2013-08-26

Sonhos - Caminhos para o Autoconhecimento







Sonhos: Caminhos para o Autoconhecimento e para a Cura Emocional

“Sonhar permite que cada um e todos nós sejamos loucos, silenciosamente e com segurança cada noite de nossas vidas.”

(William Dement, pesquisador do sono e sonhos) 


Ao longo dos tempos, os sonhos sempre exerceram fascínio sobre os povos de diferentes culturas, filosofias e religiões. Desde a Grécia Antiga, Babilônia, até os dias atuais, a realidade onírica se apresenta como uma possibilidade que cada pessoa tem de mergulhar profundamente dentro de sua psique, nadar nessas águas escuras, travar um diálogo aberto e franco com sua sombra, encarar os seus limites e trazer de volta, à luz da consciência, todo esse rico conteúdo e operar as transformações na vida que se fazem necessárias e, às vezes, urgente.

Nos tempos antigos, os sonhos eram vistos como sobrenaturais mensagens dos deuses, como aviso, conselho, profecia ou encorajamento. Os babilônios viam a natureza repleta de deuses a serem aplacados e demônios a serem afugentados, sendo os sonhos essenciais para a sua prosperidade e proteção.

Na Grécia antiga, as pessoas se dirigiam aos templos para “incubar” os sonhos. O Templo era conhecido como Santuário de Esculápio( Deus da Saúde). Após determinados sacrifícios e ritos de purificação, a pessoa se recolhia para dormir. Se tivesse o sonho”certo” acordava curada. O sonhador permanecia no templo até que o sacrifício fosse favorável e ocorresse a cura.

Para os judeus primitivos, os sonhos também eram sagrados e, através deles, era possível ouvir a voz de Deus, que revelava a verdade ao homem a fim de que obtivesse uma vida mais plena e mais livre.

Hipócrates, o Pai da Medicina moderna, escreveu um “Tratado dos Sonhos”, onde indica a utilização terapêutica dos sonhos.

Dentro da Psicanálise, dois grandes expoentes têm que ser mencionados pela contribuição que deram ao estudo dos sonhos: Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. Ambos mergulharam profundamente no estudo dos sonhos, através da análise dos casos clínicos e através de suas próprias experiências pessoais.

Os estudos começaram com Sigmund Freud, que abandonou a hipnose pela análise dos sonhos e associação de idéias para revelar o processo mental inconsciente na raiz do distúrbio. Deu ênfase aos impulsos sexuais como causa das neuroses, o que lhe causou grande oposição nos meios científicos. Em 1900 Freud lança o livro “A Interpretação dos Sonhos” que foi o grande impulsionador no estudo da realidade onírica. Segundo a Teoria Freudiana, os desejos ganham expressam em nossos sonhos por causa de sua conexão com os conflitos inconscientes, provocados pela repressão de desejos infantis. Tais desejos se originam de ânsias não realizadas da criança, ainda nos estágios prematuros de desenvolvimento. Freud transformou os sonhos em potentes instrumentos terapêuticos, por sua ênfase com o nosso passado e preocupação com tensões e conflitos que emergem da infância.

Já Jung possuía uma visão mais abrangente na interpretação dos sonhos. Enquanto Freud
falava de um inconsciente pessoal, onde ficava armazenado o registro de todas as experiências, memórias do individuo, Jung, até pelo seu interesse por vários outros ramos do conhecimento – Astrologia, Alquimia, Tarô, Mitologia, foi além, e trouxe uma nova visão no estudo dos sonhos e da mente, falando do inconsciente coletivo. Ele sugeriu a existência de duas camadas da psique: a pessoal e a coletiva, O inconsciente pessoal, já apresentado por Freud e o inconsciente coletivo que é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arquétipos, que são predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações humanas e universais de diferentes maneiras. Há arquétipos que correspondem a várias situações, tais como, as relações com os pais, casamento, nascimento dos filhos, o confronto com a morte, imagens da criação do paraíso, da terra-mãe, do pai onipotente, entre outras. 

Após essa nova luz sobre a interpretação dos sonhos, houve o rompimento entre Jung e Freud e Jung coloca “ Nunca pude concordar com Freud que o sonho é uma “fachada” atrás da qual seu significado se dissimula, mas que se oculta quase que maliciosamente à consciência. Para mim, os sonhos são expressão da natureza do homem, e não encerram a menor intenção de enganar; dizem o que podem dizer e tão bem quanto o podem, como faz uma planta que nasce ou um animal que procura um pasto.”

Todas as pesquisas acerca dos sonhos trouxeram importantes constatações. O sonho é uma forma de o indivíduo configurar uma questão que está vivendo e que lhe trazendo ansiedade. A elaboração onírica seria construída para mostrar ao sonhador a angústia gerada pelo encontro com o real. Se algum aspecto da vida desperta não está sendo trabalhado, vivenciado, o sonho vem para compensar esta falta(unilateralidade da consciência) e fazer a pessoa tomar consciência.

As imagens do sonho derivam dos sentimentos que possuímos a respeito de questões de alguma importância para nós. Essas imagens transmitem a fonte e o contexto de tais sentimentos, tanto em relação ao nosso presente, passado e também, muitas vezes, em relação ao nosso futuro. Quando lidas corretamente, essas imagens nos dizem quem somos, ao invés de quem pensamos que somos.

Quando despertos, dificilmente temos uma visão honesta acerca de nós mesmos. Queremos ser sempre os “bonzinhos”, que é um mecanismo de autoproteção. Seres invejosos, avarentos… não condizem com a imagem que temos de nós mesmos. Só que os sonhos não mentem! Os símbolos neles contidos são a expressão real da nossa natureza. Por vezes, até podemos colocar no sonho uma outra pessoa representando determinado papel para aliviar a nossa barra, porém se olharmos atentamente veremos que somos nós mesmos, atuando como outra pessoa.

Por outro lado, os sonhos também costumam apontar para recursos e dotes que possuímos, dos quais estamos inconscientes ou que negligenciamos. O que não percebemos, é que, no sonho, confrontamo-nos com essas verdades, de maneira que possamos nos tornar mais íntegros. A cura começa com a aceitação de que existe para ser curado.

Todos nós temos, mais do que ninguém, capacidade de interpretar os nossos sonhos. Basta estarmos atentos à simbologia neles contidos. Podemos buscar subsídios nos contos de fadas e mitos, de onde advêm os arquétipos. O simples fato de termos uma predisposição para nesse estudo, já nos propiciará uma maior lembrança e entendimento dos sonhos.

A análise dos sonhos nos leva a um reencontro com nossa alma e é, portanto, um convite ao despertar de nossas consciências. Ao encarar de frente nossos limites e transcendendo-os, caminharemos rumo à tão almejada liberdade.


Joviana Lopes


Referências Bibliográficas


Ullman, Montague e Zimmerman, Nan – O Mistério dos Sonhos
Freud, Sigmund – A Interpretação dos Sonhos
Boss, Medard – Na Noite Passada Eu Sonhei


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