2013-07-08

A Beleza Que Transcende o Pensamento e o Sentimento








Não há criação quando não há amor. Para nós, o amor é uma coisa estranha.

Vocês dividiram o amor em paixão, concupiscência, amor carnal e amor divino, amor da família, amor da pátria, e continuam por aí além a dividi-lo e tornar a dividir. E na divisão, há contradição, conflito e sofrimento.

O amor, para a maioria de nós, é paixão, concupiscência; e neste próprio processo de identificação com outro há contradição, conflito, e o começo do sofrimento.

E, para nós, o amor se extingue. O fumo (criado por esse processo) — o ciúme, o ódio, a inveja, a cobiça — destrói a chama. Mas onde está o amor, aí está a beleza e a paixão.

Vocês devem ter paixão, mas não a traduzam prontamente esta palavra em “paixão sexual”. Por “paixão” entendo a “paixão de intensidade”, essa energia que prontamente percebe as coisas, claramente, ardentemente.

Sem paixão, não há austeridade.

A austeridade não é mera renúncia, nem o possuir restrito, ou autocontrole, pois tudo isso é sem importância, insignificante.

A austeridade vem com o desprendimento, e no desprendimento, há paixão e, por conseguinte, beleza. Não a beleza criada pelo homem; não a beleza artística, embora eu não queira dizer que aí não haja beleza. Mas refiro-me a uma beleza que transcende o pensamento e o sentimento.

E esta só pode surgir quando há alta sensibilidade intelectual, bem como corpórea e mental.

E não pode haver sensibilidade dessa natureza e qualidade quando não há completo desprendimento, quando o intelecto não está se abandonando inteiramente à totalidade daquilo que a mente percebe. Porque só com esse abandono há paixão. 



Krishnamurti - Paris, 24 de setembro de 1961