2013-08-30

[ ORGULHO DISFARÇADO DE HUMILDADE ]








Somente na humildade floresce a virtude. Tampouco é virtude a moralidade social, mero ajustamento a um variável padrão de ambiente ou conduta.

A moral vigente, aceita pela sociedade e pela igreja, que tornam respeitável esse modelo, também nega a virtude. Enraizada no conformismo e desejo de recompensa, ou medo à punição, essa moralidade pode ser ensinada e praticada, modelando a sociedade, atravéz da influência e propaganda, responsável por inúmeros padrões de condutas.

Mas, a virtude não é produto do tempo ou de circunstâncias. Ela não pode ser cultivada, e não admite controle ou disciplina. Espontânea e gratuíta, é impossível conceder-lhe a marca da responsabilidade ou dividi-la em bondade, caridade, amor fraternal e assim por diante.

A virtude não é produtodo ambiente, da riqueza, ou da pobreza, da abstinência ou de algum dogma. Ela não nasce da astúcia nem do pensamento ou da emoção. Tampouco resulta da revolta contra a moral social; sendo uma ação do pensamento, a revolta é mera continuidade modificada do que foi.

Se cultivada, torna-se a humildade orgulho disfarçado, na ânsia de tornar-se respeitável. Assim como é impossível o amor transformar-se em ódio, a vaidade jamais se tornará humildade. Pelo ideal da não-violência não se elimina a violência; esta simplesmente tem de findar.

A humildade não é um ideal por alcançar, pois todos os ideais são falsos, sendo o fato a única verdade. A humildade não é o oposto do orgulho; ela, simplismente, não tem oposto. Todos os opostos se inter-relacionam, mas nada há em comum entre humildade e orgulho.

Este cessa não por ato voluntário, mediante disciplina ou o desejo de lucro, mas na chama da atenção, livre da contradição e desordem causadas pela concentração. Termina o orgulho ao compreendermos toda a sua atividade.

Essa compreensão vem com a passiva observação dos mínimos movimentos do orgulho. Tal observação é do presente e não pode ser exercitada ou praticada, pois nesse caso seria uma astúcia do pensamento, incapaz de suscitar a humildade.

A atenção origina-se do silêncio e da extrema sensibilidade e imobilidade do cérebro. O centro que resulta da concentração, sua atividade exclusivista, é dissolvido pela atenção, aquela percepção instantânea capaz de destruir o orgulho.
Desse estado brotam a humildade e a virtude, que dão nascimento à bondade e à caridade. Não há virtude sem humildade.



( Trecho do livro Diario de Krishnamurti - por J. Krishnamurti )