oscilar para cima e para baixo, e optar, em um momento, por coisas das quais nos arrependeremos depois, tanto em nossas ações como ao escolher entre coisas grandes e pequenas?
A arte de medir deixa de lado a força das aparências, e, ao mostrar a verdade, ensina de bom grado à alma como encontrar descanso na verdade, e assim salva nossa vida.
Será que a humanidade não reconhece, em geral, que a arte que produz esse resultado é a arte de medir? (.....)”
“Medição” é, na verdade, “discernimento”, ou “Viveka” em sânscrito.
Platão prossegue:
“... Vendo que a salvação da vida humana é reconhecida como algo que consiste na escolha correta de prazeres e dores, na escolha do que é mais e do que é menos, do grande e do pequeno, e do próximo e do longínquo, será que essa medição não é a avaliação do que há em excesso ou que falta, e da igualdade na relação entre um e outro?”
O lema do movimento teosófico afirma que “não há religião mais elevada que a verdade”. Platão, por sua vez, ensina que não existe coisa alguma mais poderosa que o conhecimento da verdade.
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Reproduzido do texto "O DILEMA ÉTICO DE S. PAULO", de Carlos Cardoso Aveline: http://www.teosofiaoriginal.com/2014/04/o-dilema-etico-de-s-paulo.html
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[ COMO IDENTIFICAR UM GNÓSTICO]
Como identificar um gnóstico em uma comunidade católica?
O conceito de gnose pode ser dividido em duas características básicas. A primeira é quando a pessoa crê que a realidade atual é opressora e escravizante. A segunda é que existe um conhecimento que liberta dessa opressão. Gnosis em grego quer dizer conhecimento.
Desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e até os dias atuais é possível perceber o gnosticismo. Todavia, ao longo do tempo, este movimento passou por um processo gradual de secularização e, atualmente, trata-se de um movimento ateu e materialista. Isto quer dizer que existe um ódio fundamental contra a estrutura da realidade (obviamente representada pela Civilização Ocidental e tudo o que ela traz). Antigamente esse ódio era direcionado ao deus mau, o demiurgo, aquele que criou o mundo material (portanto, ruim).
Hoje em dia, essa estrutura, antes criada por um deus, pode ser representada por um ideologia, um sistema, que acorrenta o homem a um mundo “errado”. O conhecimento teórico, pela gnose, traria a libertação. No mundo secularizado, o conhecimento teórico é chamado de teoria crítica. O desconstrucionismo é consequência da teoria crítica que não aceita as antigas estruturas e quer refazê-las, recriá-las.
Naturalmente o homem possui dentro de si uma espécie de tentação gnóstica. Ela se manifesta todas as vezes em que se pretende ser "conselheiro de Deus", ou que se acredita que faria o mundo melhor ou diferente "se eu fosse Deus".
Felizmente, Deus quer crucificar a gnose dentro de cada homem. Ele o faz por meio do embate com o mundo real. A obediência à estrutura real como ela foi criada por Deus, bem como pela vontade de aceitar a realidade como ela foi criada, mesmo que não seja do jeito imaginado.
Tomar a cruz dia após dia é lutar contra a gnose. A vontade de Deus muitas vezes de manifesta em agruras e sofrimentos. Aceitar a vontade de Deus não é algo fácil, o próprio Jesus suou sangue para obedecer.
A finalidade da vida cristã não é outra que não lutar contra a gnose que existe dentro de cada um, vencendo a tentação de querer ser Deus, de fazer melhor que Deus. É deixar de ser uma criança mimada, cujas vontades devem ser satisfeitas e inclinar a própria vontade à vontade Daquele que tem o poder de dar a vida eterna, a salvação.
FONTE:
https://www.youtube.com/watch?v=ZkYnvaXxotw
Evangelho Gnóstico
- Evangelho de Tome completo - Cristianismo
https://www.youtube.com/watch?v=jf1_7Lbzgc0
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O que é o pelagianismo?
Nos últimos tempos, o Papa Francisco tem abordado com frequência a questão do Pelagianismo. Mas, o que vem a ser isso? Trata-se de uma heresia iniciada por um monge oriundo da Bretanha, chamado Pelágio. Ele dizia que não era necessário o auxílio da graça de Deus para que o homem realizasse atos de virtude. Cristo morreu na cruz e deu o exemplo. Bastaria ao homem segui-lo. Santo Agostinho que por trinta anos viveu amarrado às correntes do pecado sabia que a afirmação de Pelágio era falsa. Ele sabia da incapacidade do homem em vencer o pecado sem o auxílio da graça divina.
A heresia pelagiana foi condenada no XV Sínodo de Cartago, iniciado em 01 de maio de 418, conforme se vê no "Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral", popularmente conhecido como Denzinger- Hünnermann, a partir do número 225.
Algum tempo depois, a reflexão teológica iniciada por Pelágio ganhou um novo capítulo, pois, na Gália, atual França, surgiu uma segunda opinião acerca do tema. João Cassiano, o mesmo que escreveu as "Instituições Cenobíticas, tornou famoso Evágrio Pôntico e a doutrina dos Padres do Deserto no Ocidente, criou o chamado "semipelagianismo", afirmando que a graça de Deus auxilia no momento de se vencer o pecado, mas que a iniciativa precisa ser do homem. Isso também não é verdade, pois, o amor de Deus é sempre o primeiro a dar o passo na direção do homem. O semipelagianismo foi condenado no II Sínodo de Orange, iniciado em 12 de julho de 526 (DH 730 e seguintes).
Para entender estas duas heresias e como elas influenciam de modo concreto e inequívoco a vida dos cristãos até os dias atuais, é necessário fazer uma distinção entre graça suficiente e graça eficaz. Lembrando que graça é o próprio Deus que se doa ao homem. O Espírito Santo quando é derramado nos corações é a graça por excelência.
A efusão do Espírito Santo, também conhecida como graça incriada, provoca no homem diversas mudanças que podem ser chamadas de graça criada. Elas são reações ocorridas no íntimo da própria pessoa, que se transmuda ao receber o Deus que se doa.
Deus se dá à pessoa, contudo, apenas o suficiente para que o processo de mudança ocorra de forma livre. A pessoa continua livre, pois somente na liberdade é que o amor pode acontecer e ser correspondido. Se Deus se oferecesse de maneira plena, com toda sua potência, o homem perderia a sua liberdade, pois Deus é irresistível. Assim, Ele oferece ao homem a chamada graça suficiente.
O conceito teológico de graça suficiente é a chave para se combater o semipelagianismo. Ela é como um carro que saiu da concessionária com combustível suficiente apenas para chegar ao posto de gasolina, mas não até o destino final, portanto, apenas para iniciar o caminho de conversão, mas não para chegar à santidade.
A graça suficiente age no homem para realizar a conversão do filho pródigo narrada no Evangelho de São Lucas, capítulo 15. Ele pensa: "pequei contra Deus e contra o meu pai, vou voltar para casa." A partir dessa tomada de consciência, da graça suficiente que toca o coração humano, ele deve pedir, suplicar, implorar pela graça eficaz, aquela que é capaz de agir em seu coração, capacitando-o a vencer o pecado no dia a dia.
A graça eficaz não é merecida por ninguém, nem mesmo os grandes santos, por isso é preciso pedi-la. Santo Afonso Maria de Ligoria dizia: "quem reza se salva, quem não reza não se salva, se condena." Ou seja, quem pede a graça de Deus a terá. E a graça eficaz fará com que a pessoa vença o pecado na batalha do dia a dia. Assim, quem não a pede não tem a força que ela traz.
Se a graça suficiente combate o semipelagianismo, a graça eficaz, por sua vez, combate o pelagianismo. Seja como for, em ambos casos, o homem é um mendigo diante da porta de Deus. Ele precisa bater e pedir a graça. Deus a concederá não porque o homem a mereça, mas porque Ele é Bom.
Para recebê-la, contudo, é preciso ser como as virgens prudentes do Evangelho de São Mateus (25), que enchem as suas lâmpadas com o óleo da oração. Pedir insistentemente, bater à porta, fará com que aconteça o que Jesus prometeu: "pedi e recebereis, batei e abrir-se-vos-a, vos será dada uma medida calcada, sacudida, abundante que será colocada em vosso regaço"(Mt 7,7): a graça de Deus.
Para isso, é preciso não se contentar com a graça mínima, suficiente, mas pedir incessantemente e confiar Naquele que prometeu que irá derramar a graça de fazer com que o cada um O ame de todo o coração.
https://www.youtube.com/watch?v=prs4aqqMjxc
2014-04-21
Filosofia
A Filosofia começa quando a pessoa começa a se autoconhecer, entender e desenvolver sua visão de mundo ou realidade/s.
Primeiramente a pessoa recebe informações (impressões) nos sentidos da maneira como deve ser; do que é certo e errado, pode e não pode, bom e mau, triunfo e derrota e etc.
Diversos padrões, conceitos, experiências são transmitidos pelo mundo exterior e se transformam em crenças no indivíduo; afetando diretamente sua realidade interior que está em constante mudança e relação com a própria realidade exterior…
As crenças passadas por gerações e gerações lhe emprestam símbolos e significados dando sentido e fazendo parte de seu universo.
Num fluxo e refluxo onde certas crenças são confirmadas, dando motivação (prazer) levando a pessoa encontrar mais sustentação as suas razões, buscando mais confirmações… Mas outras entram em conflito e antagonismo fazendo com que a pessoa fique intranquila, questionando e desejando sobrepujar aquela experiência (evitar a dor).
Nesta investigação, discussão com outras pessoas, reflexão e formação de idéias o indivíduo vai desenvolvendo e exercitando a razão.
Na consciência as interpretações vêm e no inconsciente elas se vão…
O que influência o comportamento humano são as causalidades desencadeantes dos acontecimentos e seus efeitos sobre nós, ou seria; as forças latentes dentro de nós mesmo que atraíram/atraem os signos e acontecimentos?
Toda vez que compreendemos algo sobre nós; unimos com Sophia (sabedoria).
“Os que não se lembram da própria história estão condenados a repeti-la. Se não fizermos um esforço para, gradativamente, irmos tomando consciência de nossos mitos pessoais, acabaremos dominados pelo o que os psicólogos diferentemente denominam de compulsão repetitiva, complexos autônomos, engramas, rotinas, enredos, jogos.
Quem é autor da própria história confere autoridade as suas ações. Adquirimos autoridade e criamos um mito pessoal que nos ilumine através da nossa verdadeira forma.” (Sam Keen e Anne-Fox)
A partir de nossas inquietudes buscamos a filosofia, criamos instrumentos e procedimentos equacionando o campo de hipóteses; compreendemos as limitações impostas culturalmente, os ritos de passagem ultrapassados que empobrecem, prejudicam e alienam os Homens.
A filosofia nos fornece respostas significativas e nos provoca com perguntas em que podemos despertar para novas rotas para consecução das qualidades heróicas, de um ânimo desenvolvido, auto-realizador e espiritualmente fundamento.
Examinamos o passado, reavaliamos os Homens e o sexo, os Homens e a guerra, os Homens e o trabalho, proporcionando novos modelos para ajudá-los a ir a fragmentação à totalidade em cada aspecto de nossas vidas.
Este é o fundamento do trabalho filosófico; Conhece-a-ti-mesmo (Sócrates).
A filosofia pode guiar e estimular os Homens que estão à procura de novos ideais de força, potência e bravura para uma vida mais plena e apaixonada.
Texto de Ariel Estrela
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As Estruturas do Tempo
Onde Fica o Presente?
Os seres humanos têm uma tendência inevitável para serem animais filosóficos. Interpretamos, descobrimos e damos significados ao ato de percepção.
Pensamos com nossos sentidos, vemos com nossos corações e sentimos com nossos cérebros. Usamos de imagens, analogias e metáforas para entender e dar um sentido global ao mundo que nos cerca.
Vivemos dentro de um sistema que empresta significado às nossas experiências. O contexto filosófico no qual vivemos determina a nossa percepção a respeito do significado do tempo.
A história da religião e da filosofia proporciona um conjunto acessível de imagens e analogias que podem ser usadas para estruturar a experiência.
Cada visão de mundo incorpora uma filosofia de tempo que dá sentido ao momento atual. Os acontecimentos dependem sempre de um mito ou metáfora que explica por que alguma coisa acontece.
Se o mundo é um artefato talhado por um artesão divino (Platão), então o tempo é a imagem mutável da eternidade e este momento deve ser utilizado para contemplar as coisas eternas e para fazer com que as coisas deste mundo se sujeitem a elas.
Se o mundo é um campo de batalha no qual as forças do mal por pouco não derrotam as forças do bem (gnosticismo, maniqueísmo), então o tempo é uma prisão que mantém o espírito do homem encarcerado na matéria e este momento deve ser usado para evasão.
Se o mundo é uma ilusão material rodeado pelo mar perene da não-existência (budismo), então o tempo é um sonho e este momento é propicio à iluminação, ao despertar da ilusão.
Se o mundo é uma arena que Deus imputou a Suas livres criaturas (cristianismo), então o tempo é uma oportunidade para a libertação e o momento presente pode ser usado para a tomada de decisão, a criatividade e o prazer.
Se o mundo é uma conjunção de átomos irregulares (existencialismo ateu), então o tempo é um caos desenfreado e pouco importa o que se faz com o momento presente.
Se o mundo é um mistério a ser saboreado, vivido com responsabilidade mas jamais explicado (misticismo), então o tempo é um filtro pelo qual o animal humano percebe o dom estranho que jamais voltará a se repetir.
Se o mundo é um imenso organismo que está sempre morrendo e renascendo como uma planta (religiões cósmicas, maternais e Nietzsche), então o tempo é um ciclo periódico e este momento não é novo e pode ocorrer muitas e muitas vezes.
Se o mundo é um lugar onde os mais aptos sobrevivem (capitalismo evolutivo), então tempo é dinheiro e este momento deve ser usado para produtivamente para o aperfeiçoamento do individuo no processo de competição…
Visto que muitos de nós não dispomos de sistemas filosóficos que sirvam de arcabouço para a nossa compreensão do tempo, recorremos a sensações, intuições e imagens mais modestas.
O tempo é o velho cigano, ou uma serpente que devora a própria cauda. Ele serve para destruir ou para construir, para ser utilizado ou servir como ponto de referência, ou ainda, para nosso aperfeiçoamento.
Quando suspeitamos que o tempo esta esgotando (as épocas douradas ficaram todas no passado; o esplendor da infância acabou), encaramos anos acumulados com pavor da decadência.
Nos momentos mais promissores quando o tempo parece estar caminhando para a realização (a Nova Jerusalém, ou a maturidade), sentimos que a experiência dos anos nos amadurece como vinho requintado.
Por mais modestos ou por mais elaborados que sejam nossos princípios de interpretação, eles certamente deverão ser homólogos ao modo como experimentamos este momento passageiro.
Pontos de Vistas
A sua percepção do tempo revela os seus próprios limites. Quer você acredite na reencarnação ou na finalidade da morte, quer na existência de um tempo cíclico ou linear, o fato é que este momento faz parte de um quadro mais amplo.
Desenhe um mapa de vida, um diagrama, um gráfico ou uma linha de tempo que identifique onde você se encontra agora.
Quanto tempo você já viveu?
Quanto ainda lhe resta?
Você gosta da maneira como tem despendido seu tempo até agora?
Você já esteve antes nas mesmas circunstâncias em que se encontra agora?
Acha que a situação acontecerá de novo?
Para onde veio?
De onde veio?
Que significado tem o tempo para você?
Está indo para determinado lugar, gosta do rumo que está tomando, ou acha que o lugar onde se acha agora é o melhor para você?
Do livro: A Jornada Mítica de Cada Um | Sam Keen • Anne Valley-Fox
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NÃO HÁ O QUE SER DITO
Por que tão longe do que se pode
Está o que se pretende?
A memória...
Que rasga os sonhos
Em cada palavra
Encontra impedimentos
Para o que mal se começou
Por que então, penarmos
Cheios de medo de deixar o outro ser?
Propensos a vivermos esse mal
Para que falar mais
Repetir sempre as palavras sem efeitos
E todas as frases e atos que ferem?
Talvez uma vã tentativa
De cobrir o que deveria ser dito
E não se ousa pronunciar:
Que é mentira essa entrega!...
Para que tanta força nas palavras
Que já não constroem nada
Também já não quebram nada?
É somente aluguel para os vícios
Por que não terminar essa ladainha
E em silêncio real, refletir no sentido
Daquilo que em tudo está latente?
Só a harmonia declara um viver sadio
Uma brisa na janela
Que se abre em qualquer lua
E ver que impera algo quando se cala
Um sentido
Como fogo a clarear
O sacrifício do que se pensa que é
Para assumir
O que possível seria
Se o silêncio suportasse as dúvidas
Porém, se as dúvidas
São detritos da indulgência
De liberdade negada, ...
Então, para que tanto barulho?
Se um dia tudo passa
Mesmo que não nos leve junto?
E desse pouco envolvimento
Nunca teremos o bastante para dar
Nem para receber!?
VSL
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TAO
A bondade sublime é como a água
A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso assemelha-se ao Caminho
Viva com bondade na terra
Pense com bondade, como um lago
Conviva com bondade, como irmãos
Fale com a bondade de quem tem palavra
Governe com a bondade de quem tem ordem
Realize com a bondade de quem é capaz
Aja com bondade todo o tempo
Não dispute, assim não haverá rivalidade.
Tao Te Ching
- A tradição diz que o livro foi escrito em cerca de 600 a.C. por um sábio que viveu na Dinastia Zhou chamado Lao Tzi ("Velho Mestre"), como um livro de provérbios relacionados com o Tao , e que acabou servindo como obra inspiradora para diversas religiões e filosofias, em especial o Taoísmo e o Budismo Chan (e sua versão japonesa o Zen).
Lao Tsé, também escrito Laozi, Lao Tzu, Lao Tzé, Láucio, Lao Tzi, Lao Tseu ou Lao Tze foi um famoso filósofo e alquimista chinês.
Sua imagem mais conhecida o representa sobre um búfalo, o processo de domesticação deste animal é associado ao caminho da iluminação nas tradições zen budistas.
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[ CRIADOR E CRIATURA]
A criatura está em Deus mais do que em si mesma:
Nele permanece, mesmo que pereça.
Vai onde não podes ir; vê onde não vês,
Escuta o silêncio e estás onde Deus fala.
Deus é Nada e se é alguma coisa
O é somente em mim, quando me escolhe.
Para conhecer o Homem Novo e seu nome
Pergunta primeiro a Deus como se chama.
Deus é meu espírito, sangue e carne:
Como, então, por Ele não deificar-me?
O Espírito Santo funde, o Pai consome,
O Filho transmuta em ouro e o transfigura.
Vê como o ouro unificou-se com o chumbo
E o homem deificado com a essência de Deus!
Angelus Silesius – peregrino querubínico
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DAR A OUTRA FACE
"Dar a outra face é um símbolo de maturidade e força interior. Não se refere à face física, mas à psíquica.
Dar a outra face é procurar fazer o bem para quem nos decepciona, é ter elegância para elogiar quem nos difama, altruísmo para ser gentil com quem nos aborrece.
É sair silenciosamente e sem estardalhaço da linha de fogo dos que nos agridem.
Dar a outra face previne homicídios, traumas, cicatrizes impagáveis.
Os fracos se vingam, os fortes se protegem.
"Vamos cultivar o Amor e a compreensão ,para que possamos alcançar essas virtudes...
Augusto Cury
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TE DEUM
A vós, ó Deus, louvamos,
a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.
A vós cantam os anjos,
os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!
Proclamam céus e terra
a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,
Vos louva dos Profetas
a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.
A vós por toda a terra
proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente,
de imensa majestade,
e adora juntamente
o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro,
e ao vosso Santo Espírito.
Ó Cristo, Rei da glória,
do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem,
a fim de nos salvar.
Sofrendo vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé
dos céus o reino eterno.
Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo
vireis como juiz.
Portanto, vos pedimos:
salvai os vossos servos,
que vós, Senhor, remistes
com sangue precioso.
Fazei-nos ser contados,
Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos santos
na vossa eterna glória.
Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos
até a vida eterna.
Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelos séculos.
Dignai-vos, neste dia,
guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a vós clamamos.
Que desça sobre nós,
Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos
a nossa confiança.
Fazei que eu, para sempre,
não seja envergonhado:
Em vós, Senhor, confio,
sois vós minha esperança!
Via - Frei Clemente Rojão
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2014-04-19
[ A PEDRA ANGULAR]
Nos últimos dias antes da sua morte, Jesus confrontou, desafiou e repreendeu os líderes religiosos em Jerusalém. Estes ficaram frustrados quando Jesus recebeu a adoração da multidão na sua chegada à cidade. Eles se sentiram ofendidos e ameaçados quando ele expulsou os comerciantes do templo. E quando ensinou no próprio templo – a casa de Deus que eles consideravam território próprio deles – questionaram a autoridade de Jesus para fazer tais coisas. Os servos infiéis questionaram a autoridade do Filho sobre seu uso da sua própria casa!
Jesus mostrou a incoerência da conduta desses líderes com uma simples pergunta sobre o batismo de João. Eles, mais preocupados com a política do que com a verdade, recusaram responder (Mateus 21:23-27).
Parábolas sobre a Rejeição pelos Líderes Religiosos
Depois desta conversa com os principais sacerdotes e os anciãos dos judeus, Jesus usou duas parábolas para mostrar a rebeldia deles diante de Deus. Na primeira, ele mostrou que os pecadores penitentes foram mais justos do que os religiosos rebeldes (Mateus 21:28-32). Na segunda, ele falou de servos encarregados com a vinha do seu senhor. Ao invés de pagar os valores devidos ao dono da vinha, estes servos maus maltrataram e mataram os mensageiros que ele mandava receber os pagamentos. Afinal, o dono da vinha mandou seu próprio filho, achando que eles o respeitariam. Os lavradores, vendo a oportunidade de tomar posse da vinha, mataram o filho do dono. As pessoas que ouviram a parábola entenderam que o dono teria todo motivo para destruir aqueles servos maus (Mateus 21:33-41). Os líderes dos judeus entenderam, corretamente, que Jesus usou aquelas parábolas para falar deles e de suas atitudes erradas para com Deus (Mateus 21:45-46). Os desafios continuaram, os religiosos armando ciladas para Jesus, e o Cristo mostrando a perfeita sabedoria que os silenciou (Mateus 22 e 23).
Jesus: A Pedra Rejeitada pelos Construtores
No meio destas discussões (Mateus 21:42), Jesus citou a profecia de Salmo 118:22-23 – “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos.” Esta profecia do salmista e uma referência semelhante em Isaías 28:16 se tornaram pontos importantes na pregação apostólica. Além de três dos relatos do evangelho incluirem o comentário de Jesus (Mateus 21:42; Marcos 12:10 e Lucas 20:17), pregadores como Pedro e Paulo desenvolveram e aplicaram o mesmo tema.
Nas construções antigas, a pedra angular era a pedra de esquina que servia para alinhar toda a construção. A escolha de uma boa pedra facilitaria a construção conforme a planta. Uma pedra fora de esquadria resultaria numa construção errada. Os construtores de Israel julgavam Jesus uma pedra inadequada para o tipo de construção que eles queriam. Deus o julgou perfeito para edificar a igreja conforme a planta divina.
Jesus: A Pedra Eleita e Preciosa
Pedro fez a aplicação direta quando repreendeu os líderes em Jerusalém: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular” (Atos 4:11). Algumas décadas depois, ele usou o mesmo princípio para frisar a importância da santidade dos cristãos (1 Pedro 2:4-10). Ele mencionou a rejeição da pedra angular pelos descrentes, mas fez seu apelo aos crentes. Para os servos do Senhor, a mesma pedra é “eleita e preciosa”. Baseado neste princípio da preciosidade da pedra angular, Pedro disse aos cristãos: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9). Paulo fez a mesma aplicação deste tema: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor” (Efésios 2:19-21).
Os Cristãos: Pedras que Vivem
Por terem uma relação especial com a pedra angular, eleita e preciosa, os cristãos devem viver de maneira distinta do mundo: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1 Pedro 2:4-5).
A Pedra Rejeitada Hoje
Na época de Jesus, Pedro e Paulo, a maioria dos líderes religiosos – mesmo aqueles que afirmavam servir a Deus – rejeitaram o próprio Senhor. Eles queriam construir suas congregações e movimentos conforme as suas próprias idéias, enfatizando alguns princípios da palavra de Deus e ignorando outros. As tradições destes líderes, muitas vezes, tomou o lugar da verdade revelada por Deus. Há muitos construtores no mundo religioso atual. Líderes religiosos procuram construir igrejas e iniciar e manter movimentos religiosos. Em todos os casos, devemos avaliar estas construções para ver como tratam a pedra angular escolhida por Deus. É triste observar que muitos dos construtores hoje imitam os religiosos que rejeitaram Jesus há 2.000 anos. Rejeitam o Senhor e a palavra dele e estabelecem outras bases que se tornam sagradas.
Algumas Pedras Erradas
Quando suplantam Jesus, os construtores colocam suas próprias pedras no fundamento de suas igrejas e movimentos. Geralmente, estas pedras são distorções de ensinamentos bíblicos. No caso dos fariseus do primeiro século, as pedras erradas eram várias. Alguns exemplos: regras humanas sobre o sábado (Marcos 2:23-28; os fariseus faziam acréscimos à lei do sábado que Deus havia dado aos judeus – Êxodo 31:12-18), tradições dos homens sobre como lavar as mãos e as louças (Marcos 7:3-9), e ensinamentos sobre jeitos de evitar suas responsabilidades para com seus pais (Marcos 7:10-13).
Hoje, líderes religiosos têm escolhido outras pedras, também distorcendo verdades reveladas nas Escrituras ou acrescentando suas próprias doutrinas. Considere alguns exemplos atuais:
O Livro de Mórmon. A pedra angular dos mórmons é o Livro de Mórmon. Eles dizem: “Joseph Smith traduziu o Livro de Mórmon para o inglês pelo dom e poder de Deus. Ele disse que o livro ‘é o mais correto que existe sobre a face da Terra e a pedra angular de nossa religião e [que] um homem pode se aproximar mais de Deus observando os seus preceitos do que pelos de qualquer outro livro.’ (History of the Church, 4:461). O Presidente Ezra Taft Benson ajudou-nos a entender como o Livro de Mórmon é a pedra angular de nossa religião....”
(citação do site www.mormons.com.br). Ao invés de aceitar Jesus Cristo como a pedra angular, eles adotam um outro evangelho como o fundamento de sua religião. Lembremos a advertência dada pelo apóstolo Paulo:“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1:9).
Uma Forma Exclusiva do Nome de Deus. Apesar do fato que os apóstolos usavam traduções das Escrituras que representavam nomes divinos em outros idiomas, várias seitas têm surgido defendendo formas “autênticas” de escrever e pronunciar nomes de Deus (Jeová, Yehoshua, Yeshua, etc.). No zelo pela forma do nome, alguns desses grupos até alteram as Escrituras inserindo a forma “autêntica” em textos onde não aparece. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, usam uma versão da Bíblia na qual os tradutores inseriram o nome Jeová no Novo Testamento mais de 200 vezes, apoiando a aplicação deste nome ao Pai e negando o fato que Jesus, também, é o Senhor descrito no Antigo Testamento como YHWH (Jeová). É impossível compreender o primeiro capítulo de Hebreus e ainda negar que Jesus é o Senhor Eterno identificado como YHWH.
Métodos Específicos de Crescimento. Outros movimentos têm destacado determinados métodos de crescimento – métodos específicos de discipulado, organização de igrejas em células, etc. – como a característica que os define. O sistema humano se torna o ponto principal, e pessoas que não adotam o mesmo sistema são rejeitadas.
O Evangelho Social. Alguns grupos têm focado suas obras sociais de maneira que enfatizam o segundo mandamento acima do primeiro (Mateus 22:36-40). Estas igrejas desviam sua atenção de sua missão espiritual e concentram seus recursos e suas obras em atividades sociais.
O Ecumenismo. Numa sociedade em que a tolerância é valorizada mais do que a verdade, o espírito ecumênico se tornou mais importante do que o Senhor Jesus. A pedra angular de algumas religiões é a convivência pacífica, abandonando a guerra espiritual dos verdadeiros cristãos (2 Coríntios 10:3-6) e esquecendo totalmente o sentido da nossa santificação.
Voltar à Pedra Angular Verdadeira e Eterna
O desafio diante de nós é simples, mas exigente: voltar à pedra angular verdadeira. “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3:10). “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Salmo 127:1). Voltar a Jesus significa mais do que a aceitação dele como Salvador. Significa o compromisso de obedecê-lo como Senhor, aquele que tem toda autoridade (Mateus 28:18-19; Colossenses 3:17; 1 Pedro 4:11; 2 João 9). É essencial respeitar a pedra angular para construir conforme a planta original dada por Deus.
Dennis Allan
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