Vale uma séria reflexão!
O SER ADOECIDO – A INFÂNCIA PERDIDA
Fiquei extremamente chocado com um vídeo que recebi de uma prima e de uma amiga.
No citado, uma menina de cerca de seis anos discursa de forma extremamente lúcida para seus pais a necessidade dos mesmos de manterem um mínimo de civilidade no que resta do relacionamento.
Com uma dialética difícil de se ver em adultos, expõe uma percepção de que é somente com um movimento autoritário e com um mínimo de respeito pelo outro que torna-se possível o diálogo.
Em seguida ela amplia a percepção para o mundo e evoca a tolerância e a o amor como possíveis formas de reparação. Não parece-me um vídeo forjado diante da fluidez do pensamento exposto pela menina.
Sua clareza é sólida e cristalina. Um ponto em especial chama-me a atenção quando ela menciona não tratar-se de uma bronca, e sim de uma tentativa sua de ser mais compreensiva com seus pais.
Como assim? Ela deve ser compreensiva com seus pais?
O fenômeno da “adultilização” da infância tão bem exposto por Neil Postman em seu “O Desaparecimento da Infância” parece encaixar-se perfeitamente aqui.
Diante da imaturidade dos pais esta menina precisa “se fazer para sobreviver” como nos mostrava Winnicott (Donald Woods Winnicott, psicanalista e pediatra inglês).
Um falso-self com o único intuito de “dar conta” da vida diante de pais e mães ineficientes.
Françoise Dolto (pediatra e psicanalista francesa) nos alertava para a intelectualização da criança como defesa diante de sua percepção de abandono.
Enquanto papais e mamães narcísicos hoje vangloriam-se por filhos supostamente “gênios”, na verdade estamos diante de uma doente criança que tem de abdicar de sua infância e todas as etapas necessárias para um mínimo desenvolvimento saudável (seja lá o que isso for) de psique.
A linguagem articulada é como uma faca, uma arma diante destes outros que são chamados a suas funções.
A inversão de papéis é talvez uma das mais terríveis imposições disfuncionais à infância. Freud já nos mostrava que filhos amam seus pais de forma diferente da que os pais amam filhos.
Estes últimos amam narcisticamente realizando-se na figura da prole. E filhos amam os pais pelos que eles podem lhes dar. Não falo de bens materiais, mas sim de afeto, cuidado e esteio.
A ampliação para o mundo das exigências feitas pela menina, somente mostra o quanto sua realidade percebida contamina a tudo e a todos.
O mundo torna-se igual ao conflito vigente da relação triádica.
Resta a essa menina a intelectualização e o controle (vide a “bronca” anunciada) como uma tentativa relacional, nem que para isso morra seu self, sua infância e seu futuro.
Texto: André Marroig
OBS: O vídeo fora contribuição de minha amiga Aurea Campopiano Acerenza Gonzalez e de minha prima Telma Marroig.
Vídeo:
https://www.facebook.com/1522637937976868/videos/1529272450646750/
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