Uma humilde homenagem e um breve resumo
*Para muitos pode ser incompreensível a existência de um ser tão magnifíco, mas aqueles que abrem o coração ao grande mistério, recebem seu toque sublime e em algum momento de suas vidas, sentem sua presença amorosa.*
Transcrição do livro Autobiografia de um Yogue:
"Os penhascos do Himalaia ao norte, perto de Badrinarayan, ainda são abençoados pela presença viva de Bábají, guru de Láhiri Mahásaya. O recluso mestre conserva sua forma imortal há séculos, talvez milênios. O imortal Bábají é um avatára, que em sânscrito significa a descida da Divindade.
Um avatar não está sujeito à economia universal; seu corpo puro, visível como imagem de luz, acha-se livre de qualquer dívida com a natureza.
O olhar casual talvez não veja nada de extraordinário na forma de um avatar, mas este não projeta sombra nem deixa qualquer pegada no chão. Estas são provas externas, simbólicas, de se haver liberado interiormente da treva e da escravidão à matéria.
A falta de referência histórica a Bábají não nos deve surpreender.
O grande guru jamais apareceu ostensivamente em qualquer século; o equívoco brilho da publicidade não tem lugar em seus planos milenares.
Semelhante ao Criador, único mas silencioso poder, Bábají opera em humilde anonimato.
Grandes seres como Cristo e Krishna vêm ao mundo com um objetivo específico e espetacular; e partem assim que o realizam.
Outros avatares, como Bábají, incumbem-se de obras relacionadas com o lento progresso evolutivo do homem através dos séculos.
Tais mestres sempre se ocultam ao olhar grosseiro do público e têm o poder de se tornar invisíveis à vontade. Por estas razões, e porque geralmente instruem seus discípulos para que mantenham silêncio a respeito de si, algumas figuras espirituais do mais alto porte permanecem desconhecidas para o mundo.
Este avatar usa geralmente o idioma hindu, mas conversa facilmente em qualquer língua.
O imperecível guru não mostra sinais de idade em seu corpo. Parece um jovem de 25 anos, não mais. De epiderme clara, o belo e vigoroso corpo de Bábají irradia um brilho perceptível. Seus olhos são pretos, serenos e ternos; seu longo e lustroso cabelo é cor de cobre.
Bábají pode ser visto ou reconhecido somente quando assim o deseja.
Sabe-se que ele aparece sob formas pouco diferentes, a vários devotos.
Seu corpo incorruptível não requer alimento; o Mestre por isso raramente come.
Ao visitar discípulos, num gesto de cortesia, aceita ocasionalmente frutas ou arroz cozido em leite e manteiga.
Um ávatar vive no espírito onipresente; para ele não existe distância ao inverso quadrado. Portanto, só um motivo existe para que Bábají conserve sua forma física de século para século: o desejo de dar a humanidade o exemplo concreto de suas próprias possibilidades.
Desde o início Jesus conhecia a sequência de sua vida; percorreu cada etapa não em proveito próprio, devido a qualquer compulsão cármica, mas unicamente para soerguer e alentar os seres dotados de reflexão.
Também para Bábají não há passado, presente e futuro - categorias relativas- pois desde o princípio ele conhecia todas as fases da sua vida.
Bábají foi escolhido por Deus para permanecer em seu corpo, enquanto durar este ciclo do mundo. As eras hão de vir e de findar. O mestre imortal porém, contemplando o drama dos séculos, sempre estará presente no palco terrestre.
Láhiri Mahásaya afirmou, que sempre que se pronuncie com veneração o nome de Bábají, o devoto atrai uma benção espiritual instântanea.
* No primeiro encontro entre Bábají e Láhiri, Bábají prometera que apareceria sempre que Láhiri o chamasse, entretanto, após alguns chamados inesperados, (narrados com humor adorável no livro de Yogananda), Bábají alterou o tom da promessa: "doravante não virei mais sempre que me chamar, mas sempre que "precisar" de mim...."*
Assim foi que pouco depois, numa viagem curta de férias profissionais, Láhiri foi a uma Kumbha Mela (festa espiritual nas ruas; comum na India). Ao vagar entre a multidão de monges e sádhus,notou um asceta coberto de cinza, que segurava uma escudela de mendingo. Em sua mente surgiu o pensamento de que o homem era hipócrita, por usar símbolos exteriores de renúncia, sem a graça interna correspondente.
De repente, seu olhar surpreendido caiu em Bábají, ajoelhado diante de um anacoreta de cabelos emaranhados.
"Senhor, que faz aqui?"
"Estou lavando os pés deste homem de renúncia, e depois lavarei seus utensílios de cozinha. - Respondeu Bábají com um sorriso de criança".
"Compreendi então que me indicava sua vontade de que eu a ninguém criticasse, porém visse o Senhor residindo igualmente em todos os templos-corpos, fossem de homens superiores ou inferiores.
"E acrescentou Bábají, o grande guru: servindo a sádhus ignorantes e sábios, estou aprendendo a maior das virtudes, a que agrada a Deus acima de todas as outras - a humildade".
* Naturalmente que transcrevi aqui apenas um minúsculo resumo, pois na autobiografia encontramos relatos muito mais ricos de cenas esplêndidas sobre Bábají e ainda assim, apenas alguns fatos que ele próprio permitiu - conforme afirma Yogananda - por serem convenientes e úteis à divulgação pública. Mais dados sobre Bábaji voce encontra no próximo link e em "A chave de Kriya".
II
(Trechos transcritos da Autobiografia de um Iogue Paramahansa Yogananda)
O estado espiritual de Bábají está além da compreensão humana. A raquítica visão do homem não pode penetrar através de sua estrela transcendental.
Procura-se em vão imaginar o alcance de um avatar. É inconcebível.
A missão de Bábají na India tem sido a de dar assistência aos profetas na execução das tarefas específicas que a vontade divina lhes atribui.
Qualifica-se assim, como aquele que as Escrituras chamam de Mahávatár (Grande Avatar). Ele afirmou ter dado a iniciação iogue a Shânkara,reorganizador da Ordem dos Swâmis, e a Kabir, famoso mestre medieval.
Seu principal discípulo no século 19, como sabemos, foi Láhiri Mahásaya,que infundiu vida nova à perdida arte de Krya.
Bábají vive em comunhão com Cristo; juntos enviam vibrações redentoras e juntos planejaram a técnica espiritual de salvação para esta época.
O trabalho destes dois mestres completamente iluminados - um com corpo, e o outro sem - é inspirar as nações a renunciarem às guerras, aos ódios de raça, ao sectarismo religioso e ao materialismo, cujos males atuam como bumerangues.
Swâmi Kebalananda, meu santo instrutor de sânscrito, passou algum tempo com Bábají no Himalaia.
" O incomparável mestre move-se com seu grupo, de um lugar a outro nas montanhas - disse-me Kebalananda. - Seu pequeno séquito conta com dois discípulos americanos sumamente adiantados.
Depois de permanecer em certa localidade por algum tempo, Bábají diz: "Dera danda uthao" (levantemos nosso báculo e acampamento).
Ele carrega um danda (báculo de bambu). Suas palavras são o sinal para o grupo mover-se instantaneamente a outro lugar. Nem sempre ele emprega o método de viagem astral; às vezes vai a pé, de cume a cume."
"Conheço dois assombrosos incidentes da vida de Bábají - prosseguiu Kebalananda.
Estavam seus discípulos sentados, certa noite, em torno de uma enorme fogueira que ardia para uma cerimônia védica sagrada. O guru, de súbito, agarrou uma acha incandescente e golpeou de leve o ombro de um chela, próximo ao fogo."
"- Senhor, que crueldade! - Láhiri Mahásaya ali presente, fez esta censura."
"- Voce preferia ve-lo arder até ficar em cinzas, segundo o decreto de seu carma passado?"
"-Com estas palavras, Bábají colocou sua mão curadora sobre o ombro desfigurado do chela:" - Livrei-o esta noite, de uma dolorosa morte. A lei cármica cumpriu-se satisfatóriamente com seu leve sofrimento pelo fogo."
"Em outra ocasião, o santo grupo de Bábají foi perturbado pela chegada de um estranho. Com admirável habilidade, ele escalara os penhascos até a plataforma quase inacessível, próxima ao acampamento do guru."
"- O senhor deve ser o grande Bábají. - O rosto do homem iluminara-se com inexprimível veneração. - Estou à sua procura, sem desistir, durante meses, entre esses rochedos proibitivos. Suplico-lhe, aceite-me como discípulo."
"Como o grande guru não desse resposta, o homem apontou para o abismo revestido de rochas, abaixo da plataforma. - Se recusar, eu me atirarei desta montanha.
A vida não terá mais valor para mim, se não puder obter sua direção espiritual em minha busca de Deus.
"- Então salte - disse Bábají sem emoção. - Não posso aceitá-lo em seu atual estado de desenvolvimento."
"O homem arremessou-se do penhasco imediatamente. Bábají deu instruções aos díscipulos surpresos para trazerem o corpo do desconhecido.
Quando regressaram com a forma destroçada, o mestre colocou a mão sobre o morto. Milagre! ele abriu os olhos e prostrou-se com humildade ante o guru onipotente."
"- Agora voce está pronto para o discipulado. - Bábají sorriu com afeto para o ressucitado chela. - Voce passou corajosamente a difícil prova. (era um teste de obediência. Quando o mestre iluminado ordenou: "salte", o homem obedeceu. Se hesitasse, renegaria sua afirmação de que considerava a vida destituída de valor sem a orientação de Bábají. Por isso, apesar de drástico e invulgar, o teste foi perfeito naquelas circunstâncias.)"
"- A morte não voltará a tocá-lo; agora voce é um dos imortais de nosso rebanho."
" A seguir, pronunciou a costumeira ordem de partida:"Dera danda uthao"; o grupo inteiro sumiu da montanha."
Um avatar vive no Espírito onipresente; para ele não existe distância inversa ao quadrado. Portanto, só um motivo existe para que Bábají conserve sua forma física, de século para século: o desejo de dar à humanidade o exemplo concreto de suas próprias possibilidades. Se ao homem jamais fosse concedido vislumbrar a Divindade revestida de carne, ele permaneceria oprimido pela pesada ilusão (máya) de que não pode transcender sua condição mortal.
(Do Livro Autobiografia de um Iogue)
Aos 33 anos, Láhiri Mahásaya viu cumprir-se o designio para o qual se reencarnara na terra. Encontrou seu grande guru, Bábaji, perto de Ranikhet, no Himalaya e foi por ele iniciado em Kriya Yoga.
O rio celestial de Kriya Yoga começou a fluir das secretas fortalezas do Himalaia para as ressequidas moradas dos homens.
( Nota: Láhiri Mahásaya era funcionário do Departamento de Engenharia Militar do governo inglês em Danapur e recebeu um telegrama da matriz com inesperada transferência para Ranikhet, no Himalaia, distante 800 quilômetros, onde era instalada nova base militar. )
"Meu trabalho burocrático não era absorvente; eu podia passar horas perambulando pelas montanhas.
Durante um passeio a esmo nas primeiras horas da tarde, fiquei assombrado ao ouvir uma voz longínqua chamar pelo meu nome.
Continuei com vivacidade e vigor, minha ascensão ao Monte Drongiri.
Cheguei por fim, a uma pequena clareira, em cujos limites se abria uma pequena fileira de cavernas. Num dos bordos rochosos encontrava-se um rapaz sorridente, com a mão estendida para cima, em gesto de boas-vindas. Notei com espanto que, excetuando seu cabelo cor de cobre, ele mostrava notável semelhança comigo.
-Láhiri, voce chegou!
- O santo dirigia-se a mim afetuosamente em hindi.
- Descanse aqui, nesta caverna. Fui eu quem o chamou.
-Entrei na pequena gruta limpa, contendo diversas mantas de lã e algumas escudelas para água.
- Láhiri, lembra-se deste assento? O iogue apontou para um cobertor dobrado no canto da gruta.
- Não, senhor. - Algo confuso pela estranheza de minha aventura, acrescentei: - Devo ir-me agora, antes do crepúsculo. Tenho o que fazer pela manhã no escritório.
O misterioso santo respondeu em inglês: - O escritório foi trazido para voce e não voce para o escritório.
Emudeci, aturdido por este asceta da floresta não só falar inglês mas também parafresear as palavras de Cristo.
-Vejo que meu telegrama surtiu efeito.
- O comentário do iogue era incompreensível para mim; indaguei o que significava.
- Refiro-me ao telegrama que o trouxe a estas regiões isoladas. Fui eu quem silenciosamente sugeriu à mente de seu chefe esta transferência para Ranikhet. Quando alguém sente a sua unidade com os homens, todas as mentes se convertem em estações transmissoras, através das quais se é possível operar à vontade.
- Ele acrescentou: Láhiri, esta caverna lhe parece familiar, não é?
Enquanto eu permanecia em desnorteado silêncio, o santo aproximou-se e delicadamente golpeou minha testa. Sob esse toque mágico, uma corrente maravilhosa atravessou-me o cérebro, revivendo as doces recordações latentes de minha vida anterior.
- Recordo-me! Minha voz se afogava em soluços de alegria. - O senhor é meu guru Bábaji, que sempre me pertenceu!
Enquanto inefáveis reminiscências me subjugavam, eu, em lágrimas, abraçava os pés de meu mestre.
- Durante mais de tres décadas esperei que voce regressasse a mim!
A voz de Bábaji vibrava de amor celestial.
-Voce deslizou para longe, desaparecendo nas ondas tumultuosas da vida-pós morte. Mas embora voce me perdesse de vista, eu nunca o perdi! Através da escuridão, tempestades, marés e luz eu o segui, como ave materna escoltando o seu filhote. Quando sob a forma de um menino, voce chegou ao término de sua existência intra-uterina, e nasceu para este mundo, meu olhar o acompanhava ainda, sempre.
Quando, em sua infância, voce cobriu com as areias seu diminuto corpo em posição de lotus, eu estava invisível, mas presente. Mes após mes, ano após ano, cheio de paciência zelei por voce, aguardando este dia perfeito. Agora voce está aqui comigo!
- Meu guru, que posso dizer? Onde alguém já soube de semelhante amor imperecível? Extasiado contemplei longamente meu perpétuo tesouro, meu guru na vida e na morte.
- Láhiri, voce necessita de purificação. Beba o óleo desta escudela e deite-se à margem do rio.
Pensei com rápido sorriso de reminiscência, que a sabedoria prática de Bábaji se adiantava sempre, como mastro de proa.
Obedeci às instruções. Embora a fria noite do Himalaia viesse descendo, uma quentura, uma radiação confortadora, começou a pulsar dentro de mim. Maravilhei-me.
Estaria o óleo desconhecido impregnado de calor cósmico?
Muitas horas passaram rapidamente; memórias desvanecidas de uma existência anterior entrelaçavam-se ao atual e brilhante paradigma de reunião com meu divino guru.
Minhas solitárias cismas foram interropidas pelo som de pisadas que se aproximavam. Na treva, gentilmente, a mão de um homem me ajudou a levantar e deu-me alguma roupa seca.
-Venha irmão - disse meu companheiro. - O mestre o espera.
Ao chegar a uma volta do caminho, a noite sombria foi repentinamente iluminada por um esplendor estável na distância.
Será o nascer do sol? - perguntei. - Uma noite inteira já se passou?
- É meia noite. - Meu guia riu suavemente.
- Aquela luminosidade é a cintilação de um palácio de ouro, materializado aqui, esta noite, pelo incomparável Bábaji.
No obscuro passado, voce uma vez expressou o desejo de desfrutar as belezas de um palácio. Nosso mestre está agora satisfazendo esse desejo seu e livrando-o assim do último laço de seu carma. O magnifíco palácio será o cenário de sua iniciação esta noite, em Kriya Yoga. Todos os seus irmãos aqui, se reunem num hino de júbilo pelo fim de seu exílio. Contemple-o!
Erguia-se diante de nós, um vasto palácio de ouro rutilante. Com adornos de incontáveis jóias, situado entre jardins paisagísticos, refletidos em lagoas tranquilas - um espetáculo de beleza ímpar!
Segui meu companheiro até um espaçoso vestíbulo de recepção. Aroma de incenso e rosas flutuava no ar; lâmpadas veladas esparziam um brilho multicolorido. Pequenos grupos de devoltos, alguns de pele clara, outros de epiderme escura, cantavam ou sentavam em silêncio, imersos em íntima paz. Uma alegria vibrante impregnava a atmosfera.
- Olhe e regale-se; desfrute os esplendores artísticos do palácio, pois foi criado exclusivamente em sua honra - comentou meu guia, sorrindo com simpatia às minhas exclamações de assombro.
Irmão - disse eu, a beleza desta estrutura ultrapassa os limites da imaginação humana. Por favor, explique-me o mistério de sua origem.
Os negros olhos de meu companheiro brilhavam de sabedoria.
- Nada existe de inexplicavel acerca desta materialização. O cosmo inteiro é uma projeção do pensamento do Criador. Este pesado torrão de terra, flutuando no espaço, é um sonho de Deus.
Ele extraiu de Sua mente todas as coisas, assim como o homem, durante o sonho, reproduz e infunde vida a um mundo povoado de criaturas. Primeiramente, o Senhor criou a terra no plano da idéia. Insuflou-lhe vida; a energia atômica e depois a matéria passaram a existir. Ele coordenou os átomos da terra de modo a formar uma esfera sólida. A vontade de Deus mantém a coesão de todas as moléculas. Quando Ele retirar Sua vontade, todos os átomos da terra se transformarão em energia. A energia atômica regressará à sua fonte: a Consciência.
A idéia "terra"não mais terá existência objetiva.
A substância de um sonho se mantém materializada graças ao pensamento subsconsciente do sonhador. Quando este pensamento coesivo se retira, porque o homem despertou,o sonho e seus elementos se dissolvem. Um homem dorme e erige uma criação-de sonho que ele desmaterializa sem esforço ao despertar. Imita o exemplo arquetípico de Deus. Assim também, quando acorda para a Consciência Cósmica, ele desmaterializa sem esforço a ilusão que é o universo, sonho-cósmico.
Sintonizado com a infinita Vontade onipotente, Bábaji pode ordenar aos átomos elementares que se combinem e assumam qualquer forma.
Este palácio de ouro, instantaneamente criado, é real - no mesmo sentido em que o nosso planeta é real. Bábaji tirou de sua própria mente esta bela mansão e está mantendo unidos os átomos pelo poder de sua vontade, assim como o pensamento de Deus criou o nosso planeta e Sua vontade o mantém. Quando esta estrutura tiver servido a seu objetivo, Bábaji a desmaterializará.
Quem quer que alcance a consciência e a experiência de filho de Deus, como Bábaji, pode atingir qualquer objetivo com os infinitos poderes dentro de si. Uma pedra contém secretas e estupendas energias atômicas; assim também o mais ínfimo dos mortais é uma central elétrica de divindade.
Nosso grande guru criou este palácio, solidificando miríades de raios cósmicos livres.
Apalpe este vaso e seus diamantes; eles suportam com êxito qualquer teste da experiência sensorial.
Examinei o vaso. Suas jóias eram dignas da coleção de um rei. Deslizei minhas mãos pelas paredes da sala, espessas de ouro reluzente. Grande satisfação mental empolgou-me.
Um desejo, oculto em minha subconsciência desde vidas pretéritas, parecia, simultaneamente, saciar-se e extinguir-se.
Meu sábio companheiro guiou-me, através de arcos e corredores ornamentados, até uma série de câmaras ricamente mobiliadas em estilo de palácio imperial. Penetramos num salão imenso. No centro achava-se um trono de ouro, incrustrado de jóias que emitiam faiscante mistura de cores. Ali, em posição de lótus, sentava-se o supremo Bábaji.
Ajoelhei-me a seus pés, no soalho lustroso.
- Láhiri, voce ainda se regala com seu desejado palácio de ouro?
Os olhos de meu guru cintilavam como suas próprias safiras.
- Acorde! Todos os seus anseios terrenos estão a ponto de extinguir-se para sempre!.
Ele murmurou algumas palavras místicas de benção.
- Levante-se meu filho. Receba sua iniciação no reino de Deus, por meio de Kriya Yoga.
Bábaji estendeu a mão, um fogo de homa (sacrifício) surgiu, cercado de flores e frutas.
Recebi a libertária técnica de ioga em frente a este altar flamejante.
O ritual acabou ao despontar a aurora. Em meu estado de êxtase, não sentia necessidade de dormir.
Vaguei pelas salas do palácio, repleto de tesouros e de requintados objetos de arte, e visitei os jardins.
Entrando de novo no palácio, busquei a presença de meu mestre. Ele ainda achava-se sentado no trono, rodeado de muitos discípulos quietos.
- Láhiri, voce está com fome. Feche os olhos.
Quando os reabri, o palácio encantado e seus jardins haviam desaparecido. Os corpos de Bábaji e de seus discípulos, e o meu próprio, encontravam-se agora todos sentados na terra nua, no lugar exato do palácio esvanecido, não muito longe das aberturas ensolaradas das grutas rochosas.
- O palácio já serviu ao propósito para o qual foi criado. E ergueu do chão um recipiente de barro. - Ponha sua mão aqui e receberá o alimento que desejar.
Toquei a tigela; surgiram pães quentes fritos em manteiga, caril e frustas cristalizadas.
Ao come-los, notei que a tigela continuava sempre cheia. No fim da refeição, olhei em volta, procurando água.
Meu guru apontou para a tigela diante de mim. O alimento sumira; em seu lugar havia água.
- Poucos sabem que o reino de Deus inclui o reino das satisfações mundanas. - observou Bábaji - O reino divino estende-se ao terrestre, mas este, ilusório por natureza, não contém a essência da Realidade.
Bem amado guru, ontem à noite, recebi a prova do vínculo de beleza entre o céu e a terra!
Sorri à recordação do palácio desaparecido. "
*Continuação de O Grande Encontro - narrativa de Láhiri Máhásaya, descrita no livro Autobiografia de um Iogue *
" Serenamente fitei o atual cenário, em absoluto constraste com o anterior.
*materialização do palácio de ouro*
O solo árido, o céu por teto, as cavernas oferecendo abrigo primitivo - tudo parecia formar uma graciosa paisagem natural para os santos seráficos que me rodeavam.
À tarde, estava sentado em minha manta, santificada pelo acúmulo de realizações de existências anteriores, quando meu divino guru aproximou-se e passou a mão sobre minha cabeça.
Entrei no estado de nirbikalpa samádhi, permanecendo ininterruptamente em beatitude durante sete dias.
Cruzando os estratos sucessivos do autoconhecimento, penetrei nos reinos imortais da realidade.
Transcedidas todas as limitações ilusórias, minha alma estabeleceu-se inteiramente no altar do Espírito Cósmico.
No oitavo dia caí aos pés de meu guru e supliquei-lhe que me conservasse sempre junto a si naquele ermo sagrado.
- Meu filho - disse Bábaji abraçando - me - seu papel nesta encarnação deve ser representado aos olhos das multidões.
Abençoado desde antes de seu nascimento, por muitas vidas de meditação solitária, voce deve misturar-se agora ao mundo dos homens.
O fato de voce só me ter encontrado, nesta encarnação, quando já era um homem casado, com família modesta e responsabilidades profissionais, tem um sentido profundo.
Voce deve por de lado essa idéia de reunir-se a nosso grupo secreto no Himalaia.
Voce viverá entre a multidão da cidade para servir de exemplo: símbolo do iogue que é também chefe de família.
Os gritos de muitos homens e mulheres desnorteados neste mundo sensibilizaram os ouvidos das Grandes Almas - prosseguiu ele.
Voce foi o escolhido para brindar consolo espiritual através de Kriya Yoga a numerosas criaturas que buscam Deus sinceramente. A milhões de seres sobrecarregados por laços familiares e pesados deveres mundanos, voce inspirará nova coragem, quando virem em voce um chefe de família como eles.
Nenhuma necessidade o obriga a abandonar o mundo, pois internamente voce já desatou os laços karmicos.
Não sendo deste mundo, nele, entretanto, voce deve permanecer.
Muitos anos ainda decorrerão, em que haverá de cumprir conscienciosamente seus deveres domésticos, profissionais, cívicos e espirituais. Novo e doce alento de divina esperança penetrará nos áridos corações dos homens mundanos.
Eles compreenderão, pelo exemplo de seu equilibrio, que a liberação depende mais de renúncias internas do que externas.
A Kriya Yoga que estou oferecendo ao mundo, por seu intermédio neste século, é um renascimento da mesma ciência que Krishna deu a Arjuna, há milênios; e a que foi posteriormente conhecida por Patânjali e Cristo, e por São João, São Paulo e outros discípulos.
Conceda a chave de Kriya somente a chelas (aprendizes)qualificados - disse Bábaji. - Quem promete sacrificar tudo na busca do Divino, está apto a desvelar os mistérios finais da vida através da ciência da meditação.
- Guru angélico, o senhor já prestou um benefício a humanidade com a ressureição da perdida arte de kriya, não o aumentará abrandando as severas exigências para a aceitação do díscipulo?
Peço-lhe, permita instruir em kriya a todos os que buscam a Deus com sinceridade, mesmo que a princípio, não sejam capazes de devotar-se à completa renúncia interna. Homens e mulheres do mundo, torturados, perseguidos pelo tríplice sofrimento ( *físico, mental, espiritual ) precisam de encorajamento especial.
Talvez nunca tentem caminhar para a liberdade se a iniciação em kriya lhes for vedada.
- Assim seja -respondeu Bábaji. A vontade divina se expressou por seus lábios. Dê Kriya livremente a todos os que humildemente solicitarem auxílio."
Após um silêncio, Bábaji acrescentou: - Repita a cada um de seus discípulos esta soberana promessa do Bhágavad Gíta - até uma pequena prática deste rito, o salvará de um grande temor (os colossais sofrimentos inerentes aos ciclos de nascimento e morte)
* Ainda - segundo narrado por Paramahansa Yogananda - "Bábaji, compassivo, prometeu assumir responsabilidade, vida após vida, pelo bem-estar espiritual de todos os kriya yogis devotos e leais que fôssem iniciados por instrutores devidamente autorizados."
Láhiri Máhasaya multiplicou essa promessa de Bábaji, com amor, afinco e dedicação. E através de Yogananda a Kriya foi trazida ao ocidente, possibilitando seu acesso a inúmeras pessoas de todos os credos e nacionalidades .
- OM BABAJI OM! OM LAHIRI OM!
"Quando eu abandonar o mundo, este livro mudará a vida de milhões"
Após a primeira publicação de sua Autobiografia em 1946, Paramahansa Yogananda a revisou por inteiro e publicou uma versão final e completa em 1951, pouco antes de seu mahasamadhi em março de 1952. Em suas revisões finais, ele acrescentou incontáveis novos relatos, incluindo um último capítulo, como se estivesse a despedir-se do palco terrestre. E de fato, como previra, desde então este clássico espiritual vem mudando a vida de milhões, sendo permanentemente reimpresso pela Self-Realization Fellowship com tradução para 26 idiomas.
Best-seller consecutivo atravessando as décadas, a Autobiografia de um Iogue foi considerada com toda justiça, uma das obras espirituais mais influentes do século XX, e, ao que tudo indica, repetirá o feito no século XXI.
Pessoas de todos os credos, profissões e raças, testemunham ao longo dos anos, o quanto ampliaram suas percepções da vida e do universo espiritual, após o contato com este livro de Paramahansa Yogananda. Filiando-se ou não, à sua organização monástica, (SRF), praticando ou não, as técnicas de meditação ensinadas por ele, a unanimidade é geral : todos são tocados de uma maneira impactante desde as primeiras páginas do livro, que desperta um sentimento de amorosidade, entendimento, esperança e fé singulares. Mesmo céticos e ateus ao concluirem a leitura, sentem-se motivados a reverem conceitos, tamanha a surpresa diante de tanta sabedoria que descortina os mais complexos mistérios, em tom espirituoso, alegre e de fácil compreensão.
Um Divisor de Águas
Mais do que uma obra de raro teor espiritual, a Autobiografia de um Iogue torna-se um livro querido e considerado sagrado para muitos, o divisor de águas, o marco para transformações irreversíveis.
A partir daí um hábito se desenvolve: o livro passa a ser presenteado ou recomendado à todos que cruzam o caminho de seus leitores, sejam familiares, amigos ou simples conhecidos. E estes por sua vez, repetem o processo gerando uma reação em cadeia. Conserva-se o primeiro exemplar quase como uma relíquia, se emprestamos logo queremos de volta, até que para não mais emprestá-lo, (sob o risco de não ser devolvido), passamos a comprar vários exemplares para presentear.
Aos que se perguntam o que leva esta obra a ser tão amada, é simples explicar. Próximo ao fim de sua jornada terrena, quando perguntaram à Paramahansa Yogananda porque sua autobiografia tocava tanto as pessoas, ele respondeu :
" Porque meu espírito está neste livro "
É seu espírito apaixonado por Deus, vivo e luminoso, que sentimos nos conduzir de mãos dadas ao passeio por sua vida repleta de narrações inusitadas desde a infância, até seus dias finais em 1951, pouco antes de abandonar o templo físico.
Você está convidado a conhecer nas páginas seguintes, um pouco sobre a história deste best-seller, onde esperamos que sua alma possa sentir o toque amoroso do iluminado mestre.
Jai Yoganandaji!
FONTE: http://www.almasdivinas.com.br/autobiografia_de_um_iogue.htm