2015-03-24

A MEDITAÇÃO NÃO É UMA CRENÇA






"Crenças são como lentes coloridas: estas irão tornar toda a existência da mesma cor de suas lentes. Esta não será a verdadeira cor da existência; será emprestada pelas suas lentes. Você precisa deixar de lado todas suas lentes. Tem que contatar diretamente a realidade, imediatamente. Não deve existir nenhuma idéia entre você e a existência, nenhuma conclusão antecipada.

Um real buscador tem que estar no estado que Dionísio chama de agnosia – um estado de-não-saber. Sócrates disse bem no final de sua vida: “Só sei de uma coisa; que nada sei.” Este o estado de um verdadeiro buscador.

No Oriente chamamos este estado de meditação: nenhuma crença, nenhum pensamento, nenhum desejo, nenhum preconceito, nenhum condicionamento – de fato, nenhuma mente de jeito algum. Um estado de não-mente é meditação. Quando você puder olhar sem nenhuma mente interferindo, distorcendo, interpretando, então você vê a verdade. A verdade já está ao redor; basta você pôr sua mente de lado.

O buscador só precisa preencher uma coisa básica: ele tem que deixar sua mente de lado. Na hora que a mente é deixada de lado, surge um grande silêncio – pois a mente carrega todo seu passado; todas as memórias do passado continuam clamando por sua atenção, vão lhe azucrinando, não deixam nenhum espaço dentro de você.

E a mente também significa futuro. A partir do passado você começa a fantasiar sobre o futuro. Este é uma projeção do passado. Você viveu uma certa vida no passado: aconteceram alguns momentos de alegria e muitas, muitas noites escuras.

Você não queria ter aquelas noites escuras; gostaria de ter seu futuro repleto daqueles alegres momentos. Então você organiza seu passado: você escolhe algumas coisas e as projeta no futuro, e escolhe outras poucas coisas e tenta evitá-las no futuro. Seu futuro nada é senão um passado refinado – um pouquinho modificado aqui e ali, mas ainda o passado, pois é tudo que você conhece.

E uma coisa muito importante para ser lembrado: esses poucos momentos de alegria que você teve no passado eram basicamente parte daquelas longas noites escuras, então se você escolhe estes momentos, aquelas noites escuras virão automaticamente; você não pode evitá-las. Os revestimentos prateados das nuvens escuras não podem ser escolhidos separadamente das nuvens escuras.

Na noite escura você vê o céu repleto de estrelas; durante o dia estas estrelas desaparecem. Você acha que elas evaporaram? Elas ainda estão lá, mas o contexto está faltando. Elas necessitam da escuridão; só assim podem ser vistas. Na noite, você será capaz de vê-las novamente. Quanto mais escura a noite, mais brilhantes são as estrelas.

Na vida tudo está entrelaçado um com o outro. Seus prazeres estão entrelaçados com suas dores, seus êxtases inevitavelmente misturados, inseparável de suas agonias. Assim toda sua idéia de futuro é pura tolice. Você não pode conseguir isso, ninguém nunca conseguiu isso, porque você está tentando fazer algo que não pode ser feito pela própria natureza das coisas. Isso simplesmente será uma repetição de seu passado.

O que quer que você deseje não irá fazer qualquer diferença. Será de novo e novamente uma repetição de seu passado, o mesmo passado, talvez um pouquinho modificado, mas não por causa de suas expectativas – um pouco diferente porque a vida vai mudando, pessoas vão mudando, existência prossegue mudando.

Dessa forma haverá algumas poucas diferenças mas não diferenças básicas, somente nas partes não-essenciais. Essencialmente será a mesma tragédia. Abandonar a mente significa abandonar o passado, e com isso, é claro, o futuro desaparece. Abandonar a mente significa que você subitamente está desperto para o presente, e o presente é a única realidade que existe.

Passado é não-existencial, também o futuro. O passado não é mais, o futuro ainda não é, somente o presente é. Este é sempre agora – só o agora existe. E o meditador começa a fundir-se e dissolver-se no agora.

Osho: I Am That, Chapter

.