2012-03-07
Poder e vida
A simplicidade do Médium Divino desarticulava a arrogância dos presunçosos, que se atribuíam direitos a privilégios e considerações.
Ele amava o povo, que lhe constituía a razão de haver mergulhado no corpo, a fim de o erguer à Realidade Última. Este amor era luz e a luz era Ele.
Terminando de espraiar-se em ondas de ternura nos corações ávidos de consolo, Dele se aproximou um triunfador terreno e exorou:
— Que é o poder? Qual o verdadeiro, que projeta o homem na direção da sua plenitude?
Havia um honesto interesse na indagação. Graças a isto, o Libertador respondeu:
“ — O verdadeiro poder é aquele que se irradia em vibrações de paz, irrigando a vida com amor.
O que se caracteriza pela suavidade da sua força; que se deixa conduzir por toda parte sem causar preocupação nem temor; que oferece confiança e concede proteção; que está presente e não ostentação; é natural, porque se conhece, resistindo a todas as investidas do mal através da não-violência.
No mundo, o poder corrompe vidas, envenena almas, dilacera sentimentos, entorpece o caráter, macula as virtudes.
Quando atinge, contamina, terminando por vitimar aquele que o utiliza, quase sempre desordenadamente.
Apresenta-se no disfarce da beleza, da fortuna, da sociedade, da política, da cultura vaidosa, da religião temerária.
Com a facilidade que alça ao pináculo da glória, da fama, da dominação, conduz ao corredor sombrio e estreito da loucura, do abandono, do crime e da morte.
O poder humano, considerado e temido, é névoa que o calor do tempo dilui. Consiste em um empréstimo-provação das Soberanas Leis, para ser usado de forma edificante na construção do progresso e na sustentação das vidas.
Os seus usuários, entretanto, raramente utilizam-no com sabedoria, sucumbindo sob a sua tormentosa constrição.
O homem que realmente pode, é aquele que se domina, sem aos outros submeter; que se supera, sem aos demais vencer; que se liberta, a todos oferecendo campo para a própria ventura.
O único poder real é Deus. Transitórios, são todos os demais, que resultam da ilusão de amealhar, de dispor de servidores e áulicos, de soldados e bajuladores, pois que a morte a todos vencerá, igualando-os na horizontal do túmulo.
O poder do Espírito sobre si mesmo, haurido na meditação, na prece, na ação do bem, na auto-eliminação, é o que nunca se perde, nem se decompõe, nem aflige.
O poder moral, este sim, fomenta Vida.”
De A Um passo da imortalidade,
de Divaldo P. Franco,
pelo Espírito Eros